QM, Londres
Ontem quando sai daqui resolvi andar por esta regiao da Cidade (East end), que nao conhecia. Desci por Whitechapel (onde ocorreram os assassinatos de Jack o estripador) ate' a City (onde existem varios edificios recentes interessantes, em particular um que os locais chamam de Erotic Gerkin). O East end e' uma regiao relativamente pobre, com imigrantes de todo o mundo. Caminhando nas ruas, vemos uma profusao de sarongues, abayas, turbantes, saris, etc. Enquanto andava, fui pensando sobre a tal singularidade de Londres.
A maior parte das pessoas quem vem aqui tem a impressao que Londres e' uma cidade com muita 'historia'. De fato, ela e'. Mas nao de forma excepcional (para a Europa), no que se refere a idade ou conservacao de construcoes. A maior parte da cidade foi destruida no incendio de 1666, entao o que se ve em geral e' mais recente que o centro de varias cidades europeias.
Por outro lado, ninguem invade estas ilhas desde 1066. Nao existem (como em quase todo o resto do continente) quebras abruptas na tradicao cultural. Toda a cidade faz parte da mesma linhagem historica.
De forma tipicamente inglesa, nenhum plano de renovacao urbano foi realmente bem sucedido por aqui nos utltimos 400 anos. Assim, Londres e' uma cidade que cresceu, ao inves de ser construida. Cada epoca sucessiva foi deixando uma camada de novas construcoes. Austeros predios vitorianos, palacios do sec XVII, abadias e catedrais medievais e predios modernos de vidro nao so' convivem lado a lado, mas fazem todos parte integrante da vida da cidade. Sentimos aqui uma entidade quase viva que cresce e se desenvolve, e que tem raizes muito antigas. Nao ha' um centro antigo mumificado, ou museus historicos anacronicamente situados no meio de predios de escritorio. As velharias aqui existem como parte da cidade hoje, nao como lembrancas de um passado perdido.
O verdadeiro DNA da cidade esta nas ruas. O tracado das ruas e' muito mais antigo do que a maior parte dos predios em volta. Podemos andar por entre contrucoes de vidro ultra-modernas, mas seguimos ruas e ruelas que sao usadas a varios seculos. Evidencia disso sao nomes como Charing cross (que ficava em um antigo pasto, ao lado da igreja de St. Martin in the Fields), Temple (em referencia a igreja/banco dos templarios), Marble Arch (derrubado a seculos), e os varios xxx-gate (os antigos portoes nas muralhas da cidade). Ontem passei por uma tal de Wrestlers Alley (alameda dos lutadores). Duvido que os encontre hoje em dia, mas em alguma epoca a porrada comia solta.
Para finalizar, fui para Covent Garden (nao fica mais turistico do que isso), e andei ate' o Soho. Acabei jantando em um dos inumeros restaurantes chineses la'. Pedi uma prato a base de nadadeiras de pato (aquela pelinha entre os dedos do pe). De fato, vieram varios pes de pato *inteiros* com arroz e um molho a base de soja. O garcon tentou me explicar como comer aquilo com um garfo e hashi, mas era complicado demais. Depois de alguns minutos de pastelao involuntario, apelei, peguei os dito cujos com a mao e comecei a comer. Pedi uma cuia com agua e limao, e uma pilha de guardanapos de papel, e fui lentamente, pe' ante pe', comendo. O garcon ficou todo animado com a ideia, e me mantinha bem suprido de guardanapos enquanto tirava o cemiterio com os ossinhos. No final, ja tinha desenvolvido uma tecnica sofisticada de come/lava/enxuga/bebe. Acho que mostrei aos chineses que a tecnica brasileira de comer pes de pato tambem e' eficiente.
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