domingo, 17 de abril de 2016

Casa, Rio de Janeiro
A república das bolhas

Grupo resolveu jogar volei no muro instalado para separar manifestantes pró e contra o impeachment na esplanada dos ministérios, em Brasilia.

Quando Lula saiu da presidência, em 2010, tinha uns 85% de aprovação. Atualmente, Dilma tem perto de 85% de reprovação. Ambos os índices me parecem amplamente merecidos. Porém, tenho a impressão que o debate político hoje é, se não conduzido, pelo menos pautado pela briga de foice entre os 15% que desaprovavam Lula em 2010 contra os 15% que aprovam a Dilma em 2016.

Esta polarização, cujas causas incluem a mediocridade das lideranças políticas e a dinâmica emergente das redes sociais que promove a formação de bolhas ideológicas, é ruim para o debate e ruim para a democracia. Mas isto não significa que o potencial de distribuir o debate oferecido pela internet seja de todo desperdiçado. Para quem está disposto a abrir mão do barato dopaminérgico resultante da certeza moral no combate contra as forças da escuridão, ainda é possível encontrar discussões civilizadas e pontos de vista originais. Deste debate, acho, estão surgindo alguns consensos e quase consensos, insuspeitos por aqueles que passam o dia a encaminhar memes simplistas no Facebook e a denunciar inimigos da pátria no Twitter.


Pouca gente seriamente discorda que o Eduardo Cunha é um picareta que merece estar no Papuda e não no parlamento; que a corrupção é generalizada e não limitada a um partido ou matiz ideológico; que o Governo Dilma foi desastroso mas que a oposição oscilou entre o patético e o obstrucionismo tacanho, e que o PMDB seria oportunisticamente situacionista com qualquer governo viável no espectro político entre Pol Pot e Pinochet. A crise é vista como o resultado da falência generalizada da classe política; mesmo os ideólogos não se dão ao trabalho de defender o seu lado, se limitando a afirmar que o outro é pior. Ninguém parece ser pro-Temer ou por-Dilma, mas as defesas do menos pior se multiplicam.

Me parece ainda que uma maioria substancial mas não avassaladora achou indigesta a nomeação do Lula para o ministério, mas concorda que a liberação das escutas pelo Juiz Moro foi uma ato político que extrapolou suas atribuições; que a justificava do pedido de impeachment baseado em pedaladas em 2015 é fraca, mas que o governo Dilma na prática acabou. Que a compra de deputados no varejão de cargos e verbas é uma pratica corrupta mesmo se não estritamente ilegal, mas que um processo de impeachment conduzido por um bandido como o Eduardo Cunha tem uma séria falta de credibilidade.

Apesar disso, o que vimos hoje na maratona de logorreia no plenário do congresso, e veremos amanhã (hoje) nas ruas é só a polarização mais obtusa. Mas na segunda (ou quando o senado acatar o pedido de abertura, se for o caso), o pais continuara sendo governado por um partido envolvido em corrupção em uma escala épica. A Dilma não se tornará competente, nem Temer terá legitimidade eleitoral. O PT não vai aprender autocrítica e o PMDB não vai deixar de ser fisiológico. E o Cunha vai continuar esquentando cadeira na presidência da câmara e não na cadeia.

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