domingo, 31 de outubro de 2004

Bruno & Ceci bed & breakfast, Rio de Janeiro

Tenho uma confissão a fazer. Estou obcecado com a eleição americana...

Como o resto do mundo civilizado, eu acho o GWB uma desgraça. O que eu não consigo entender é porque metade dos EUA não compartilha desta opinião. Talvez porque eles achem que ADM foram achadas no Iraque, que o Saddam é responsavel pelo 11 de set., que o mundo ama o Bush e que o Bush apoia o tratado de Quioto e a Corte internacional de justiça (sério! Parece que não é só a mente de GWB que tem um contato tênue com a realidade.)

Se o problema se limitasse a um presidente imbecil que levou as finanças de seu pais para um buraco e rebaixou o nivel do discurso politico para o subsolo, eu poderia me limitar a uma certa simpatia abstrata pelos EUA (algo como um Zimbabwe gigante). Infelizmente, por ação ou inação, as decisões do dito imbecil afetam o mundo todo. E quase tudo o que ele fez ou deixou de fazer contribuiu para tornar o mundo inteiro menos seguro e mais violento. Eu não tenho dúvida que GWB e OBL se odeiam com todas as forças (não importa o que o Micheal Moore diga). Mas a verdade é que eles vivem em simbiose. Bush não seria mais que um acidente eleitoral de mandato único se não fosse OBL. E OBL não seria visto por muitas das suas vítimas em potencial os como um ´defensor dos [insira seu grupo de muçulmanos oprimidos favorito]´ se Bush não usasse sua presidencia para sublimar seus traumas de infância.

A tragedia é que o mundo realmente precisa combater o totalitarismo islâmico e seus representantes. Mas, chame isto de guerra ou não, o campo de batalhas deste conflito é o das ideias. E para ganharmos, muita gente (e não só nos EUA e no mundo islâmico) vai ter que parar de repetir slogans vazios e efetivamente começar a pensar por conta própria.

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quinta-feira, 28 de outubro de 2004

Casa, Rio de Janeiro

Primeiro post desde a morte do meu avô. Fim de semana passado voltei para BH para a missa de
7o dia. O meu tio Demostenes (que é padre (e que sempre chamamos de tio Demo)) oficializou. Eu, meu irmão e meu pai fomos nomeados voluntários para ler trechos da Bilbia. Segundo o meu primo, eu soava como um locutor do Discovery channel.

No dia da missa, de manhã, tinha ido com o Fernando e a Mariana na escavação arqueologica que o André e o Alastair estão comandando em Sabará. É a segunda vez que vou. Da primeira, fiquei responsavel por uma quadra de 1mx1m que era cortada por um muro (muito capenga) antigo. Desta vez, a Mary & Fernando ficaram com um quadrado, enquanto eu peneirava e subia no pé de jabuticaba.

O processo de escavação é sistemativo. A posição da quadra é demarcada com um teodolito. Raspamos o seu interior com uma pá de pedreiro, até atingir os limites de um contexto (i.e., uma pedaço de um estrato produzido em alguma circunstancia temporal ou espacial comum; muros, pisos, tipos diferentes de terra, etc. separam contextos diferentes). Qualquer coisa de origem antropogênica é guardada em um saco especifico da quadra e do contexto (a terra retirada é peneirada para garantir que nada importante seja descartado). Os achados são então lavados, esfregados e classificados. Os resultados são anotados em planilhas, que são então ponderadas por alguns individuos exóticos. Tais individuos então escrevem artigos/livros/teses explicando o que pedaços de cerâmica e osso, quando inseridos no contexto (semanticamente falando) apropriado, nos dizem sobre quem vivia alí, o que faziam, pensavam e comiam, e quais criaturas monstruosas antidiluvianas esperam no fundo do oceano pelo alinhamento estelar que anuncia o fim do mundo-tal-como-conhecemos(r).

A parte da escavação parece simples, mas é preciso ter cuidado para saber identificar os contextos (e não mistura-los) e não deixar passar nenhum caquinho (e fazer isso da forma mais rapida possivel). A parte das criaturas antidiluvianas subaquaticas demanda um pouco mais de experiencia.

Eu gostei muito de escavar. É dificil descrever a emoção de descobrir em um buraco no chão um caco de ceramica (que em outro contexto (semântico!) seria bastante ordinario), sabendo que o respectivo contexto (físico!) é delimitado pelo piso de um casebre de função ignorada. Claro que um observador desavisado só veria um maluco sorridente coberto de poeira raspando cuidadosamente a terra enquando junta caquinhos amorfos em um saquinho. Falta-lhe o contexto...

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quarta-feira, 13 de outubro de 2004

Casa, BH

Meu avô Cilas morreu ontem de noite. Ele estava na UTI após desmaiar na fazenda da minha tia, mas após dois dias parecia bem, falante e inquieto. Eu fui visita-lo sabado de manha; o Roca foi a tarde. Algumas horas depois o pulmão não conseguia mais bombear oxigenio suficiente devido a uma embolia, e ele morreu.

O meu avô adorava inventar engenhocas, contar estorias e piadas infames. Cada canto da casa dele tem alguma coisa que ele construiu ou modificou, uma especie de museu do Professor Pardal. Portas e portões automaticos, arvores com topologia não-trivial, uma cadeira articulada inimitavel, um pegador automatico de goiabas, e a passagem secreta ocasional. Como ele era *muito* bom em trabalhar com madeira, quase tudo é de pinho de Riga (i.e., Estonia. É a mesma arvore que dá aqui no Brasil, mas por lá a madeira ganha veios claros e escuros alternados)

Quando eu era pequeno, ele era o adulto mais interessante que conhecia. Uma cabana tosca que construimos nos fundos da fazenda se transformava em um posto avançado na selva profunda. Sua oficina/deposito continha os segredos da Vida, o Universo e tudo o Mais. E foi no seu Doge brontossaurico que o Paulinho aprendeu (sem que sua mãe soubesse) a dirigir. Eu, meu irmão e meus primos eramos, e ainda somos, loucos com ele.

Chegamos no hospital pouco depois das 11 da noite de ontem. Com algumas poucas horas de sono fomos para o velorio, que durou o dia inteiro para que toda a familia & amigos se reunisse. O enterro foi no final da tarde. Não houve ultimas palavras, e fico feliz por isso. Qualquer coisa que se dissese naquela hora seria redundante, ou dispensavel. Nós nos lembramos, e isso basta.

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