sábado, 9 de setembro de 2006

Casa, BH
Digerindo o Bungee Jump



Estou digerindo o almoço que cozinhamos. Ossobuco com congumelos e gremolata (primeira vez que faço), espaguete puxado na manteiga de salvia (para comer com o molho do ossobuco), polenta com espinafre, arroz de cebola dourada e lombo com a tal crosta de salsa. Foi bom eu ter aprendido a cozinhar no Rio, onde faço toda a comida sozinho, porque quando venho para cá e tenho staff* as coisas saem com uma objetividade impressionante. Não é todo mundo que gosta de ossobuco, mas eu adoro e estava com ansia de comer um a meses.

Ontem fui com a Mi e o Fernando pular de bungee jump. Foi uma operação meio secreta, já que nem a Ceci nem meus pais podiam saber antes do fato ocorrido (eles iriam surtar). Eles surtaram de qualquer maneira, mas como eu estava manifestadamente vivo quando contei pós-fato, acho que o choque foi um pouco amortecido (figurativamente, e figurativamente, falando).

Era noite de Lua cheia, e nós subimos os 101m da torre do Altavila até um terraço vazado em forma de disco voador, com uma vista fantástica de BH e redondezas. O Zecão ficou no solo, munido de câmera, esfregão e espátula, pronto para qualquer eventualidade. Preso pelas perneiras e pelo colete ao cabo elástico, fui andando como um pinguim pela prancha de metal até a zona de salto. Quando o intrutor disse que eu podia saltar, pulei imediatamente. É um movimento quase doloroso, se jogar no vazio a revelia dos milhões de anos de evolução manifestos no cérebro pré-neocortex, mas dessa vez pelo menos o verniz civilizado que sabe o que é lei de Hooke mas não sabe o que é bom senso venceu. Por um segundo ou dois eu estava em queda livre, sentindo um frio na barriga que não acabava. O colchão de ar, que do solo parecia enorme, era do tamanho de um selo, e eu ficava pensando abstratamente que se a corda arrebentasse eu nunca ia conseguir acertar um alvo tão pequeno. A sensação de peso voltou aos poucos, na medida em que o elástico ia se distendendo. Então, rapidamente, fui arremessado para cima, o elástico ficou frouxo, e estava novamente em queda livre. Primeiro subindo, vendo o disco voador se aproximar novamente, e então descendo. As oscilações seguintes não foram tão alto, mas lateralmente começei a balançar muito, como um pêndulo. A Lua, o chão, Belo Horizonte e a torre iam se alternando no meu campo de visão, até eu parar de cabeça para baixo, oscilando só levemente com o vento.

Quando me cansei (eu ainda preciso ser picado por uma aranha radioativa para achar a ponta-cabeça uma posição natural; e estava frio de rachar), fiz um sinal, e o instrutor baixou um gancho, que prendi no meu colete para ser içado. Ao passar pelo restaurante panoramico, fui aplaudido pelos clientes, aparentemente agradecidos pelo entretenimento proporcionado por meus instintos semi-suicidas. O resto do dia passou quase no piloto automático. Lembro vagamente dos meus pais e da Ceci me dando broncas, e de cuidar do Gabriel de noite. Mas dormí como um anjo.


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*A Maria das Graças, que cozinha bem pacas, e a Diane, que pica, mói e rala qualquer coisa em um átimo.




5 comentários:

Anônimo disse...

sei nao, acho que voce poderia ter feito algo melhor com o dinheiro do bungee jump, tipo ter comprado quilos de ossobuco e ter feito uma ossobucada para todos os seus amigos.
Ou entao poderia colocar todo os staff para fazer pudim e ter feito uma pudinhada.

|3run0 disse...

Bom, eu fiz uma ossobucada para alguns dos meus amigos, mas ainda não sou Iron Chef o suficiente para cozinhar para muito mais do que 10 pessoas ;-).

Anônimo disse...

Que merda, quer dizer que quando eu voltar pra BH terei que ir pular de Bugee Jump?
Acho que vou saltar de paraquedas aqui antes, pra criar coragem...

Anônimo disse...

Eu ainda acho a ideia da pudinhada interessante

|3run0 disse...

Anon, se isso te faz feliz, eu faço uma pudinhada também ;-). Eu to mesmo precisando aprender a fazer umas sobremesas...