Courtyard Merriot Downtown
Roubando a minha própria bicicleta
O cadeado da minha bicicleta foi arrebentado hoje, em Key Biscayne. O responsável saiu pedalando com ela até sumir no horizonte. Felizmente, já existe um suspeito. É um físico brasileiro em trânsito que trouxe a chave do cadeado errado.
Eu cheguei aqui em Miami para uma visita relâmpago. Estou em trânsito, na verdade, por 14 horas entre o Rio e Barcelona. Vim encontrar um amigo meu (e usar o hotel dele como base de operações), pegar um celular novo (Galaxy III; mudou minha vida...) e andar um pouco pela cidade. Que conheço de quando vim em excursão Dísnica quando tinha 11 anos e a minha fraseologia em inglês se limitava a 'Coke, no ice'.
Cheguei muito cedo, e fui andar de bicicleta até um parque estadual que fica na ponta da Key Biscayne, Passeio agradável por uma série alternada de ilhotas e pontes, com parada para pastel de goiabada e guarapa. Cheguei no tal parque, prendi a minha bicicleta, e fui para a praia...
O mar por lá é calmo, limpo e morno. Fiz por algumas horas o usual que se faz em praias (ou que pelo menos eu usualmente faço). Mas nuvens de chuva se aproximavam, e era hora de ir embora. Exceto que, como reconheci quase imediatamente quando a saquei, a chave que havia trazido era do cadeado de outra bicicleta...
O ranger do parque não demonstrou muita simpatia. Não, ele não dispunha de um alicate ou assemelhado. Não, não havia nada que ele pudesse fazer. Sucks being you, see ya. Resolvi fazer justiça com minhas próprias mãos.
O meu canivete Leatherman tem várias funções, das quais a faca e o alicate com cortador de fio têm particular relevância para a presente história. O meu cadeado consistia de um fio de tecido guiando um trança de cinco feixes de cabos de aço, que por sua vez são envolvidos por uma mangueira de plástico. Comecei cortando uma seção da mangueira, e em seguida comecei a atacar os fios, um a um. Isto ocorria no meio de uma passarela de madeira por onde circulavam transeuntes vários, que poderiam plausivelmente questionar o meu respeito ao conceito de propriedade alheia. Nenhum policial surgiu gritando 'Step away from the bike and put away that multitool!'. Mas a paranoia era tanta que, ao ver um casal de velhinhos me olhando com curiosidade, confessei preemptivamente o que fazia e expliquei a situação. Longe de tentarem se afastar de alguém que não só era manifestadamente ladrão com também louco, eles manifestaram simpatia pela minha situação, e curiosidade sobre como eu havia parado ali. "Eu tenho ferramentas no carro" - disse o homem. - "Vou ajudá-lo!".
Com uma combinação de um alicate de bico mais nutrido, um martelo, força bruta e paciência, cortamos finalmente o cabo. Me despedi do simpático casal*, e me pus a caminho. Almocei com o Kirby em um restaurante indonésio, e vou só fazer algumas compras e voltar ao aeroporto. Chego em Barcelona, se tudo der certo, amanhã de manhã.
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* A senhora era de Maryland, e o senhor é um cidadão americano, ex-turco e ex-imigrante ilegal nascido as margens do mar negro.
Um comentário:
que loucura Bruno! Confundir as chaves de uma corrente dessas é sinal que sua cabeça realmente se ocupa em outras coisas! LOL
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