sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Ap. do Alex, Nova York
Historia natural



Estou em Nova York desde ontem, e decidi que dormir é algo que só farei quando voltar ao Brasil. Já cheguei transnoitado do Avião, e de passar a noite anterior refazendo minha apresentação devido à uma pane épica na *&#^*^$ do Power Point. Vim direto do aeroporto para a casa do Alex, um amigo-de-uma-amiga (a Mari) de quem consegui chorar uma hospedagem camarada. O cara é gente fina, em um nível igualmente épico. Fomos quase imediatamente ao City College, onde ele é professor, para meu seminário (que acabou ficando bem legal), e almoço logo em seguida. Surpreendentemente, considerando que má fama que tem a comida americana em geral e as cafeterias universitárias em particular, a comida estava excelente. Ficamos batendo papo com um velhinho, professor emérito de engenharia mecânica de ares antedeluvianos, com diversos casos interessantes a respeito da historia do City College. Mais tarde, após dormir algumas horas, fomos jantar em um restaurante Ucraniano. Lugar interessante, com boa comida e duas velhinhas ucranianas simpáticas que provavelmente são na verdade da Guatemala e foram contratadas pelos proprietários para darem uma cor local ao lugar.

Hoje acordei relativamente cedo, com planos de visitar alguns museus. No final das contas, o alguns se tornou um, mas não reclamo. Dei uma volta no Central Park, e entrei no museu de história natural. Em duas horas, pensei, vejo o que houver de mais interessante, e vou para o Metropolitan ou o Moma.

Seis horas depois, eu estava tirando fotos dos ossos pélvicos de dinossauros vários enquanto explicava para duas argentinas como a forma destes tais ossos caracterizam a principal diferença entre os dois grandes grupos de dinossauros. Eu tentava ir embora, mas o museu insidiosamente fazia surgir no meu caminho alas que eu não podia deixar de visitar. Da América pré-colombiana as viagens da Margareth Mead pelo Pacífico, da história da Asia ao efeito estufa, eu ia, qual um viciado, compulsivamente de uma coleção até a outra, me prometendo sempre que seria esta a derradeira.

E, é claro, havia os dinossauros.

Quando eu era criança, decorei os nomes de todos os dinossauros mais interessantes. Lembro deles até hoje. Antes de me decidir pela física (lá pelos 12 anos), pensei seriamente em virar paleontologo. Solto no que é provavelmente a mais completa exposição sobre o assunto no mundo, eu estava igual pinguço em fábrica de cachaça

O Físico e o Triceratops

Obviamente, quase todo mundo acha dinossauros interessantes; mas para mim, é algo muito além da mera curiosidade ver, ao vivo e pela primeira vez, os vários detalhes e sutilezas sobre os quais tenho lido a minha vida inteira.

Ossos pélvicos de um Hadrossauro. O ossos em questão são fundidos, e não articulados, e apontam para trás, caracterizando-o como um orniquistiano. Eram todos herbívoros.


Os ossos pélvicos de um tiranossauros. A articulação com dois ossos intra-articulados apontando cada um para uma direção caracteriza os saurisquitianos, que incluem todos os dinossauros carnívoros (T-rex et al.) e os sauropodes, comedores de planta com caudas e pescoços compridos (e.g., diplodocus, apatossauro).

De volta ao Ap. do Alex (depois de ser praticamente enxotado para fora do museu na hora de fechar), cozinhei com uma amiga dele um jantar, que incluiu tomates recheados com panceta, cogumelo e alho poró, Msakhana e pera ao vinho, acompanhando um cozido de carneiro com damasco e apricó sobre um cuzcus de legumes. Um evento essencialmente igual aos jantares que fazemos aí no Brasil, incluindo a boa companhia, a comilança desmedida, a cozinha como zona de guerra e a ausência de um horario para acabar. Como alguem que veio para NY pela primeira vez para passar somente três dias, talvez eu devesse estar lá fora, visitando diligentemente os cartões postais da cidade. Mas, sinceramente, encontrar gente interessante (da India, Grecia, Suriname e EUA, no caso de hoje) é uma parte da experiência de viajar tão ou mais importante que conhecer lugares interessantes.

Armadura de Kiribati (uma ilha no oceano Pacífico), feita de fibra de coco. Seguno a legenda, funciona surpreendentemente bem. As armão tem pontas formadas por ferrões de arraia.

Vou dormir agora (são 6 da manhã! Caraca!!, amanhã (hoje!) pretendo andar até gastar o sapato. É meu último dia aqui; domingo de manhã parto de trem para Washington.

Camadas sedimentares entre o cretaceo e o triássico (e entre o mesozoico e cenozoico). Uma camada suja de fuligem e rica em irídio separa os dois períodos. Antes, os dinossauros dominavam a Terra. Depois, eram uma lembrança de um terror distante na memoria racial dos mamíferos que afinal tomaram o seu lugar.

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