sábado, 17 de julho de 2004

QM, Londres

Hoje acordei cedo para fazer minha mochila. Dois dias antes tinha lavado algumas roupas (na banheira, operacao complicada), e deixado secar no banheiro. Felizmente estavam secas quando acordei. Devolvi as chaves do flat e levei minhas coisas para o departamente. Depois fui assistir ao seminario de comemoracao dos 60 anos do McCallum (um fisico foda do departamento aqui). As palestras foram interessantes (em particular a do Ellis). O Penrose ficou tirando sarro dos cordistas, comparando-os 'a uma manada de bufalos', e o Witten ao Mao Tse Tung.

Depois do seminario fui almocar com a Sara em um comida a kilo brasileiro! (sugestao da Flavia, fica em Oxford street em frente 'a Virgin records). 1.1 kilos a mais e varias libras a menos depois, o nosso plano era ir ate' a Tate modern. Descemos antes em Hyde park, para tomar uma cafe no gramado e deixar a comida descer. Duas horas depois acordo de um sono tranquilo (o dia estava bastanta agradavel). Acabamos ficando conversando por la' mesmo ate' a hora da Sara ir embora, e depois eu segui para a Tate.

Cheguei na Tate, sentei em um poltrona para dar uma olhada no mapa, e claro, dormi. Nao so comi demais, mas estou realmente detonado. Viajar 'e bom mas cansa fisicamente.

A Tate e' um enorme museu de arte moderna que fica em uma antiga Termoeletrica recauchutada*, um lugar bastante interessante. Ela tem algumas exposicoes temporarias, e varias exposicoes tematicas, e felizmente e' razoavelmente livro daquele pedantismo viajado tipico deste tipo de lugar**

Alguns exemplos aleatorios

1 Logo no saguao existem varias fileiras de bustos, desde Rodin ate' uns malucos contemporaneos em video. A ideia e' mostrar a evolucao da representacao da cabeca humana na escultura.

2 Existe uma sala dedicada a posteres de propaganda da era sovietica. Alguns sao ate' bem feitos (como o que celebra as tropas da NKVD, futura KGB). Um do Uzbequistao, decada de 20, mostra uma revolucionaria com cabelos ao vento e lenco vermelho conclamando uma fileira de mulheres cobertas com o veu muculmano (os rostos nao aparecem) a votar na eleicao. Interessante os paralelos com os dias de hoje... Mas o premio Hellmans vai' para uma do Cazaquistao (acho), que diz "A guerra do futuro: So' a uniao socialista pode evita-la", enquanto mostra uma *nave* futurista detonado uma cidade com raios da morte! Bizarro.

3 Vi tambem um quadro surrealista +- famoso do Max Ernst (um alemao que lutou na 1a guerra, bla bla bla). Ao lado existe uma aparelho que reproduz gravacoes onde varios criticos, psicanalistas, historiadores e chutadores em geral tentam explicar o quadro. Cada um diz uma coisa diferente, chega a ser engracado.

Max Ernst, The Elephant Celebes (1921)

4 Em um bloco maciço de madeira, um escultor escavou cuidadosamente os nos, aparando ate' chegar na camada que corresponde a arvore quando era pequena. E' muito interessante ver o tronco e tocos dos galhos da antiga arvorezinha emergirem do bloco de madeira.

Voltei de onibus aqui para o departamento. Originalmente pensava em ficar em um albergue esta noite (o dormitorio estava reservado). Mas resolvi acampar aqui mesmo na sala de pos graduandos. Minhas coisas ja' estao aqui, saco de dormir e esteira inclusive, e' de graca e tenho Coca Cola. Poderia sobreviver ao inverno nuclear se fosse preciso.

Por ultimo, como este deve ser o ultimo post significativo de Londres, ai vao as fotos que faltavam. As primeiras sao do Regent's canal. No meio, as de Hamsptead Heath (a primeira delas e' a do show que entrei de penetra), e no final uma na Corsega da Parvin & Slaba.



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* Quando vamos acampar, `a fazenda ou ao parque, estamos revivendo um simulacro das experiencias das sociedades pre'-agricultura e pre'-industrial respectivamente. A arquitetura da a Tate e' algo parecido, uma especie de nostalgia da era industrial.
** Tipo: "A instalacao e' uma releitura de mitos da criacao aborigenes refletindo a incerteza da sociedade pos-moderna em face a subordinacao da polis burguesa face ao super-ego da coletividade" ou algo assim

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