quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Casa, Rio de Janeiro
A meu saco...

A melhor síntese da controvérsia criada pelo discurso do Ratzinger/B16/Palpatine é a de um cara chamado Waleed Aly:

“[A] provocative gesture triggers an overblown response of surreal imbecility”

Só para deixar claro minha opinião, reposto aqui algo que escrevi em outro lugar:


[Eu] não me importo com o que o Papa diz; acho que é prerrogativa dele dar a opinião sobre o que quer que seja (direito que extendo postumamente ao Manoel Paleologos). Considero algumas outras opiniões dele muito mais ofensivas, e com consequencias mais tangíveis (sobre contracepção, homosexualismo, primazia da igreja, etc), e mesmo assim não me arvoro do direito de sair quebrando igrejas ou clamando o direito de não ser ofendido. Acho ainda que opiniões muito mais ofensivas (e inicitação direta de violência) são manifestadas diariamente de todos os lados sem criar esta celeuma toda. Considero também que algumas lideranças de 5a categoria no mundo muçulmano ‘escolheram’ ficar revoltadas, assim como no futuro podem escolher se ofender com as palavras do Jerry Falwell, ou do Jerry Seinfeld, ou do Jerry, o rato; e não acho justo ou razoável que o mundo seja refem da ofensa inferida por grupos hipersensiveis ou hiperhipócritas a partir das declarações de quem quer que seja.

Também acho, repetindo, que a maior parte dos muçulmanos tem mais o que fazer.


PS: A carta do Manoel Paleólogos citada pelo B16 fazia parte de um diálogo com um erudito persa. A resposta, onde suponho o tal persa faz uma defesa vigorosa do Islã, se perdeu. Mas um outro erudito persa escreveu uma análise devastadora da fala do Papa (e do MP) que vale a pena ler:

The Pope, the Emperor and the Persian Preacher
Amir Taheri

7 comentários:

Anônimo disse...

Nao da' para concordar com isso, Bruno. Sinto muitissimo, nao vou entrar na discussao do mundo mulsulmano e tal mesmo porque amanha comeca o mes de RAMADAM... De todas as formas nao da' para se esquecer que o papa e' um CHEFE DE ESTADO de um PAIS MINUSCULO mais riquissimo, como e' o caso de varios paises do tipo reino mulsulmano (minusculos e riquissimos). O papa pode ter opinioes e DEUS sabe que ele as tem. Agora enquanto chefe de estado ele tem que medir as palavras e atitudes dele. Aquilo que ele disse foi ofensivo para a maior religiao do planeta. Ha' que se esperar uma certa revolta, independente do fato da maioria dos mulsulmanos cagarem e andarem para a opiniao do sujeito.
By the way, eu tambem tenho mais o que fazer... o papa que se exploda!

Anônimo disse...

by the way, mulçulmano e' com cedilha. e nao com s.

|3run0 disse...

Anon (Rafa?), acho razoável que alguns muçulmanos se sintam ofendidos pela fala do Papa (ou, mais especificamente, pela fala do Miguel Paleólogos). E é igualmente razoável que eles apontem os erros ou eventuais desonestidades na tal fala. De fato, o MP disse o que disse no contexto de um diálogo com um erudito persa, que eu suponho respondeu com uma defesa eloquënte do Islã e seu profeta, e não com ameaças de decapitação.

A linha-mestra da fala do Papa, acho, é uma defesa da superioridade da doutrina catolica sobre as doutrinas protestante, islâmica e secular. Você, eu e o Ahmed podemos discordar, mas não é nem surpreendente nem ofensivo que o lider dos católicos tenha esta opinião. O Papa é um chefe de estado, um estado cujo único propósito é difundir e defender uma doutrina religiosa específica, forçosamente em detrimento das outras. Ele pode fazer isso de forma mais ou menos diplomática, mas nem os mais profusos votos de respeito e diálogo podem esconder este fato central. Cristãos e muçulmanos podem e devem dialogar, mas no fim do dia as diferenças doutrinárias são intransponíveis; o que não significa que não possam conviver pacificamente se houver tolerancia da diference de ambas as partes.

Esta (historicamente esporádica) hipersensibilidade em relação ao profeta me lembra um pouco a reação do clero quando da introdução da teoria da evolução de Darwin. É uma teoria que nega explicitamente a interpretação literal (na época, a única existente) da Biblia. E, ao contrário do que o B16 possa acreditar, não foi o amor a racionalidade por parte da igreja que fez com que os cléricos parassem de importunar os cientístas. Da mesma maneira, o Deus do Islã é transcendente, mas Maomé é uma figura histórica. Os não-muçulmanos por definição não acreditam que Maomé tenha sido divinamente inspirado, sendo portanto um ser humano falível como todos os outros. Eu não acho que ele deve ser excluido de estudos ou críticas, muito menos na base da intimidação. Acho perfeitamente possível respeitar a doutrina muçulmana sem concordar com ela. Mas tanto a concordancia como o respeito são prerrogativas minhas. Eu por exemplo não concordo mas respeito a crença católica na transubstansiação. Eu nem concordo nem respeito a restrição católica às mulheres exercerem o sacerdócio.

O que eu quero dizer com tudo isso é que o Papa tem sim o direito de ser ofensivo, e em certa medida comparar o catolicismo favoravelmente a outras religiòes é parte do trabalho dele. Eu posso não gostar das opiniões dele (e.g., eu acho abominavel a insistencia dele em tornar preconceito contra gays um imperativo doutrinário; mas nem eu nem os gays saimos quebrando igrejas por causa disso), mas devo manifestar minha oposição em palavras, não com violência ou ameaças.

Por último, eu não acho que a reação 'muçulmana' foi espontânea, ou até mesmo representativa. Acho que foi em grande parte uma tentativa de intimidação de críticos não só do Islã, mas também do islamismo. O objetivo é restringir os parâmetros aceitáveis de discussão, forçando as pessoas a se autocensurar, e até mesmo a censurar os outros, com medo da eventual 'reação'.

Anônimo disse...

nao se esqueca, porem, que voce vive num pais em que quando um guri quebra uma santa, ele de medo sobe em cima de uma arvore.
ou entao, melhor, lembre-se que chutaram a santa na tv e que o mundo veio abaixo.

|3run0 disse...

hehe, vc está confundido duas histórias verídicas. Eu quebrei a santa na coroação; não me lembro bem das repercussões, mas sei que não fui alvo de uma fatwa da Madre Zumapor causa disso ;-). Eu subi na árvore porque achava que era um macaquinho; a cara de brava da minha mãe, que teve que sair do consultório para me fazer descer, me relembrou a minha condição humana.

O debil mental que chutou a santa foi gratuitamente ofensivo, assim como (poderiamos argumentar) o B16; mas isso não justifica as reações 'surrealmente imbecis' (adoro a expressão!) que ambos os atos provocaram, muito menos violencia contra igrejas e templos evangelicos.

Por outro lado, seria perfeitamente razoável se o tal pastor tivesse feito uma longa digressão afirmando que os santos católicos são só madeira pintada sem qualquer dimensão metafísica real. É uma opinião (central para a doutrina protestante) com a qual a igreja católica não tem que de modo algum concordar, mas é obrigada a respeitar (embora historicamente não o tenha feito, com episódios de violencia muito piores que qualquer coisa provocada pelos motoons)

Viuvas do Rafael Cury disse...

olha Bruno, eu vi uma reportagem muitissimo interessante que ressaltava alguns pontos interessantes dessa coisa toda:
* - O isla e' uma RELIGIAO. O islamismo, uma ideologia.
* - Quem leu o texto do papa na integra, vai acabar entendendo que ele estava num contexto de discussao teologica. O papa, apesar de ser o lixo que eu e voce descrevemos e que consideramos, ele nao e' uma pessoa completamente burra. Em outras palavras, ele e' minimamente capaz de fazer a diferenca entre religiao e ideologia
* - E ai que eu acho que da' para concordar com voce: ha' islamistas tao radicais que sao muito suceptiveis e que qualquer critica e' tomada por uma verdadeira histeria. Uma freira foi morta na Somalia por conta da declaracao do papa.
* - A coisa foi descontextualizada e talvez o papa nao seja, ao menos nesta historia, o total culpado ja' que ele nao estava criticando a religiao, mas a ideologia. E e' essa a natureza, ao menos teologica, do problema.
* - Da proxima vez, o Cardeal Ratzinger (me recuso a chama-lo de Benedito XVI...) poderia limitar-se a ajoelhar-se deante da tumba dos pais, dar uns beijos e umas criancinhas e fazer benedicoes podres da janela do Vaticano.

|3run0 disse...

Rafa, concordo com vc. Recomendo fortemente a análise do discurso do Papa feita pelo Amir Taheri (link no final do post) para uma demonstração de como refutar muito do que o B16 e o MP disseram de forma perfeitamente civilizada.

PS: Demonstrando que imbecilidade surreal não é exclusiva de islamistas, neonazinstas incendiaram uma mesquita na França.