quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Casa, Rio de Janeiro
Procura-se Rosa Mara desesperadamente

Temos uma hóspede nova, Jacqueline, uma francesa que esteve viajando pelo Brasil nas últimas semanas. Ela já é avó, mas é muito mais descolada que muitos hospedes com metade da idade, que praticamente precisavam de ajuda para atravessar a rua. Amante de chá, ela quase me excomungou por esquentar minha água no micro-ondas...

Eu não sei porquê, mas no Brasil a experiência de pegar um ônibus, seja urbano ou inter municipal, é sempre uma aventura. Na rodoviária de BH, nossa intrépida exploradora gálica foi abordada por uma senhora, que pediu encarecidamente que ela levasse um envelope (contendo um histórico escolar, 1a a 5a série, concluídas em 1981, de uma certa Rosa Mara Angelo dos Santos) até a rodoviária do Rio, onde um parente estaria a sua espera. Por quê esta tarefa foi delegada à uma francesa de 60 anos que mal fala português (ao inves de, prex., usar o correio) eu não faço ideia.

O ônibus, porém, atrasou. Chegou depois do ônibus seguinte da mesma companhia. Houve um desencontro, e depois de procurar por seu contato (não especificado) por vários minutos, a Jacqueline desistiu e pegou um taxi. Ela chegou aqui sem saber direito o que tinha acontecido, com o tal histórico escolar num envelope onde estavam escritos o nome de uma cidade (Nova Iguaçu), dois nomes próprios e um número de telefone. A minha missão, caso eu decidisse aceita-la, era localizar a misteriosa Rosa Mara, e lhe entregar o documento, tão obviamente vital.

Se fosse fácil demais não teria graça. O telefone (sem DDD) no envelope não existe no Rio, e BH caí na Rádio Cidade. Os nomes (Hayla e Marcio Francisco, além da titular Rosa Mara, e o de seus pais) tampouco constavam na lista telefônica. Segundo o Google, Marcio Franciso havia sido aprovado em 2003 para o cargo de merendeiro em Niteroi, mas não havia nenhum numero ou endereço de contato.

Examinado o histórico, dava para ver, bem apagado, o carimbo da escola onde Rosa Mara havia estudado (a E.E. "Ari de Franca"). Rapidamente obtive um número de telefone no Google, e liguei.

Não, a escola não tinha o registro atualizado de Rosa Mara. Mas o documento é recente, argumentei. Ele foi emitido em maio de 2006. Será que a pessoa responsável por este tipo de coisa não se lembraria de algo? A secretária Joana foi prontamente localizada, e posta na linha. Sim, ela se lembrava. A mãe de Rosa Mara havia requisitado o documento, meses atrás. Joana não a conhecia pessoalmente, mas um jardineiro que trabalhava na escola conhecia a família. Ela se comprometeu a transmitir ao jardineiro uma mensagem para a família: Havia um estranho no Rio de Janeiro (telefone anexo), de posse do documento que provavelmente julgavam já ter se tornado um souvenir cercado de mistério em Paris.

Os canais de comunicação da família Angelo dos Santos foram ativados. Hoje de noite recebi a ligação de um primo de Rosa Mara. Educadamente, ele se desculpou pela confusão e a agradeceu os meus esforços (nunca me diverti tanto!). Finalmente, me deu o telefone do misterioso Marcio Francisco, aqui no Rio. Liguei para ele, atendeu Hayla. Marcio é um guarda municipal, poderia passar aqui em casa e pegar o documento. E assim foi feito. Há 30 minutos, Rosa Mara ligou. Marcio estava na portaria do prédio ao lado (me enganei de prédio! Dei o endereço antigo, por sorte é logo ao lado). Desci para encontrar um homem alto, negro, cerca de 35 anos de idade, que novamente me agradeceu e ofereceu votos de retornar o favor, e levou embora o histórico escolar de Rosa Mara.



Para quem estiver interessado em mais causos de ônibus,

Eu escrevi o texto abaixo para a Pendragão (um lista no yahoogroups criada pelo Zecão) uns três anos atrás, depois de outra viagem igualmente bizarra.

Yo!

Estou de volta no Rio. Fiz uma viagem horrenda de ônibus (comum), mas que não deixou de ser interessante. Não sei por que, as vezes me sinto um para raio de malucos. Já sentei do lado de uma freira que achava quadrinhos coisa do demonio, de um pastor americano que achava que *fisica* é coisa do demonio, além de todo tipo de pessoa
mal-cheirosa/barulhenta/chata. Mas desta vez foi pior.

Começou logo na saída. Uma velhinha e seu filho (tb já avançado em anos) começaram a conversar. Tudo bem, nada de mais. Mas a conversa continuou por horas, quase metade da viagem! Coisas do tipo...

A Mariazinha (que é casada com o Josué) não conversa mais com a Lígia (irmã do Heitor), porque a dona Ana (Mãe da Maria) expulsou o Juca (amigo do Heitor) de casa quando este terminou o noivado com a Albertina (afilhada de dona Ana). Mas dizem as mas linguas que...


Finalmente, depois de nos informar de todas as novidades em Cafundó do Mato Fundo, e das andanças de toda a arvore geneaologica dos Zé Goiaba de Almeida, eles cairam no sono, e se limitaram a roncar.

Enquanto isso, um velhinho que já não parecia muito normal começou a surtar (ele queria viajar de graça, e depois de finalmente comprar a passagem perguntou se o onibus ia para Curitiba). Ele dizia, em um tom fúnebre: "Vcs tão vendo o que eles querem fazer comigo!", e em seguida "O motorista quer me matar!", como quem anuncia um oraculo. O dia já ia amanhecendo, e depois que ninguem se protificou a salva-lo do motorista, o velhinho tentou primeiro pular do onibus (sendo agarrado por um
passageiro) e segurar o volante (sendo agarrado por *vários* passageiros, que provavelmente queriam tornar a sua profecia verdadeira). Entre gritos e mordidas, ele foi entregue a policia rodoviaria, que todos sabemos é subordinada aos Illuminati da Bavaria...

Depois de um engarrafamento basico de 2 horas, finalmente chegamos na Rodoviaria. Peguei um onibus para Botafogo, e me sentei na esperança de recuperar algum sono perdido. O motorista tinha métodos pouco ortodoxos de conduzir, porém. Enquanto viajava a uma fração consideravel da velocidade da luz (os carros a frente ficavam azuis, os de trás vermelhos), ele gritava "ALGUEM VAI FICAR NO CATUMBI?". Na falta de quem se manifestasse, ele passava zunindo pelo ponto. Alguns pontos depois nós passageiros já tinhamos entrado na onda, e respodiamos com um coro de NÃO!. Até que uma mulher se atreveu a descer em Laranjeiras (recebendo um coro de AAAAAAHHHHs como resposta), e a coisa perdeu a graça.

Agora que dormi 12 horas estou bem. Depois mando mais noticias.

[]s Bruno

2 comentários:

Zecao disse...

Bruno. eu contei este seu caso do onibus numa mesa de bar e um cara recem conhecido duvidou que eu falava a verdade!!!

Todos me defenderam pelo menos. :-)

|3run0 disse...

hehe, Zecão, o mundo é um lugar muito mais bizarro do que supões a vã filosofia desse cara