Casa, Rio de Janeiro
Procura-se Rosa Mara desesperadamente
Temos uma hóspede nova, Jacqueline, uma francesa que esteve viajando pelo Brasil nas últimas semanas. Ela já é avó, mas é muito mais descolada que muitos hospedes com metade da idade, que praticamente precisavam de ajuda para atravessar a rua. Amante de chá, ela quase me excomungou por esquentar minha água no micro-ondas...
Eu não sei porquê, mas no Brasil a experiência de pegar um ônibus, seja urbano ou inter municipal, é sempre uma aventura. Na rodoviária de BH, nossa intrépida exploradora gálica foi abordada por uma senhora, que pediu encarecidamente que ela levasse um envelope (contendo um histórico escolar, 1a a 5a série, concluídas em 1981, de uma certa Rosa Mara Angelo dos Santos) até a rodoviária do Rio, onde um parente estaria a sua espera. Por quê esta tarefa foi delegada à uma francesa de 60 anos que mal fala português (ao inves de, prex., usar o correio) eu não faço ideia.
O ônibus, porém, atrasou. Chegou depois do ônibus seguinte da mesma companhia. Houve um desencontro, e depois de procurar por seu contato (não especificado) por vários minutos, a Jacqueline desistiu e pegou um taxi. Ela chegou aqui sem saber direito o que tinha acontecido, com o tal histórico escolar num envelope onde estavam escritos o nome de uma cidade (Nova Iguaçu), dois nomes próprios e um número de telefone. A minha missão, caso eu decidisse aceita-la, era localizar a misteriosa Rosa Mara, e lhe entregar o documento, tão obviamente vital.
Se fosse fácil demais não teria graça. O telefone (sem DDD) no envelope não existe no Rio, e BH caí na Rádio Cidade. Os nomes (Hayla e Marcio Francisco, além da titular Rosa Mara, e o de seus pais) tampouco constavam na lista telefônica. Segundo o Google, Marcio Franciso havia sido aprovado em 2003 para o cargo de merendeiro em Niteroi, mas não havia nenhum numero ou endereço de contato.
Examinado o histórico, dava para ver, bem apagado, o carimbo da escola onde Rosa Mara havia estudado (a E.E. "Ari de Franca"). Rapidamente obtive um número de telefone no Google, e liguei.
Não, a escola não tinha o registro atualizado de Rosa Mara. Mas o documento é recente, argumentei. Ele foi emitido em maio de 2006. Será que a pessoa responsável por este tipo de coisa não se lembraria de algo? A secretária Joana foi prontamente localizada, e posta na linha. Sim, ela se lembrava. A mãe de Rosa Mara havia requisitado o documento, meses atrás. Joana não a conhecia pessoalmente, mas um jardineiro que trabalhava na escola conhecia a família. Ela se comprometeu a transmitir ao jardineiro uma mensagem para a família: Havia um estranho no Rio de Janeiro (telefone anexo), de posse do documento que provavelmente julgavam já ter se tornado um souvenir cercado de mistério em Paris.
Os canais de comunicação da família Angelo dos Santos foram ativados. Hoje de noite recebi a ligação de um primo de Rosa Mara. Educadamente, ele se desculpou pela confusão e a agradeceu os meus esforços (nunca me diverti tanto!). Finalmente, me deu o telefone do misterioso Marcio Francisco, aqui no Rio. Liguei para ele, atendeu Hayla. Marcio é um guarda municipal, poderia passar aqui em casa e pegar o documento. E assim foi feito. Há 30 minutos, Rosa Mara ligou. Marcio estava na portaria do prédio ao lado (me enganei de prédio! Dei o endereço antigo, por sorte é logo ao lado). Desci para encontrar um homem alto, negro, cerca de 35 anos de idade, que novamente me agradeceu e ofereceu votos de retornar o favor, e levou embora o histórico escolar de Rosa Mara.
Para quem estiver interessado em mais causos de ônibus,