Casa do cunhado, Barueri
Groundhog night
Estou em Barueri, onde mora o irmão da Ceci (Alexandre) com a esposa (Flávia) e filho (João, que está fazendo dois anos, e é a razão principal da visita). Eles moram em um agradável porém ridiculamente pacato condomínio fechado, então não posso dizer que estou convivendo com culturas exóticas e situações extremas. Tentando na medida do possível remediar tamanha paz, resolvi ontem sair para passear (a pé) por volta das 3 da madrugada. No Rio, onde é tranquilo de noite não é seguro, e onde é seguro de noite não é tranquilo; então posso dizer que estou aproveitando uma oportunidade única de ter tranquilidade e segurança em um passeio insone. Talvez felizmente, isto soa melhor em um blog do que em uma brochura turística.
De qualquer maneira, o passeio ontem foi agradável. Uma das facetas da placidez local é que todas as ruas tem nomes de pássaros e são praticamente indistinguíveis. Assim, obviamente, após vagar por cerca de meia hora, eu estava vagamente perdido. Por sorte, atraí as suspeitas de um segurança de carro, que após passar por mim várias vezes em baixíssima velocidade, finalmente parou e me interpolou.
´Não, eu não sou morador.´
´Sou hospede, mas não sei exatamente onde.´
´É uma rua com nome de pássaro (duh!). Colibrí ou algo assim.´
Eu tenho um certo talento para fazer coisas absolutamente inocentes em circunstâncias que levantariam suspeitas em qualquer pessoa com alguma imaginação ou acesso à televisão (´passeio noturno´? ´folha de bananeira´? Espera até o Capitão Nacimento ouvir isto). Obviamente o guarda foi descobrir quem diabos era este tal ´Alexandre´ (eu sei o sobrenome, pelo menos). Imaginei o dito cujo sendo acordado pelo telefone as 3:30 da matina com perguntas sobre um certo Bruno, o Andarilho. Imaginei também a sua concomitante e potencialmente irresistível tentação de dizer - ´Bruno? Nunca ouví falar...´
Felizmente o guarda só confirmou a existência do Alexandre, o Morador, e da alameda correta (Curió, não Colibri), e ainda me ofereceu uma carona (daí a tal sorte, já que de outra maneira eu provavelmente andaria por um bom tempo até achar a casa certa).
Hoje resolví repetir a dose; mas desta vez de forma ainda mais característica. Peguei uma bicicleta emprestada, e sai pedalando. O condominio é cortado por uma série de suaves vales arborizados, e as descidas eram tão agradáveis quanto eram penosas as subidas. Fui longe desta vez, passando por diversas casas de explendor e gosto variáveis (mas nada parecido com certos horrores que povoam o Mangabeiras e o Belvedere, em Belo Horizonte). Não estava atrás de uma vista ou local específico (embora tenha apreciado, do topo de uma colina, uma visão previlegiada de Baruerí; não é exatamente Paris, mas dá para entreter), queria só aproveitar a noite. Na volta, após uma subida mais brava, parei para descansar um pouco. Eis que me aparece, poucos momentos depois, o meu amigo segurança! Sem suspeitas aparentes desta vez, ele me reconheceu de imediato, e me informou jovialmente que a rua Curió estava longe e não era, de todo modo, fácil de achar. Me despedi da figura, e continuei pedalando. Obviamente não achei a &¨#*&¨# da Alameda Curió, mas cruzei novamente com meu amigo diversas vezes. A cada encontro, ele me fornecia complicadas orientações para chegar na Curió (1a esquerda, 5a direita, 1a direita de novo, 2a esquerda, vira depois do quebra mola, etc.). Após seguir tais instruções, eu invariavelmente chegava em uma alameda com o nome de algum outro pássaro (que eu então imediatamente imaginava assando em um espeto como forma de terapia). Quando cheguei em uma tal de Alameda Quetzal, apelei. Ví um carro saindo de uma garagem, e parti em perseguição. A senhora no carro, única ocupante, não só não me respondeu com um taser ou spray de pimenta, como se ofereceu para me levar até a maldita Curió. E lá foi ela, alegremente por subidas e decidas, enquanto eu pedalava furiosamente atrás. A primeira alameda em que me levou, por engano, era Canário (ou Avestruz, ou Tucano, ou Siriema; eu estava entretido demais com meus pensamentos de holocausto ornitológico para me importar). Combinamos então que ela iria fazer um reconhecimento avançado, achar a ave maldita, e voltar para me pegar. Eu temia que ela fosse tragada pela mesma anomalia espaço-temporal que sugara a Alameda Curió (ou aproveitasse a deixa para alertar a segurança). Porém, fiel a sua palavra, ela voltou, e me conduziu finalmente, toleravelmente são e completamente salvo, até a Alameda Curió.
Não me arrependo do passeio. Foi certamente a coisa mais inusitada que eu poderia viver aqui em Baruerí.
8 comentários:
Macucos me mordam!!!
Essa era uma das tais alamedas...
Tenho medo de Alphaville
Comédia!
Tava se sentindo atleta com GPS, é?
Sem dúvida. Mas no caso, GPS significava 'Guardinha que Passa Sacaneando'.
De tanto cansar me de ficar perdido na Alemanha, resolvi comprar um GPS. Ela se chama Marta! Foi a melhor compra do ano, seguramente.
Vale dizer que não era Alphaville. O condomínio chama-se Aldeia da Serra. E a área que meu irmão mora, chama-se Morada dos Pássaros.
hahaha
Anon, lembranças à Marta ;-).
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