segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Hotel Boa Esperança, Florestal
Que Mundo Maravilhoso!

Estou aqui em um hotel fazenda com a família da Ceci, para o Ano Novo. O lugar é muito agradável, a comida é boa e os funcionários são extremamente simpáticos. Mas cuidar do Gabriel full time em um lugar desses cansa pacas, e tivemos poucas oportunidades de fazer coisas mais fazendíssicas.

O lugar tem o seu charme. Existe um lago logo em frente aos nossos quarto, habitado por gansos, patos e capivaras (e formigas!). O Gabriel gosta de passear pelo gramado em frente, e se diverte perseguindo as pobres aves até as margens da água.

Como eu disse, a comida é boa, e extremamente mineira. Durante o jantar dois violeiros bastante competentes se apresentam com um repertório um tanto eclético. O mais velho não só se parece com o Louis Armstrong, como também consegue imitar brilhantemente a sua voz ao cantar 'What a Wonderful World'. Infelizmente suas habilidades linguísticas ficam bem aquém de seus dotes musicais. Imagine uma voz com o timbre do LA, acompanhada de um elegante dedilhado de violão, cantando:

"Aize feuds af grreem
redouses tuuu
Aize embroom
fo miniou
anadink tuu mizell
what a wonderfl wrld...
aidinj tuu mizell
what a wonderfl wrld...

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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Casa, Rio de Janeiro
Dia da independência

Hoje, muito ironicamente, é o dia da independencia do Líbano. É irônico porque o país nunca conseguiu escapar da sina de ser joguete e campo de batalha por procuração de seus vizinhos e quase-vizinhos. Hoje ele se encontra em uma encruzilhada, que pode leva-lo de volta ao, ou livrá-lo de vez do, sufocante abraço da Siria.

O bicho está pegando por lá. Essencialmente, os dois lados em que o pais se dividiu, conhecidos como 14 de Março (apoiados pelos EUA, França e Arabia Saudita) e 8 de Março (apoiado pelo Irã e pela Siria) não se entendem sobre a eleição do presidente do pais. O atual, Emille Lahoud, é um pau mandado sírio, e foi a extensão do seu mandato passando por cima da constituição local, que levou o ex-premiê Hafik Hariri a romper com Damasco. Os sirios controlavam o pais então, e não gostaram muito da ideia. Rafik Hariri foi vaporizado em uma enorme explosão no centro de Beirute poucos meses depois. Credito extra para quem adivinhar por quem.

O atentado galvanizou o pais. Uma mobilização popular sem precendentes (com alguma ajuda dos amigos*) pegou os sírios de surpresa, e os forçou a retirar suas tropas de ocupação. Desde então, para encurtar (e simplificar quase ao ponto de fábula) a história, o pais se dividiu entre anti-sirios e pró-sirios. Esta divisão, e todas as ramificações bizantinas dela decorrentes, é a mola mestra da historia recente do Líbano. A guerra do Hizbollah contra Israel, por exemplo, faz muito mais sentido neste contexto do que puramente no contexto do conflito arabe-israelense (c.f. meus posts anteriores sobre o assunto).

Algum dia Amanhã eu termino este post.
_______________________
* Em particular os americanos, cuja presença no vizinho Iraque, armados até os dentes e liderados por um presidente com fama de psicopata, provavelmente fez os baathistas em Damasco meditarem sobre o destino dos baathistas em Bagdá. Os sauditas, principais aliados dos Hariris, também não ficaram muito felizes, e ninguem gosta de irritar os sauditas.

PS: Caralho! Mataram a Benazir Bhutto!

RAWALPINDI, Pakistan (CNN) -- Former Pakistan Prime Minister Benazir Bhutto was assassinated Thursday outside a large gathering of her supporters where a suicide bomber also killed at least 14 of her supporters, doctors and a spokesman for her party said.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Casa, Rio de Janeiro
Enfim, doutor

defesa_tese3-1Defendi...

Agora sou doutor. Vou dizer para o Gabriel me chamar de Dr. Papai.

É difícil descrever o que estou sentindo. Acho que ainda não assimilei tudo, é como se descobrir um dia 20 quilos mais leve.

A defesa correu muito bem. Falei bem como a muito tempo não falava, e a banca (acho) gostou muito da tese; não só por terem elogiado, mas por ficarem efetivamente entusiasmados com alguns dos resultados que eu mostrei.

UPDATE: A tese, online
UPDATE2: Agora com repercursão internacional ;-)

Vale a pena neste momento levantar minha genealogia acadêmica [1,2]. Sou

Bruno Mota (2007),
aluno de
Marcelo José Rebouças (1981),
aluno de
Mario Novello (1972),
aluno de
Josef Maria Jauch (1940),
aluno de

Edward Hill (1928),
aluno de

John Hasbrouck Van Vleck (1922 e prêmio Nobel em 1977),
aluno de
Edwin Crawford Kemble (1917),
aluno de
Percy Williams Bridgman (1908, e prêmio Nobel em 1946),
aluno de
Wallace Clement Sabine (1888),
aluno de
John Trowbridge (1873)

A historia termina (ou começa) com John Trowbridge, um cara que revolucionou o ensino de física em Harvard, e aparentemente não teve orientador. O seu aluno, Wallace Clement Sabine, fundou o campo de acústica arquitetonica (!) e, embora extremamente popular, nunca recebeu um doutorado formal.

Percy Williams Bridgman foi meu primeiro antepassado a receber um doutorado (em Harvard), e o primeiro prêmio Nobel. Ele estudou os efeitos da alta pressão em materiais e a sua respectiva termodnâmica. Se suicidou com um tiro quando sofria de uma doença terminal, e sua nota de suicídio, dizendo "It isn't decent for society to make a man do this thing himself. Probably this is the last day I will be able to do it myself.", passou a ser citada tanto por oponentes quando defensores da eutanásia.

Edwin Crawford Kemble começou a trabalhar com a física dita moderna (e teórica), em uma época em que as universidades americanas de ponta estavam em um processo de transição entre um enfoque quase exclusivo em física experimental, para um enfoque mais teórico.

John Hasbrouck Van Vleck foi o segundo laureado com o Nobel, por suas contribuições à teoria do eletromagnetismo. Saiu de Harvard para ensinar na universidade de Minnesota em Minneapolis, que formou todos os meus antepassados não-brasileiros desde então.

Em tempos mais modernos, Edward Lee Hill trabalhou sem aparente distinção em física quântica. Joseph Maria Jauch ficou famoso por seus estudos dos fundamentos filosóficos e axiomáticos da teoria quântica. A cosmologia só surgiu na minha arvore genealógica com o Mario Novello, um dos grandes cosmólogos do país, que orientou o Marcelo, meu orientador, que foi um dos pioneiros da topologia cósmica por aqui. E eu sou eu. Saber de onde viemos é importante para decidir para onde vamos. Neste sentido, é impressionante a variedade de tópicos pesquisados por meus antepassados nestes últimos 134 anos.

Eu, meu orientador e a banca


sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Defesa

Doutorado

Detecção e detectabilidade em topologia cósmica

Local: CBPF - Auditório do 6º andar - 15 horas
Início: 22/10/2007
Fim: 22/10/2007

Candidato:
Bruno Coelho César Mota

Banca examinadora:
Prof. Marcelo José Rebouças - Presidente/Orientador - CBPF
Prof. Carlos Augusto Romero Filho - UFPB
Prof. Ioav Waga - UFRJ
Prof. Antonio Fernandes da Fonseca Teixeira - CBPF
Prof. Nelson Pinto Neto - CBPF
Prof. Sérgio José Barbosa Duarte - Suplente - CBPF

domingo, 14 de outubro de 2007

Casa do cunhado, Barueri
Groundhog night

Estou em Barueri, onde mora o irmão da Ceci (Alexandre) com a esposa (Flávia) e filho (João, que está fazendo dois anos, e é a razão principal da visita). Eles moram em um agradável porém ridiculamente pacato condomínio fechado, então não posso dizer que estou convivendo com culturas exóticas e situações extremas. Tentando na medida do possível remediar tamanha paz, resolvi ontem sair para passear (a pé) por volta das 3 da madrugada. No Rio, onde é tranquilo de noite não é seguro, e onde é seguro de noite não é tranquilo; então posso dizer que estou aproveitando uma oportunidade única de ter tranquilidade e segurança em um passeio insone. Talvez felizmente, isto soa melhor em um blog do que em uma brochura turística.

De qualquer maneira, o passeio ontem foi agradável. Uma das facetas da placidez local é que todas as ruas tem nomes de pássaros e são praticamente indistinguíveis. Assim, obviamente, após vagar por cerca de meia hora, eu estava vagamente perdido. Por sorte, atraí as suspeitas de um segurança de carro, que após passar por mim várias vezes em baixíssima velocidade, finalmente parou e me interpolou.

´Não, eu não sou morador.´
´Sou hospede, mas não sei exatamente onde.´
´É uma rua com nome de pássaro (duh!). Colibrí ou algo assim.´

Eu tenho um certo talento para fazer coisas absolutamente inocentes em circunstâncias que levantariam suspeitas em qualquer pessoa com alguma imaginação ou acesso à televisão (´passeio noturno´? ´folha de bananeira´? Espera até o Capitão Nacimento ouvir isto). Obviamente o guarda foi descobrir quem diabos era este tal ´Alexandre´ (eu sei o sobrenome, pelo menos). Imaginei o dito cujo sendo acordado pelo telefone as 3:30 da matina com perguntas sobre um certo Bruno, o Andarilho. Imaginei também a sua concomitante e potencialmente irresistível tentação de dizer - ´Bruno? Nunca ouví falar...´

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sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Hotel Hardman, João Pessoa
Vida de Hobbit


Estou a três dias aqui em João Pessoa, onde ocorre o 3o IWARA, em um hotel com o improvável nome de 'Hardman'. Em todos os aspectos, esta está sendo um congresso melhor que o Partículas e Campos. Academicamente, um encontro menor permite uma maior interação com os demais participantes, a comida é melhor e mais diferente, e, finalmente, ao contrário da pasmaceira de Aguas de Lindoia, estou aqui a poucos passos da praia, e a alguns quarteirões de barraquinhas de camarão e outros petiscos. Finalmente, apesar de comer muito (em volume e frequência), não tive até agora nenhum problema, afora o ocasional campo escalar gastrointestinal. A pizza em AdL é por enquanto somente uma triste e distante memória.

Os seminários foram em geral muito bons, com alguns excelentes. Porém, assim como no IWARA anterior, certos tópicos são apresentados de forma excessivamente remota ou insular, e alguns seminaristas são preguiçosos demais para valerem a pena. Nesta última categoria, incluo alguns com um inglês macarrônico demais ('nau ui uíu prêsenti aur rêsultis uitchi xôu the iuniverse iz noti ax-selerátim in the Ruble diagram'), ou cuja apresentação só pode ser entendida por quem lê mentes ('No problema do confinamento de quarks/energia escura/relatório do mensalão usamos o formalismo TKGU para derivar a equação de Tchulambisky segundo o método de Crapoviski & Chuchubilinski. Introduzindo uma parametrização HFM, ajustamos os 15 parâmetros livres aos 4 pontos experimentais, para mostrar que a equação de estado/curva de luz/careca do Marcos Valério é crescente/decrescente/continua a mesma').

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sábado, 29 de setembro de 2007

Ônibus, BH
Programa de milhas rodoviárias

Estou no ônibus para o aeroporto, de onde pego um voo para o Rio. Estou aproveitando um wi-fi aberto dando sopa na vizinhança; mas fico também muito feliz de este ser o último ônibus que vou pegar por um bom tempo. Mais ainda, acho que o estado de São Paulo devia criar um programa de milhagem rodoviária. De terça até ontem, fiz de ônibus Rio-Campinas-[várias cidades do interior paulista]-Lindoia-Aguas de Lindoia-[outras cidades do interior paulista]-São Paulo-BH. Acho que vale um trecho grátis Jundiaí-Piracicaba.

UPDATE: Fiz um mapa com as paradas. A ida em azul, e a volta em vermelho.

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quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Rodoviaria, São Paulo
O roteiro das rodoviárias

Cheguei finalmente aqui em SP, em conexão para BH. Haviam me dito que a viagem de Águas de Lindoia até aqui demorava 2 horas. Suponho que demore, se o ónibus não fizer um tour pelo circuito das cidades ordinárias com nomes indígenas. Passei quatro horas me extasiando com a arquitetura das rodoviárias de cidades notáveis pela sua falta de característica notáveis, e dobrando o meu vocabulário em Tupí-Guaraní. Finalmente em Sampa as 10:30, tentei falar com o Fernando, com quem havia combinado de sair ´por volta das oito´. Argh... É o último congresso que vou em Águas de Lindoia. Vc perde um dia inteiro para ir para, e outro para voltar de, um nada no meio do nada.

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Rodoviaria, Aguas de Lindoia
Pé na estrada

No post anterior eu disse onde estava, mas não por quê. Estive aqui
para o XXVIII Encontro Nacional de Física de Partículas e Campos.
Cheguei aqui na terça de manhã, após ir (de onibus) do Rio para Campinas, de Campinas para Lindoia, e de Lindoia para Aguas de Lindoia. Estava, obviamente, destruido (na noite seguinte, dormi quase 12 horas seguidas). Não ví nenhum seminário particularmente interessante no primeiro dia (mas é difícil saber o quanto isto se deve ao meu estado morto-vivo), mas encontrei algumas pessoas que valem a
pena.

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terça-feira, 25 de setembro de 2007

Hotel Majestic, Aguas de Lindoia
De bicicleta para a fama

Domingo passado fiz um almoço para o Bernardo, Carla e Júlia, que voltaram recentemente de Londres, para a Naira, e que contou com uma participação especial da Suzana, Carlos, Luquinha e Lulu. Fiz quase o mesmo menu do jantar na casa da Mari, exceto pela falta do risoto e acréscimo do crepe de nutela com calda de laranja (havia feito crepes no sábado tb).

Após acordar, tomar café e reassumir a minha condição de ser humano, saí de bicicleta com o Gabriel para dar uma volta na Lagoa e comprar os ingredientes. Era uma dia tranquilo, e fiquei só ligeiramente surpreso quando vi um jogo de baseball em curso perto do corte do Cantagalo. Fiquei um pouco mais surpreso com dois hoplitas, muito bem paramentados com couraças, elmos crinados, escudos estampados com górgonas e lanças, treinando na grama ao lado da ciclovia. Inevitavelmente, parei para perguntar o que diabos era aquilo, meio esperando ser chutado lagoa adentro por um dos hoplitas aos gritos de 'This is Espaaartaaaaaa!!!!'.

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sábado, 1 de setembro de 2007

Gerador de escudo, Lua florestal de Endor
Star Wars Simpsons

Fantástico! Agradecimentos ao Luiz Pimenta


(Rich Cando)

UPDATE: Segundo o youtube, This video is no longer available due to a copyright claim by Twentieth Century Fox. Que coisa estúpida! Em primeiro lugar, isto não é verdade (paródias são explicitamente permitidas pela doutrina de fair use; ninguem pensa em proibir o Spaceballs, e os Simpsons certamente usam e abusam do gênero). Além disso, um video destes é um comercial pro-bono de alta qualidade para dois franchises da Fox! Não é a toa que a industria de 'entretenimento' está enfrentando problemas, pois ela é claramente liderada por imbecis.

UPDATE2: Achei um link que ainda funciona. Vamos ver quanto tempo dura.

UPDATE3: O plantão do ml42 informa: O Pavarotti morreu. Não fui eu, tenho um álibi!

UPDATE4: Minesweeper the Movie
Brilhante!

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Casa, BH
Gone, but not forgotten

Eu já estudei ou visitei alguns departamentos acadêmicos excelentes. Encontrei pesquisa de qualidade, bons professores, equipamentos de ponta, localizações paradisíacas. Mas em termos de pura classe, nenhum supera a física da UFMG. Sexta passada fui ver um seminário (pré-defesa) da Mariana Malard. E foi com grata surpresa que me deparei não só com uma palestra sobre os modelos de Heisenberg e sigma não-linear, mas também com um verdadeiro convescote ocorrendo em paralelo dentro da sala de seminários. Entre um gole e outro de cerveja, os presentes faziam comentários pertinentes, enquanto circulavam biscoitos e salgadinhos.

Qualidade acadêmica pode ser atingida com alguns esforço. Mas classe é algo inato.

Depois do seminário, fomos para a casa da Mari, e eu e o Pará fizemos um jantar discente decente (porque não só de Elma Chips vive o ser humano). Quando as receber postarei as fotos.

UPDATE: Graças ao Pará (nos comentários), clique abaixo para as fotos

Mortos e feridos II
O famoso monte Mauna Homer. No momento da foto, já se ouviam os ruídos do fluxo piroclástico
Não tiramos fotos da comida, mas a cozinha parecia Nova Orleans pós-Katrina
Enquanto meditávamos na sala, a Mari deu um jeito na cozinha

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terça-feira, 14 de agosto de 2007

Casa, Rio de Janeiro
Mais comida


Hoje resolvi fazer um jantar para comemorar o fim iminente da tese. Meu plano original era chamar a comunidade mineira expatriada (CME), mais a Naira (de SP, que se mudou para cá após ser contratada pela Petrobrás), e Vital & Vanilson, que estão hospedados por aqui. A CME, porém, está quase toda viajando (expatriados em segunda ordem?), e só o Thiago pode comparecer.

De qualquer maneira, acabei fazendo mais pratos que o de costume, e a comida saiu tarde (+-11:20), mas acho que ficou bom. O filé com molho e gnocchi de abóbora, em particular, é uma combinação que pretendo repetir. Finalmente, tanto no risoto quanto no gnocchi, troquei o queijo parmesão por pecorino (de ovelha).

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terça-feira, 7 de agosto de 2007

Casa, Rio de Janeiro
Introdução II

Clique aqui para ler a parte I

Eis a segunda parte da introdução. Fernando e Anon, me digam se ainda fica a impressão que manifestaram. Note que estou agora focalizando o problema da topologia cósmica, mas só disse em linhas gerais quais serão os tópicos abordados na tese. Só na parte III (amanhã?) eu apresento as questões que vamos de fato investigar.




Atualmente, existem fortes razões para acreditar que o universo é, em grandes escalas, aproximadamente igual em todos os pontos, e em todas as direções, e bem descrito pela teoria da relatividade geral de Einstein. Neste contexto, a geometria das seções espaciais do espaço-tempo admite diversas topologias diferentes. É muito comum pressupor que esta topologia é sempre a mais simples possível (onde por exemplo toda curva fechada pode ser sempre contraída em um ponto). Mas não há nenhum imperativo observacional ou teórico para tal hipótese. Sabemos que a relatividade, apesar de todos os seus triunfos, também tem limitações. Em particular, como uma teoria geométrica local, ela não fixa como o espaço se conecta globalmente, o que é uma maneira coloquial de dizer que a relatividade determina localmente a geometria, mas não a topologia. Mais do que uma limitação, este fato indica que a topologia cósmica é, possivelmente, a janela para alguma teoria mais fundamental capaz de fixá-la. Em termos observacionais quantitativos, a presença de uma topologia não-trivial para o universo não seria particularmente importante. Mas a sua existência, e natureza exata, seriam as primeiras evidências diretas de uma física transelativística. A questão que se impõe é portanto: o que sabemos, ou podemos descobrir por observações, sobre a topologia cósmica? É uma questão que deve levar em consideração uma característica do estudo do universo como um todo.

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Casa, Rio de Janeiro
Introdução I

Johannes Kepler, quando descobriu as leis do movimento elíptico dos planetas que hoje levam o seu nome, provavelmente já sabia da sua natureza revolucionária. A primeira vista, trocar órbitas circulares por órbitas elípticas pouco excêntricas poderia parecer um ligeiro aprimoramento nos detalhes de uma teoria bem-sucedida. Mas isto representava uma quebra fundamental do paradigma que afirmava ser o movimento dos corpos celestes perfeito (i.e., circular) e imutável, e intrinsecamente diferente dos imperfeitos e transientes movimentos na Terra. Mesmo após a sua contestação por Copérnico, o modelo Ptolomaico, com suas inúmeras categorias de movimentos circulares sobrepostos, era geralmente visto com entusiasmo, como a mais perfeita e precisa descrição do cosmos.

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domingo, 5 de agosto de 2007

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Casa, Hogsmeade
Harry Potter and the Deathly Hallows

Acabo de ler o último Harry Potter. É de longe o mais sombrio dos livros, e o único que escapa da fórmula 'ano escolar em Hogwarts'. 'Deathly Hallows' chega algumas vezes quase a transcender as limitações do gênero, mas no final ainda é um livro de HP, com tudo que isto implica de bom e de ruim. Como nos outros livros, seu ponto mais forte são os personagens, por quem a Rowling consegue induzir uma empatia as vezes quase patológica. E o personagem mais interessante, como convém à um livro de mistério, é um morto: Albus Dumbledore vai se revelando muito mais complexo do que o Merlin cover sub-Gandalfiano dos primeiros livros; O Snape, por outro lado, não aparece muito por cerca de 600 páginas, mas justifica a ausencia com um capítulo (de revisão?) que é um dos pontos altos do livro.

O ponto mais fraco do DH, novamente de forma típica, são as tentativas deliberadas de construir uma mitologia, que são em geral forçadas e necessitam de blocos enormes de texto expositivo (e de muito magicbabble) para serem explicadas. A mitologia acidental e incidental, por outro lado, continua deliciosa. A trama consiste essencialmente de Harry, Ron e Hermione fugindo das forças Valdemortianas, enquanto procuram por MacGuffins diversos (e não, embora o terceiro filme tenha sido dirigido pelo Alfonso Cuarón, eles não pegam um carro e viajam ao longo da costa mexicana). O clímax é uma batalha final em e por Hogwarts, na qual a contagem de corpos e de páginas dedicadas à infodumps expositivos é considerável.

No todo, gostei bastante (com algumas ressalvas), embora seja ainda cedo para dizer se será o meu favorito entre os sete. É, porém, sem dúvida um fim apropriado para uma série em que personagens, leitores e autora cresceram juntos.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Casa, BH
Nada para fazer

Hoje, agora, pela primeira vez em quase seis anos, não há nada que eu devia estar fazendo. Necas.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Casa, Rio de Janeiro
Crimes contra a humanidade

Inspirado por este comentário, me lembrei da abominação abaixo. Eu gosto muito de Star Trek, mas coisas deste gênero provavelmente são proibidas pela convenção de Genebra.




Neste outro clip, por outro lado, a auto-paródia é voluntária.

Finalmente, uma receita que alegrou minha madrugada:

Abra uma lata de ervilhas e outra de milho verde, que vc achou no fundo do armário da dispensa. Despeje metades iguais na única vazilha não suja disponível. Adicione os seguintes codimentos, convenientemente localizados na bancada da cozinha: Sal, pimenta do reino, oregano, cominho e tomilho. Regue com azeite. Deixe descansando, enquanto coloca uma cabeça de alho em forno baixo. Assista um episódio de Law & Order: Special Victims Unit. Assim que o policial durão-mas-de-coração-mole alcançar a redençao ao resgatar o bebê do laboratório de extasy, retire o alho do forno, e esprema sobre a entidade culinária descrita acima. Coma de frente para a TV, a tempo de ver a avó chorosa receber o neto das mãos do policial que fora incapaz de salvar sua filha. Enxugue uma lágrima, se for o caso, e volte para o computador para postar no blo^R^R^R trabalhar na tese.

Obviamente, comentaristas gastronômicos poderiam comentar "hmm, um pouco de rúcula cairia bem", ou "croutons dariam uma textura adicional interessante". Ao que eu responderia: EU NÃO TENHO RÜCULA, CROUTONS OU UM REDUÇÃO DEMI_GLACÊ AQUI EM CASA, E AS DUAS DA MANHÃ NÃO TENHO SACO DE FAZER ALGO QUE PRECISE DE MAIS DE 2 MINUTOS OU 5 NEURÔNIOS!. De qualquer maneira, ficou bom.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Casa, Rio de Janeiro
Suicídio nacional

O único conflito no Oriente Médio no qual uma vitória completa é absolutamente necessária é o do meio contra os extremos. É um conflito que existe dentro de Israel, da Palestina, do Iraque e do Líbano. Em Israel e no Líbano, o ‘meio’ ainda tem alguma chance, mas na Palestina e no Iraque os extremos estão levando todas. No final das contas, ficar discutindo de quem é a culpa em um detalhismo barroco é o menos importante. Uma condição necessária para o surgimento de uma Palestina independente é a existência um projeto nacional, com uma liderança capaz de resolver diferenças internas por meios outros que não a tiros, e com a capacidade de governar um país. Ao invés disso temos uma guerra entre gangsters do Fatah e psicopatas do Hamas, foguetinhos e imbecis autodetonantes usados como um meio de obter apoio interno (terror populista?), a ausencia de qualquer liderança plausível capaz de agir com os interesses nacionais palestinos em mente, e a erosão, contínua e provavelmente intencional, de todas as instituições que poderiam servir de arcabouço para construir uma Palestina independente.

Condições necessárias e suficientes para uma Palestina independente são i) projeto nacional, ii) paz com Israel e o iii) fim da ocupação. O item i), se já existiu, agora é uma piada de mal gosto. O item ii) é uma perspectiva cada vez mais distante, ao qual o Hamas se opõe sob quaisquer circunstâncias razoáveis, o que torna iii) uma causa perdida. Podemos ficar discutindo qual parcela de culpa cabe a Israel, aos EUA, a Siria ou aos Klingons, mas só os palestinos podem cometer suicídio nacional, e é aparentemente o que eles estão fazendo com grande entusiasmo.





PS: O post acima é uma adaptação de um comentário que escrevi no blog do Pedro Doria. Estou sem tempo para blogar decentemente. Mas para confirmar que desgraça gosta de companhia, pelo menos no Oriente Médio, noto de passagem que islamistas (provavelmente controlados ou estimulados pela Siria) em um campo de refugiados palestinos no norte do Líbano estão lutando faz 3 semanas contra o exército libanês; enquanto isso um outro parlamentar anti-síria foi assassinado (junto com outras 9 pessoas) ontem em Beirute. No Iraque, alguém (provavelmente Al Qaeda) explodiu os minaretes da mesquita em Samarra (onde estão enterrados dois dos imãs xiitas), cuja destruição parcial ano passado iniciou a pior onda de violência sectária no Iraque desde a invasão americana. Uma guerra entre Siria e Israel parece provável neste verão, e a Turquia ameaça invadir o norte do Iraque depois do recrudescimento dos ataques terroristas do PKK. Irã e EUA continuam se encarando no golfo pérsico.

PS: Eis um blog de um jornalista que está em Gaza [não o Alan Johntson ;-) ]
PS2: Why there is no Palestine
PS3: A análise da situação por meu amigo palestino no Canadá.
PS4: Uma reporter israelense em Ramallah (na Cisjordânia)

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Casa, Rio de Janeiro
Civilidade urbana é...



Uma campanha pelo xingamento solidário em Copacabana.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Casa, BH
09-f9-11-02-9d-74-e3-5b-d8-41-56-c5-63-56-88-c0

A indústria de entretenimento (para usar o termo americano) me lembra um pouco aqueles povos primitivos que tentavam espantar eclipses solares com chocalhos. Da mesma maneira, tentar sustentar na base do litígio um modelo de negócios falido baseado em conteúdo digital em um mundo onde informação é disseminada quase instantaneamente pela Internet é tão patético que quase dá dó.

Um hacker conseguiu descobrir a chave (supostamente inviolável) do sistema de DRM (=digital rights management, um eufemismo para proteção contra cópias e outros usos, legítimos ou não) usado no HD-DVD e Blu-Ray, os sucessores do DVD. A chave de 128 bits acima obviamente já corre pela rede (em vários formatos), mas o consorcio da HD-DVD agita seus chocalhos legais, e por meio da uma carta de 'cease & desist' (i.e., pare ou eu processo!), tentou impedir o Digg de menciona-la. Este tipo de estupidez pode funcionar razoavelmente quando o alvo é um jornal de papel, mas na Internet o tiro saiu *muito* pela culatra.

sábado, 31 de março de 2007

Casa, Rio
Elemento suspeito portando uma folha de bananeira

. foto Arbyreed

O ar húmido e quente cobre a cidade como uma manta gasta. Uma noite tropical carioca como tantas outras, na qual os desavisados costumam confundir placidez com segurança. Seus habitantes vem e vão, furtivos, rápido demais para deixar mais do que um leve e acre cheiro de medo no ar. Se são bons ou ruins, feios ou bonitos, não importa. A única distinção relevante é entre aqueles que aprendem rápido, e aqueles que contraem uma dor de cabeça de 9 mm e não acordam mais. O nome é Bruno. Bruno Mota, físico e cozinheiro.

O plano era simples. Eles sempre são. Fazer um jantar tailandês para alguns amigos. Arroz aromático, um curry de carne (mais indiano do que propriamente tailandês), e um peixe com leite de coco e erva cidreira, embrulhado em folha de bananeira. O único problema era arranjar uma folha de bananeira.

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terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Enquanto isso, na Terra Média

"Alguem tem uma poção de cura?"


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Casa, BH
Post reciclado

Parafraseando William Shatner. Tenho que... Ir DORMIR. agooora.

Então me limito a reciclar dois comentários que fiz no blog do Pedro Dória, sobre Islã, Islamismo e suicídios pessoais e nacionais.

Semana passada um mané se explodiu em uma padaria em Eilat, Israel, matando três pessoas que estavam no local. Israel desta vez preferiu não reagir (já que no momento os grupos terroristas palestinos parecem perfeitamente capazes de se matar mutuamente sem ajuda externa). Na internet porém o pau (como sempre) comeu solto, com os argumentos de sempre. Alguns destes argumentos eu já lí, em várias variações e permutações, inúmeras vezes, e sempre me incomodaram; não só porque acho que estão errados, mas porque se baseiam em premissas que eu considero um tanto repelentes.

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segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Casa, Rio de Janeiro
Józej Maria Hoene-Wroński, vida e obra


Eu já escrevi sobre a maravilhosa capacidade da internet de conectar pessoas que fisicamente estão nos mais diversos cantos do mundo, mas tem interesses em comum. Obviamente o fenômeno em sí não é novo, só a sua amplitude geográfica. Não é incomum, afinal de contas, ficar amigo dos frequentadores habituais de nossos sebos ou bares favoritos. Mas a internet também tem o equivalente ao esbarrão acidental que gera um pedido de desculpas que acaba virando um papo agradável.

O prenome do meu email é wronski. Não sou descendente de poloneses, ou obcecado por Anna Karenina. Simplesmente decidi criar uma conta de webmail grátis, vários anos atrás, e descobri que meu nome, sobrenomes e apelidos, em todas as permutações razoáveis, já tinham dono. Em desespero, e sem querer me tornar o bmota74, me lembrei das aulas de Calculo II (eu havia acabado de terminar o segundo periodo), e de um objeto matemático chamado Wronskiano*, descoberto no século XIX por Józej Maria Hoene-Wroński, um obscuro matemático polonês. No auge do meu solipicismo lusófono, pensei: 'brunos existem vários, mas wronski não deve ter nenhum'. E de fato não havia. Hoje, nove anos e dois provedores depois, continuo wronski (a alternativa, que considerei por um breve instante, era frobenius).

Um efeito colateral da minha alcunha peculiar é que ocasionalmente recebo emails em polonês por engano. Não é o mesmo que ter o numero de telefone a um digito de distância da telepizza, mas é quase. Já passaram pela minha inbox um orçamento de conserto de carro, mensagens natalinas, e o que parecia ser uma destas correntes irritantes ('envie para 10 dos seus amigos para que Deus/Buda/Cthulhu/Flying Spagetti Monster lhe dê saúde e dinheiro'). Estou supondo obviamente, baseado na formatação, já que o conteúdo é para mim indistinguível da lista de compras do Lech Wallesa.

Na semana passada recebi um destes emails, remetido por uma pessoa chamada 'Abi'. Como sempre faço, respondi com uma curta mensagem em inglês sugerindo que o destinatário não era eu. Recebi de volta um email efusivo, que pedia mil desculpas, e obviamente perguntava de onde diabos vinha o meu nome polonês. Eu então contei a historinha acima, e começamos a conversar. A Agnieszka fez mestrado em direito, mora em Varsóvia, e está programando uma viagem de esqui nos alpes italianos. E eu descobri que físicos são considerados criaturas exóticas até mesmo na Polônia, e que o Józej Maria Hoene também desenvolveu uma doutrina filosófica bastante popular no século XIX, e ainda hoje é razoavelmente famoso no pais natal. Wronski é um pseudônimo que ele assumiu após a morte da mãe, para tentar fugir da influencia do pai.

Não vou dizer que o papo mudou a minha vida, mas eu gostei de conhecer uma pessoa gente fina de forma tão randômica a partir de um mero esbarrão. Não há nada de excepcional nisto, exceto que os esbarrantes estão a 10.000 Km um do outro.

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Continuando no tema 'amizades improváveis mediadas por TCP/IP', o Doug, um capitão americano em Kabul com quem costumo discutir séries de animação japonesa, está pedindo votos para o seu blog ('Afghanistan Without a Clue') em um concurso pela internet. O cara é gente fina**, e o blog dele é interessante, então se alguém aqui gostar deste tipo de coisa, eu sugiro que vote nele.

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* Um determinante gerado a partir das soluções de uma equação diferencial ordinária e suas derivadas, usado para verificar a sua (in)dependência linear.
** Ele é da força aérea, mas o trabalho atual dele é ensinar as tropas de logística afegãs a descarregar a carga de aviões e transporta-la em comboios para o resto do país. E ele *gostou* de Ghost in the Shell.