quarta-feira, 3 de novembro de 2004

CBPF, Rio de Janeiro

o Bush ganhou... Que merda.

Eu passei a madrugada ontem acompanhando a eleição americana pela internet. Por volta das 9 da noite, começaram a aparecer extra-oficialmente pesquisas de boca de urna indicando que o Kerry estava na frente em quase todos os swing states. Na CNN, os apresentadores (que tinham se comprometido a não divulgar tais pesquisas dado o fiasco da eleição anterior) ficavam soltando 'dicas', dizendo que o sorriso da Laura Bush parecia forçado, que o clima era de otimismo entre os democratas, etc. Na internet não havia auto-censura (e.g, na Wonkette); os democratas comemoravam, e os republicanos arranjavam desculpas e acusavam os democratas de intimidação, mau halito e bestialismo. No site de apostas TradeSports , os apostadores que antes favoreciam Bush na proporção de 2 para 1 subitamente mudaram de ideia, e começaram a apostar em Kerry.

Por volta de 1 da manhã, começavam a chegar os primeiros resultados. Em todo os EUA, eles favoreciam Bush, mas isso era esperado, porque distritos rurais (que em geral votam nos republicanos) terminam a contagem mais cedo.

Uma hora depois, a liderança de Bush se consolidava em alguns estados que a boca de urna apontava como tendendo ao democrata. Os posts nos blogs liberais foram ficando mais esparsos, e as apostas em um ou outro lado se equilibravam.

Perto das 3:30, alguma coisa estava obviamente errada com a boca de urna. Na Florida Bush abria 5 pontos de vantagem com metade das urnas apuradas. Ele tambem liderava em new Hampshire, Winscosin, Minnesotta, Iowa e Michigan, alem de Ohio. As apostas agora voltavam a proporção anterior de 2 para 1 em favor de Bush.

As 4, com mais votos urbanos sendo apurados, New Hampshire passou a favorecer Kerry. Pouco depois, o mesmo se deu com Minnesotta, Wisconsin, Michgan e Iowa. A disputa em Nevada, Colorado e Novo Mexico era apertada. Em Ohio, a vantagem de Bush caiu para 4, 3, 2 por cento. Tudo dependia de Ohio, quem ganhasse seria o novo presidente. Mas a esperança democrata dura pouco. O resultado em Ohio oscila, mas a diferença nunca é menor que 100.000 votos. O total de seçoes eleitorais apuradas chega a 80%, 90%, 96%. Por volta das 5, até os democratas mais otimistas reconhecem que tinha acabado.
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Neste momento, estou dividido entre raiva e perplexidade. Não entendo como os americanos elegeram este mentecapto, após tudo o que ele fez (na verdade entendo sim, só não aceito. Mas depois desta madrugada insone acho que tenho o direito de ser implicante). Fico com raiva daqueles americanos que não foram votar por pura coceba. Fico com raiva da esquerda, que atualmente só consegue oscilar entre o patético e o irrelevante. Fico com raiva dos Roves, Cheneys, Rumsfelds e Ashcrofts da vida, que vão tomar este massacre (não só na eleição presidencial, mas também no senado e camara dos representantes, e em alguns anos também na suprema corte) como um mandato para continuar a cagada dos ultimos 4 anos. E fico com raiva dos fascistas islamistas que vão aproveitar esta oportunidade única para se posicionarem como 'defensores da fé' na cabeça de muito gente.

De consolação, pelo menos como procedimento democratico a eleição nos EUA foi um sucesso. Os americanos tem um sistema singularmente ineficiente e excentrico de votação. Mas não houve fraude ou intimidação em larga escala, o comparecimento foi grande, e eu tive a impressão que os eleitores foram muito mais capazes de aceitar diferenças honestas de opinião do que os políticos e comentaristas em geral.

Um comentário:

fmafra disse...

o sistema eleitoral dos EEUU é uma das coisas mais esquisitas que já vi.
agora que essa epopéia acabou, quem sabe vc muda de tema no seu blog ;)