Casa, Rio de Janeiro
Obama lá
Considerado em retrospecto, John McCain era, provavelmente, o melhor candidato concorrendo à presidência dos EUA em 2000. Foi massacrado por uma campanha mentirosa e abertamente racista comandada pelo Karl Rove na primária da Carolina do Sul. Os republicanos, e no final das contas os EUA, ficaram com George W. Bush.
Já se tornou consenso que, em 2008, McCain parecia uma sombra do que outrora fora, oscilando entre obviedades semi-coerentes e a sisuda repetição da ortodoxia republicana. Não atribuo esta mudança à idade, mas sim ao fato de que ele aparentemente concluiu corretamente que jamais conseguiria ser nomeado sem o apoio daqueles que anteriormente havia chamado de 'agentes da intolerância'. Nem tampouco ele teria chances na eleição sem o seu apoio cerrado.
Esta era, na minha opinião, a sua grande fraqueza como candidato. Mesmo se o verdadeiro McCain milagrosamente acordasse de seu repouso heróico na ilha de Avalon e marchasse triunfante até a Casa Branca no dia da posse, pouco poderia fazer em face a um congresso hostil controlado pela oposição, e de um partido republicano igualmente hostil controlado por malucos.
Na derrota, porém, McCain fez muito. O seu discurso admitindo a derrota foi muito além do típico 'Eu congratulo o candidato fulano por sua vitória'. Tais discursos tendem a ser excruciantes de se assistir, onde o candidato, após superar a fase de negação, oscila entre justificativas mambembes de porquê sua derrota eleitoral na verdade é uma vitória moral, e a raiva mal contida pela injustiça de perder um disputa que acreditava que por direito deveria ganhar. Não havia sinal de nada disso no discurso de McCain. Ele admitiu a derrota serenamente, sem enrolações. Após calar algumas vaias estúpidas, ofereceu um generoso e claramente sincero parabéns para seu oponente, e expressou, melhor do que o próprio Obama em seu discurso, o simbolismo desta eleição. Depois de uma campanha decepcionante (considerando-se os candidatos acima da média e a conjuntura para lá de complicada), e ocasionalemente beirando a irracionalidade (sem falar de 8 anos de Bush, acompanhado pelo coro grego das Ann Coulters e Micheal Moores da vida), esta atitude é exatamente o que os EUA precisam.
Eu gosto do Obama, mas não há muito que eu possa escrever sobre ele que já não foi dito e redito. Eu votaria nele, se fosse americano. Admito que, em muitos aspectos, ele ainda é uma incógnita. Mas, ao longo da campanha, ele conseguiu me convencer que tem bom senso suficiente para evitar maiores maluquices no comercio ou no Iraque. Neste aspecto, dou mais crédito aos seus assessores e conselheiros atuais, em geral sensatos e inteligentes, do que a seus antigos associados do tempo de Chicago, muitos dos quais representam a contrapartida esquerdista dos alucinados republicanos. É uma aposta; mas cautela excessiva é trocar a possibilidade de uma morte rápida pela certeza de uma morte lenta. Agora que ele foi eleito, vamos ver no que dá.
Ao contrário da ultima eleição presidencial americana, não passei a noite grudado na internet/televisão vendo os resultados (preferi jogar Shadowrun, que alias nos dá uma perspectiva bastante interessante sobre o tema). Mas do que ví na televisão intermitentemente ligada, de longe a coisa mais bizarra foi o uso de repórteres holográficos pela CNN. A imagem abaixo dispensa maiores comentários; a piada de Star Wars quase se escreve sozinha.
2 comentários:
Demorei para ver este seu post (estava procurando notícias da viagem). Só para comentar o momento high tech da CNN, tudo não passou de uma grande enrolação. A repórter não foi projetada na sala de imprensa e sim "colada" no vídeo dos telespectadores, enquanto a entrevista real era filmada por várias câmeras em semi-círculo com um fundo verde. Um pequeno cluster de processadores deu conta de coordenar o movimento das câmeras no estúdio real e rotação da filmagem na estação remota. Um truque que me lembrou o stop motion dos irmãos Wachowski, mas sem o Keanu Reeves.
Help me, Barack Obama! You are my only hope!
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