terça-feira, 23 de outubro de 2007

Casa, Rio de Janeiro
Enfim, doutor

defesa_tese3-1Defendi...

Agora sou doutor. Vou dizer para o Gabriel me chamar de Dr. Papai.

É difícil descrever o que estou sentindo. Acho que ainda não assimilei tudo, é como se descobrir um dia 20 quilos mais leve.

A defesa correu muito bem. Falei bem como a muito tempo não falava, e a banca (acho) gostou muito da tese; não só por terem elogiado, mas por ficarem efetivamente entusiasmados com alguns dos resultados que eu mostrei.

UPDATE: A tese, online
UPDATE2: Agora com repercursão internacional ;-)

Vale a pena neste momento levantar minha genealogia acadêmica [1,2]. Sou

Bruno Mota (2007),
aluno de
Marcelo José Rebouças (1981),
aluno de
Mario Novello (1972),
aluno de
Josef Maria Jauch (1940),
aluno de

Edward Hill (1928),
aluno de

John Hasbrouck Van Vleck (1922 e prêmio Nobel em 1977),
aluno de
Edwin Crawford Kemble (1917),
aluno de
Percy Williams Bridgman (1908, e prêmio Nobel em 1946),
aluno de
Wallace Clement Sabine (1888),
aluno de
John Trowbridge (1873)

A historia termina (ou começa) com John Trowbridge, um cara que revolucionou o ensino de física em Harvard, e aparentemente não teve orientador. O seu aluno, Wallace Clement Sabine, fundou o campo de acústica arquitetonica (!) e, embora extremamente popular, nunca recebeu um doutorado formal.

Percy Williams Bridgman foi meu primeiro antepassado a receber um doutorado (em Harvard), e o primeiro prêmio Nobel. Ele estudou os efeitos da alta pressão em materiais e a sua respectiva termodnâmica. Se suicidou com um tiro quando sofria de uma doença terminal, e sua nota de suicídio, dizendo "It isn't decent for society to make a man do this thing himself. Probably this is the last day I will be able to do it myself.", passou a ser citada tanto por oponentes quando defensores da eutanásia.

Edwin Crawford Kemble começou a trabalhar com a física dita moderna (e teórica), em uma época em que as universidades americanas de ponta estavam em um processo de transição entre um enfoque quase exclusivo em física experimental, para um enfoque mais teórico.

John Hasbrouck Van Vleck foi o segundo laureado com o Nobel, por suas contribuições à teoria do eletromagnetismo. Saiu de Harvard para ensinar na universidade de Minnesota em Minneapolis, que formou todos os meus antepassados não-brasileiros desde então.

Em tempos mais modernos, Edward Lee Hill trabalhou sem aparente distinção em física quântica. Joseph Maria Jauch ficou famoso por seus estudos dos fundamentos filosóficos e axiomáticos da teoria quântica. A cosmologia só surgiu na minha arvore genealógica com o Mario Novello, um dos grandes cosmólogos do país, que orientou o Marcelo, meu orientador, que foi um dos pioneiros da topologia cósmica por aqui. E eu sou eu. Saber de onde viemos é importante para decidir para onde vamos. Neste sentido, é impressionante a variedade de tópicos pesquisados por meus antepassados nestes últimos 134 anos.

Eu, meu orientador e a banca


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sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Defesa

Doutorado

Detecção e detectabilidade em topologia cósmica

Local: CBPF - Auditório do 6º andar - 15 horas
Início: 22/10/2007
Fim: 22/10/2007

Candidato:
Bruno Coelho César Mota

Banca examinadora:
Prof. Marcelo José Rebouças - Presidente/Orientador - CBPF
Prof. Carlos Augusto Romero Filho - UFPB
Prof. Ioav Waga - UFRJ
Prof. Antonio Fernandes da Fonseca Teixeira - CBPF
Prof. Nelson Pinto Neto - CBPF
Prof. Sérgio José Barbosa Duarte - Suplente - CBPF

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domingo, 14 de outubro de 2007

Casa do cunhado, Barueri
Groundhog night

Estou em Barueri, onde mora o irmão da Ceci (Alexandre) com a esposa (Flávia) e filho (João, que está fazendo dois anos, e é a razão principal da visita). Eles moram em um agradável porém ridiculamente pacato condomínio fechado, então não posso dizer que estou convivendo com culturas exóticas e situações extremas. Tentando na medida do possível remediar tamanha paz, resolvi ontem sair para passear (a pé) por volta das 3 da madrugada. No Rio, onde é tranquilo de noite não é seguro, e onde é seguro de noite não é tranquilo; então posso dizer que estou aproveitando uma oportunidade única de ter tranquilidade e segurança em um passeio insone. Talvez felizmente, isto soa melhor em um blog do que em uma brochura turística.

De qualquer maneira, o passeio ontem foi agradável. Uma das facetas da placidez local é que todas as ruas tem nomes de pássaros e são praticamente indistinguíveis. Assim, obviamente, após vagar por cerca de meia hora, eu estava vagamente perdido. Por sorte, atraí as suspeitas de um segurança de carro, que após passar por mim várias vezes em baixíssima velocidade, finalmente parou e me interpolou.

´Não, eu não sou morador.´
´Sou hospede, mas não sei exatamente onde.´
´É uma rua com nome de pássaro (duh!). Colibrí ou algo assim.´

Eu tenho um certo talento para fazer coisas absolutamente inocentes em circunstâncias que levantariam suspeitas em qualquer pessoa com alguma imaginação ou acesso à televisão (´passeio noturno´? ´folha de bananeira´? Espera até o Capitão Nacimento ouvir isto). Obviamente o guarda foi descobrir quem diabos era este tal ´Alexandre´ (eu sei o sobrenome, pelo menos). Imaginei o dito cujo sendo acordado pelo telefone as 3:30 da matina com perguntas sobre um certo Bruno, o Andarilho. Imaginei também a sua concomitante e potencialmente irresistível tentação de dizer - ´Bruno? Nunca ouví falar...´

Felizmente o guarda só confirmou a existência do Alexandre, o Morador, e da alameda correta (Curió, não Colibri), e ainda me ofereceu uma carona (daí a tal sorte, já que de outra maneira eu provavelmente andaria por um bom tempo até achar a casa certa).

Hoje resolví repetir a dose; mas desta vez de forma ainda mais característica. Peguei uma bicicleta emprestada, e sai pedalando. O condominio é cortado por uma série de suaves vales arborizados, e as descidas eram tão agradáveis quanto eram penosas as subidas. Fui longe desta vez, passando por diversas casas de explendor e gosto variáveis (mas nada parecido com certos horrores que povoam o Mangabeiras e o Belvedere, em Belo Horizonte). Não estava atrás de uma vista ou local específico (embora tenha apreciado, do topo de uma colina, uma visão previlegiada de Baruerí; não é exatamente Paris, mas dá para entreter), queria só aproveitar a noite. Na volta, após uma subida mais brava, parei para descansar um pouco. Eis que me aparece, poucos momentos depois, o meu amigo segurança! Sem suspeitas aparentes desta vez, ele me reconheceu de imediato, e me informou jovialmente que a rua Curió estava longe e não era, de todo modo, fácil de achar. Me despedi da figura, e continuei pedalando. Obviamente não achei a &¨#*&¨# da Alameda Curió, mas cruzei novamente com meu amigo diversas vezes. A cada encontro, ele me fornecia complicadas orientações para chegar na Curió (1a esquerda, 5a direita, 1a direita de novo, 2a esquerda, vira depois do quebra mola, etc.). Após seguir tais instruções, eu invariavelmente chegava em uma alameda com o nome de algum outro pássaro (que eu então imediatamente imaginava assando em um espeto como forma de terapia). Quando cheguei em uma tal de Alameda Quetzal, apelei. Ví um carro saindo de uma garagem, e parti em perseguição. A senhora no carro, única ocupante, não só não me respondeu com um taser ou spray de pimenta, como se ofereceu para me levar até a maldita Curió. E lá foi ela, alegremente por subidas e decidas, enquanto eu pedalava furiosamente atrás. A primeira alameda em que me levou, por engano, era Canário (ou Avestruz, ou Tucano, ou Siriema; eu estava entretido demais com meus pensamentos de holocausto ornitológico para me importar). Combinamos então que ela iria fazer um reconhecimento avançado, achar a ave maldita, e voltar para me pegar. Eu temia que ela fosse tragada pela mesma anomalia espaço-temporal que sugara a Alameda Curió (ou aproveitasse a deixa para alertar a segurança). Porém, fiel a sua palavra, ela voltou, e me conduziu finalmente, toleravelmente são e completamente salvo, até a Alameda Curió.

Não me arrependo do passeio. Foi certamente a coisa mais inusitada que eu poderia viver aqui em Baruerí.

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sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Hotel Hardman, João Pessoa
Vida de Hobbit


Estou a três dias aqui em João Pessoa, onde ocorre o 3o IWARA, em um hotel com o improvável nome de 'Hardman'. Em todos os aspectos, esta está sendo um congresso melhor que o Partículas e Campos. Academicamente, um encontro menor permite uma maior interação com os demais participantes, a comida é melhor e mais diferente, e, finalmente, ao contrário da pasmaceira de Aguas de Lindoia, estou aqui a poucos passos da praia, e a alguns quarteirões de barraquinhas de camarão e outros petiscos. Finalmente, apesar de comer muito (em volume e frequência), não tive até agora nenhum problema, afora o ocasional campo escalar gastrointestinal. A pizza em AdL é por enquanto somente uma triste e distante memória.

Os seminários foram em geral muito bons, com alguns excelentes. Porém, assim como no IWARA anterior, certos tópicos são apresentados de forma excessivamente remota ou insular, e alguns seminaristas são preguiçosos demais para valerem a pena. Nesta última categoria, incluo alguns com um inglês macarrônico demais ('nau ui uíu prêsenti aur rêsultis uitchi xôu the iuniverse iz noti ax-selerátim in the Ruble diagram'), ou cuja apresentação só pode ser entendida por quem lê mentes ('No problema do confinamento de quarks/energia escura/relatório do mensalão usamos o formalismo TKGU para derivar a equação de Tchulambisky segundo o método de Crapoviski & Chuchubilinski. Introduzindo uma parametrização HFM, ajustamos os 15 parâmetros livres aos 4 pontos experimentais, para mostrar que a equação de estado/curva de luz/careca do Marcos Valério é crescente/decrescente/continua a mesma').

Fora a parte científica, estamos vivendo uma vida de Hobbit. No dia em que chegamos (dia livre!), após a praia, fomos andar um pouco. João Pessoa é uma cidade pequena, mas bem cuidada. O primeiro jantar da noite consistiu de camarão frito, carangueijo (aberto a marteladas), e uma sopa de ovas de peixe com leite de coco. O segundo jantar foi no hotel, e um tanto decepcionante. Saimos novamente para andar, e terminamos a noite com um leve terceiro jantar de feijões verdes e carne seca. Na noite seguinte, fomos na versão local do Xapuri, um self service com dezenas de pratos de comida local. No caso, incluindo diversas permutações de feijão verde, carne de sol/seca/charque, bode, macaxeira, queijo coalho e manteiga, abóbora, etc.

Passamos assim (eu, a Mariana e o Sandro, e as vezes o Marcelo) um bom tempo com o Glenn Starkman, que se revelou não só ótima companhia como também um rematado pé de valsa. Além dele, também conheci várias outras pessoas divertidas e interessantes; acho que o ambiente aqui favorece a interação, em grande parte devido à praia. Não há nada comparável a sair de um seminário direto para a o mar, ou ler um paper (ou livro, ou jornal, ou embalagem de oleo vegetal) deitado em uma canga embaixo de um coqueiro.

Hoje é o meu último dia, e pego um vôo na madrugada de volta para o Rio. Fizemos um passeio pela parte histórica da cidade (a praia é aparentemente ahistórica ou anti-histórica). O mosteiro de São Francisco é surpreendente, com uma arquitetura barroca que talvez não apresente grandes novidades para quem já foi várias vezes à Ouro Preto, mas também com uma vista espetacular do rio, e uma coleção de arte popular genuinamente interessante. O meu único arrependimento é não ter visitado a praia fluvial de Jacaré (da foto (puramente ilustrativa), que não é minha), onde o rio e o mar se encontram. Dizem que um saxofonista toca o bolero de Ravel todo dia ao por do sol...

Agora estou esperando o povo ligar para irmos comer o primeiro jantar (no hotel), em preparação para o segundo (em uma barraca de frutos do mar a beira idem). Vida dura...

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"Bayeux é cidade de corno. Dizem que se você jogar umas argolas para cima lá, não cai uma no chão"

João Carlos, autor da frase acima e motorista do taxi que nos levou para o passeio no centro da cidade, também me trouxe no aeroporto, que fica na pequena cidade de Bayeux (homônima de uma cidadezinha na Normandia, palco do Dia D, e onde foi tecida a famosa tapeçaria de Bayeux). Ele mora a 30 anos em JP, e conhece bem a cidade e sua história. Em particular, ele adora falar sobre a morte de João Pessoa, presidente da Parayba (equivalente a governador hoje), assassinado por razões politico-amorosas por seu rival, João Dantas. A inevitável 'mulher no meio' era (segundo ele) amante de JP, mas se debandou para o lado de JD, cortando o cabelo como homem para passar desapercebida (e dando origem aos versos 'paraiba masculina mulher macho sim senhor'). Em retaliação, JP fez publicar na imprensa alguns podres de JD. Este último, ofendidíssimo, jurou matar JP na primeira oportunidade. Tempos depois, em Recife, JP saia pela porta dos fundos de um café (possivelmente para evitar assassinos entocaiados), quando coincidentalmente JD entrava, também pelos fundos (dando origem a algumas dissertações de mestrado historico-freudianas, suponho). Este sacou mais rápido, e aquele caiu morto. Pelo menos é o que o motorista de taxi me disse. Não sei o quanto disso é verdade, mas é uma historia interessante.

PS: Publiquei também um post que havia escrito em Águas de Lindoia, na rodoviária onde não havia internet, e fiz um update no post escrito na rodoviária de São Paulo. Estou me sentindo a versão rodoviária do Paul Theroux
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No caminho para o restaurante de peixe ('Olho de Lula'), parei para comer um acarajé, e acabei conversando com um simpático senhor que fazia o mesmo. Ele tem um site devotado ao estudo e discussão sobre o estado da Paraiba, que pode ser encontrado aqui.

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