segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Casa, Rio de Janeiro
(Patrulha da madrugada)

Quando eu trabalho madrugada afora meus habitos alimentares são iguais os de uma mulher grávida. Combinada à ansia de comer coisas bizarras (quanto mais pesado melhor), tenho uma completa falta de saco para preparar algo que não saia direto de uma lata, ou possa ser picado e jogado em uma frigideira rapidamente. (estou craque em picar coisas; antes achava que picar umas cebolas era trabalhoso, hoje pico cebolas, pimentões, descasco alho e fatio bacon a jato sem nem pensar muito) .

O resultado são receitas que cairiam bem no 'Cthulhu's High Fat Content Cookbook'. Como já disse, não me levanto da cadeira se não estou tomado por uma fome avassaladora só aplacavel por algo substancioso. E.g.:

- Leite condensado com canela (Ovomaltine opcional) e noz moscada, esquentado no microondas
- Ovo de codorna com maionese
- Bacon e banana, fritos e temperados com páprica
- Batatas e cebolas assadas, com manteiga (de ervas se estiver com saco)

Mas minha refeição notívaga mais tradicional é a famosa 'fritada *.*', que consiste do que estiver na geladeira temperado com o que me vier a telha. Geralmente inclui cebola e alho. Se disponiveis, também coloco pimentão, tomates, aipo, salsinha, cebolinha e ervas que estiverem a mão. A carne normalmente é bacon, mas também pode ser linguiça, toucinho, ou iscas de qualquer vertebrado infeliz o suficiente para parar na minha geladeira. O tempero pode variar de um curry da hora (cardamono, anis, açafrão, semente de mostarda, coentro, gengibre, feno grego, etc) até um centro-europeu meio mambembe (páprica, erva doce, kummel, etc). Pimenta! Mas o que determina a cara do prato é o que coloco no final. Ovos, para um gosmelete; farinha e ovos para uma farofa; creme de leite para um stranhonoff; manteiga e queijo para sei lá o quê.

O limite é a imaginação. O fundamental é que seja a) pesado, e b) temperado.

Também faço um patê (que inventei quando tinha 7 anos e é conhecido com o 'patê do Bruno' na minha familia do lado de mãe até hoje), que é trivial de fazer (duh! Alguem esperava confit de pato com demi-glacê de framboesas aos 7!?).

=> Em um liquidificador, misture atum, cebola e maionese. Adicione salsa e cebolinha picadas.

Gosto de temperar com pimenta do reino (em grão inteiros) e noz moscada. Eu como litros desse patê com pão ou batata assada.

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Quanto a guerra, ela entrou na fase final. O rearranjo estratégico final vai depender de forma crucial do que acontecer no cenário politico interno do Libano depois do cessar fogo. O grande momento do Nasrallah chegou e passou a cerca de uma semana atras; depois disso a guerra para o HA se tornou uma questão de sobreviver e durar até a ONU impor um cessar fogo. Ao mesmo tempo, é imperativo para o HA provar para o mundo que não está fora de combate. Israel por outro lado não foi capaz de aniquilar o HA, e é improvavel que o faça até o final do conflito.

A coisa pode se complicar novamente se a resolução do conselho de segurança da ONU for lida como uma derrota clara de um dos lados (a última versão que está sendo discutida é bem ruim para o HA, mas não invoca o capítulo 7 da carta, que permite a imposição de sanções). Se o HA se negar a aceitar a resolução (e o governo nominal do Líbano é refem da ameaça implicita de guerra civil), Israel pode querer descarregar o onus moral de ser a parte interessada na continuação do conflito nas costas do Nasrallah, e tentar extender a campanha por mais algumas semanas para obter uma vitoria militar esmagadora. Eu não sei se a 'comunidade internacional'* vai aceitar esta inversão de papeis (porque na verdade é do interesse do HA um fim da guerra para ontem), mas possivelmente isso vai extender o conflito por pelo menos mais uma semana.

O pior cenário é um final inconclusivo, que leve a uma retomada (ou mais provavelmente um replay) do conflito daqui a alguns meses ou anos.

Essencialmente, o que está em jogo nesta guerra é: a) O status final do HA no contexto libanês (taticamente o HA foi moido, mas não arrasado; politicamente é dificil dizer ainda); b) O fator dissuasivo do poderio bélico israelense; e c) A capacidade do Irã de estabelecer sua influencia no mundo árabe. Ainda não há um lado claramente vitorioso, mas o Líbano é claramente o lado perdedor.


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* Adoro a hipocrisia desta expressão. Dá a entender que alguem vai perguntar aos representantes de Malawi ou do Laos o que eles acham da situação.

Um comentário:

Zecao disse...

Bruno. Vc é mesmo uma peça rara !!!

Adorei o post!