terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Enquanto isso, na Terra Média

"Alguem tem uma poção de cura?"


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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Casa, BH
Post reciclado

Parafraseando William Shatner. Tenho que... Ir DORMIR. agooora.

Então me limito a reciclar dois comentários que fiz no blog do Pedro Dória, sobre Islã, Islamismo e suicídios pessoais e nacionais.

Semana passada um mané se explodiu em uma padaria em Eilat, Israel, matando três pessoas que estavam no local. Israel desta vez preferiu não reagir (já que no momento os grupos terroristas palestinos parecem perfeitamente capazes de se matar mutuamente sem ajuda externa). Na internet porém o pau (como sempre) comeu solto, com os argumentos de sempre. Alguns destes argumentos eu já lí, em várias variações e permutações, inúmeras vezes, e sempre me incomodaram; não só porque acho que estão errados, mas porque se baseiam em premissas que eu considero um tanto repelentes.

Sempre me irrito quando alguem afirma (ou parece afirmar) que bombardeios suicidas são uma consequência lógica da opressão ou ocupação do povo do suicida pelo povo das vítimas. O problema aí não é necessariamente que a opressão/ocupação não exista, mas sim que não há um raciocínio lógico ou imperativo estratégico que comece com 'estou sendo oprimido' e termine com 'logo, vou matar algumas pessoas randômicas'.

Isto me lembra um episodio do South Park. Ume pedófilo é preso pela polícia e começa a falar de todas as supostas virtudes do amor entre homens e meninos, e porque ele não devia ir preso, que seus sentimentos eram puros, etc. E o Kyle responde ´Vcs fazem sexo com crianças!´. O cara continua a falar da pureza dos seus sentimentos, que ele sofreu abuso quando era criança, etc. E o Kyle retruca: ´Vcs. Fazem. Sexo. Com. Crianças.´

Semana passada um cara entrou em uma padaria e se explodiu, matando três pessoas aleatórias. É só isso. Alguns anos atrás um tal de Baruch Goldstein entrou em uma mesquita em Hebron e metralhou duzias de palestinos enquanto rezavam. Tenho certeza que em algum lugar da internet existem longas justificativas, desculpas e tengiversações sobre o ato, que mencionam o Holocausto, o massacre de 1929 e o terrorismo palestino. E daí? As atrocidades cometidas pelos dois montes de estrume supracitados não são a conseqüência inescapável do seu suposto sofrimento, mas sim o resultado de escolhas concientes, inspiradas por ideologias doentias que tem tanto a ver com o Islã ou o Judaismo quanto queimar bruxas ou cometer genocidio industrial são característica intrinsecamente cristãs ou alemãs.

No caso palestino, a ocupação certamente torna o ambiente mais propício para atos violentos, mas por sí só isto não é explicação nem suficiente nem estritamente necessária para os bombardeiros suicidas. Os palestinos viveram por 30 anos sob ocupação e sem suicidas explosivos. De fato, a maior parte dos povos que vivem sob ocupação ou são oprimidos nunca fez uso desta tática. Só quando entra em cena o islamismo radical (ou seus equivalentes) é que maximizar vítimas civis do outro lado se torna ao mesmo tempo tática e objetivo. Viver sobre ocupação certamente torna tais ideologias mais atraentes, mas não era este o caso dos ataques no metrô de Londres (no ano passado), ou em uma mesquita Xiita no Paquistão (na semana passada), ou até mesmo, estritamente falando, deste ultimo ataque palestino.

Cometer atrocidades é sempre uma escolha, que pode até parecer mais tentadora, mas não ser explicada (ou pior, justificada) pelos atos dos outros. Ataques suicidas contra civis são escolhas conscientes baseados em ideologias doentias. Afinal de contas, qual ocupação explica o que o Baruch Goldstein fez?


Também me incomodam generalizações histéricas sobre uma suposta propensão ao terrorismo do Islã em geral. Não só porque as acho incorretas, mas também porque são injustas para com todos os muçulmanos que eu já conheci pessoalmente, que são gente boa ou ruim, chata ou interessante, na mesma proporção que qualquer outro grupo de seres humanos, e não merecem ser tratados como potenciais psicopatas devido a religião que praticam.

Os assassinos, uma seita bizarra que vivia nas montanhas da Síria na época das cruzadas, costumam ser apontados como uma inspiração para os terroristas islâmicos atuais. Mas os Hashishin eram a dissidência da dissidência (ismaelita) da dissidência (xiita). Os seus ataques suicidas foram um fenómeno isolado na historia islâmica, até recentemente, e eram vistos com horror pelos muçulmanos da época. O islã tem sim uma longa tradição de celebrar o martírio (e.g. o festival da Ashura que está rolando entre os xiitas hoje), mas que é entendido como morrer lutando em nome da fé. Suicídio e vingança indiscriminada são adições posteriores.

O fundamentalismo atual, apesar do nome, é uma invenção moderna, assim como o é o concomitante culto da morte (a morte como sacramento) que dá origem aos homens-bomba. A Al Qaeda é uma combinação do atavismo Wahabi (e dobandi, ambos datando do século XVIII) com a militância anti-ocidental do Qutb e do Banna (respectivamente inspirador e fundador da Irmandade Muçulmana) surgida no inicio do Sec. XX. O fundamentalismo xiita se baseia no governo por jurisprudência criado pelo Khomeini, e no messianismo que espera o retorno do Mahdi a qualquer momento. Ambos os movimentos importaram do ocidente o conceito de governo totalitário e o anti semitismo do estilo Protocolos dos Sábios de Sião.

Obviamente a maior parte dos muçulmanos tem mais o que fazer. Os fundamentalistas tem conseguido avanços importantes nos anos recentes entre os muçulmanos, mas é errado tratar uma patologia ideológica de origem relativamente recente (e comparável à patologias semelhantes em outras religiões ou culturas) como algo intrínsico ao Islã.

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