sexta-feira, 14 de março de 2008

Laboratório de Neuroanatomia Comparada da UFRJ, Rio de Janeiro
Dia de falar como um físico

Nós físicos temos um dialeto próprio. Para quem não é da área, as vezes é altamente não-trivial entender o que estamos falando. E não me refiro a efeitos de ordem superior desprezíveis, tais como a mania de engolir letras, palavras ou fragmentos de frases, ou o olhar homicida quando nos perguntam qual o nosso signo. O fato é que, por afinidade natural e por educação, temos uma forma bastante não-canônica de ver o mundo, e de nos comunicar. Todo mundo se lembra de, ou já foi, uma daquelas crianças que perguntam 'Por que?' para tudo. Para as quais cada resposta, ao invés de satisfazer, só aguça mais a curiosidade, e dá origem à uma série recursiva de Por ques, como se naquela ponto do espaço-tempo a criança procurasse um conjunto completo de axiomas que explicasse o Universo.

Pois bem. Imagine esta mesma atitude, reforçada em várias ordens de grandeza por anos de estudo e/ou pesquisa e intenso treinamento matemático, e nutrida por uma certa tendência endogâmica de conversar e conviver com criaturas semelhantes. Pronto; pelo menos como uma aproximação em primeira ordem, o que você tem em mente é um físico.

Hoje é o dia do Pi (3.14 de 2008, na notação americana). Também é o aniversário do Einstein. Nada mais justo, portanto, que seja também o 'Dia de Falar como um Físico'
Então, se você já passou horas contemplando uma pilha de areia a procura da criticalidade auto-organizada, calculou a meia-vida de uma nota de R$10 esquecida na calçada, conta piadas de Heisenberg, fala do Jackson ou do Reed-Simon como outros discutem o Atlético ou o Palmeiras, e acha xkcd o melhor webcomic do mundo, então este é o seu dia. Estime o potencial engordativo da comida em eletron-volts, e não (kilo) Calorias; ao invés de se estressar com a instabilidade no Oriente Médio, externe suas preocupações a respeito da estabilidade do vácuo; calcule o tempo de viagem de seu ônibus usando uma integral de caminho.

Se, por outro lado, o parágrafo acima é grego para você (supondo obviamente um leitor não-helênico), aproveite a oportunidade para entender melhor esta estranha espécie com a qual você as vezes esbarra. Aprenda um pouco do seu vocabulário (em níveis básico, intermediário e avançado). Tente, pelo menos hoje, se imaginar na mente de alguem assim, que vê o mundo não como algo que simplesmente existe, mas sim como um quebra-cabeça que precisa ser montado. Não garanto que a experiência fará bem à sua sanidade; mas talvez por isso mesmo, você provavelmente irá ver o Universo com outros olhos.

Para terminar, alguns blogs de físicos ou que tratam de física:

Efeito Azaron, onde fiquei sabendo do DdFCuF
n-dimensional, que fez o cartaz
Utmost Xaos, o ocultista das forças especiais, que faz astrofísica nas horas vagas
Pará no Havai, que não está no Havaí, nem tampouco no Pará
Talk like a physicist; o nome já diz tudo
Humor na ciência
It's equal, but it's different, um excelente blog científico (razoavelmente) sério escrito por um físico brasileiro
Cosmic Variance
Imaginary Potential

4 comentários:

Anônimo disse...
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s1mone disse...

Poxa! Perdi! Beijos!

|3run0 disse...

Bom, se vc leu meu post não perdeu, só chegou um pouco atrasada ;-)

Marcelo Pará disse...

Bruno, não rola de ter comida mexicana em outro horário??hein?hein? apesar de não poder comer pimenta, uma comida mexicana é sempre bom. Mas chego do LNA na quinta-feira de tarde.