terça-feira, 19 de julho de 2011
Hotel Alma Domus, Siena
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Antico Spedale del Bigallo, Florença
Para baixo todo santo ajuda
"De bicicleta?! Você pode até descer até Florença de bicicleta, mas subir é complicado.." -- me disse o administrador da Spendale del Bigallo, a hospedaria onde estou, quando mencionei meus planos por email. Tudo bem que o site afirma que ´ciclistas são bem-vindos´, então a idea de ir e voltar na minha bicicleta dobrável não era de todo impensável. Mas não foi exatamnte um comentário encorajador.
O Bigallo é uma colina na trilha de peregrinos que vai até Roma (e que, para o norte, descamba em Canterbury) . A antiga hospedaria dos romeiros eventualmente se tornou um mosteiro, e é agora uma albergue extremamente simpático. Com uma vista panorâmica da cidade, ele ainda conserva a atmosfera contemplativa original, apesar das interrupções cacofônicas de algumas turistas alemãs bêbadas que estão neste momento cantando no jardim. Na cozinha, tudo é superlativo. Enormes pias de pedra ao lado de uma lareira do tamanho de um pequeno quarto (no inverno, é possível acender o fogo em um dos cantos e e aquecer em um banquinho colocado lá dentro). Além disso, eu já disse que ele fica em cima um morro?
Eu cheguei em Florença duas noites atras, depois de passar o dia inteiro andando em Roma. Fui de taxi para o Bigallo, com a bicicleta na mala. No dia seguinte, subi na dita cuja e sai na direção de Florença (i.e., para baixo). É uma das sensações mais gostosas que existem descer uma colina de bicicleta, sem esforço ou barulho, sentindo na cara o vento relativístico oriundo do seu referencial em movimento relativo com a atmosfera. Mas após cada curva e ladeira vencidas sem esforço, eu não conseguia não pensar que eu teria que enfrentá-las novamente na volta, mas agora com a gravidade atrapalhando na exata medida em que me ajudava no momento.
Cheguei em Florença 8 quilomentros depois. Não há como fazer justiça a beleza e simetria (nas acepções original e moderna do termo) desta cidade. Mas pelo menos posso elogiar o sanduiche de tripa picante vendido em um beco em algum lugar entre o Duomo e o Bargello (a geografia local ainda é um pouco nebulosa para mim).
A volta foi tão penosa quanto me disseram que seria. O Bigallo é daquelas colinas côncavas, em que a inclinação vai aumentando a medida que vamos subindo. Graças a esta segunda derivada pouco coperatica, quanto mais cansado eu ficava, mas pesada ficava a marcha. Em uma atitude quas bíblica, um italiano que estava a ponto de sair de casa com sua vespa espontaneamente me ofereceu água. Fortificado pela solidariedde alheia, atravessei Bagno a Ripoli, e finalmente entrei na ruazinha tangente à mais alta praça da cidade; o último e mais íngreme (porém curto) do trecho percurso. Cheguei de pernas bambas na hospedaria, na entrada da qual uma supresa funcionária do albergue fumava um cigarro.
Hoje eu subi o morro de novo. Acredite, não fica mais facil. Amanhã vou ter que me mudar daqui. Quando eu fiz a reserva, não havia mais vagas disponíveis a partir do dia 16; não sei se gosto da ideia; se por um lado ficar mais perto da cidade, vertical e horizontalmente, é mais comodo, por outro é dificil imaginar um lugar mais agradável para ficar. Vamos ver.
PS: Escrevi este post a três dias, mas só estou subindo ele agora...
terça-feira, 12 de julho de 2011
Casa, Rio de Janeiro
Zumbizando poesia vogon
Estou indo para a Itália amanhã. Hoje. Já que são quatro da manhã. O propósito da viagem é
i) Apresentar em um encontro em Florença um trabalho sobre como calcular a massa média de neurônios e glias no cérebros (e subestruturas) de diversas espécies de primatas e roedores, baseado no fato de que as células gliais apresentam uma simpática uniformidade, não importando muito onde ou em que bicho elas se situam.
ii) Fazer um passeio de bicicleta (dobrável!) por algumas cidades da Toscana; um tour de 4 dias subindo e decendo uns 60km de morro com míseras 7 marchas por dia, no estilo 'O que não te mata te deixa mais forte'
iii) Fazer um tour por Portugal e o oeste espanhol, de carro, com a minha família, que encontro em Lisboa no final do mes.
É uma viagem eclética, e deveras promissora. O único problema é que, no meu estado atual, acho que vou passar uma semana na Itália só dormindo. Explico...
O final deste semestre lembrou muito um engavetamento em alta velocidade: É muita coisa tentando acontecer em pouco tempo e pouco espaço; colisões imprevistas levam à acomodações que são tão desajeitadas quanto são desconfortaveis; e você só se da conta da gravidade da situação quando já está no meio dela. O numero de coisas que precisavam ser resolvidas antes da viagem parecia se resetar sempre que aproximava do zero. As provas e relatórios e notas de quatro turmas de Física Experimental... Três papers para terminar de redigir, um deles com um prazo... Um relatório para pedir renovação da minha bolsa... o Poster que vou apresntar... os preparativos da viagem.
O resultado é que faz quase uma semana em que durmo 2 - 3 horas por umas duas noites consecutivas, entro em colapso morphético no terçeiro, e recomeço o ciclo. Agora, a 8 horas da minha viagem, só falta fazer a mala, cortar o cabelo, entregar o relatório e terminar um paper. Facil. Ou então a parte do meu cortex pré-frontal responsável pelo bom senso já foi desligada.
Na minha situação atual, consigo trabalhar em condições quase normais; mas ocasionalmente eu sofro um piripaque e faço coisas estranhas. Como escrever este post. Ou escrever o epitáfio de um irritante mosquito que matei após várias picadas e palmas anti-aereas:
Warm blood flows in her proboscis, can't stop now. A wall of flesh approaches; infinitely slow, and yet inescapable. Blood heavy, she accepts fate. Savor one last bite; and in the brief moment before being crushed, think deeper and more sublime thoughts than ever conceived by a mammalian mind. Oh, the warm, salty tang of irony!Como bem disse o Catão, "E esse foi o tema do primeiro (e único) sarau de poesia Vogon da Galáxia. Trechos do evento ainda são utilizados ocasionalmente em presídios e guerras civis especialmente violentas". No facebook, foi capaz de unir israelenses e palestinos, dispostos a esquecer suas diferenças e unir forças para não ter que ouvir/ler mais coisas do tipo. O que obviamente me sugeriu escrever uma sequência... Pois palmas não são a única, ou a mais elegante, maneira de se matar um mosquito.
Oh Laser, photonic foe! Why do your bosons excite my leptons so?
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quarta-feira, 29 de junho de 2011
Lareira, Hotel Orotour, Campos do Jordão
Idílio Paleolítico
- |3run0 , 6/29/2011 0 pessoas sem mais o que fazer
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Casa, Rio de Janeiro
Interstícios
Um visitante ocasional ao prédio do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, na Urca, onde fiz meu doutorado) poderia compreensivelente supor que por lá só existem 6 andares. Todos os gabinetes e salas identificados ficam entre o térreo e o sexto andar, que é até onde vai o elevador. Mas o uso judicioso de certas portas discretas de acesso às escadas de incêndio e, ocasionalmente, de grampos de papel engenhosamente torcidos, permite o acesso a um espaço que é melhor definido pelo que ele não é: o lado de fora pela parte de cima; onde se acomula toda a infra-estrutura (acro-estrutura?) que não poderia propriamente ficar dentro do prédio (antenas, para raios, caixas d'água, etc). Pois uma consequencia inescapável da orientabilidade da geometria do prédio é que, se gabinetes e salas de aula precisam ficar dentro deste último, limitadas acima por um teto, então necessariamente uma superfície horizontal externa deverá existir: um telhado.
O telhado em questão tem uma vista espetacular, interpolando panoramicamente a Praia Vermelha, o Pão de Açucar e a Marina da Glória. Um vista melhor, de fato, do que a de qualquer gabinete. Posso dizer que fiz boa parte do meu doutorado lá em cima, sentado sobre uma toalha mantida na minha sala com este expresso propósito e bebendo coca-colas enquanto lia artigos e fazia contas (ou conchilava). Era uma maneira agradável e produtiva de passar o dia. Mas é compreensivel que uma senhora, ao olhar através da janela de um prédio vizinho, chegasse a conclusões um tanto menos benignas, após me ver no topo de uma caixa d'água de concreto, alternadamente sentado contemplativamente de cabeça baixa, e indo e voltando quase até a beira,a passos lentos e de cenho franzido.
A vista do topo do meu prédio novo em Laranjeiras, embora agradável, é menos espetacular que a do CBPF. Mas pelo menos até agora ainda não fui confundido com um suicida. Mas é um espaço com um(a falta de) propósito idêntico. Tais espaços intersticiais surgem de forma emergente na interface de espaços que tem um propósito; eles não são planejados, mas são inevitáveis. Em lugares enfaticamente não planejados, tais como Londres, tais interstícios, quando marinados em aguns séculos de história, praticamente definem o traçado urbano. Vãos entre prédios se tornam becos, ruelas e ruas; e praças se formam em defeitos topológicos do traçado urbano (que é um palimpseto fóssil muito mais antigo que qualquer estrutura, e que em alguns lugares remonta a tempos romanos).
No rio, tais interstícios publicos e fosseis urbanísticos são mais sutis, mas me afetam as vezes até de maneira inconciente. Estou gostando muito do meu novo apartamento, e bairro. Tanto, de fato, que comecei a me perguntar porque. Em ambos os casos, a resposta parcial é que o espaço parece menos tolhido. No nucleo duro da zona sul, em Ipanema, Leblon e (principalmente) Copacabana, tudo parece brigar por espaço, tentando colocar mais gente e mais coisas no mesmo espaço limitado. Com mais ou menos primor, os prédios se expremem como passageiros no metro de Tóquio; a visada nunca consegue chegar muito longe sem ser interrompida. E este expremer constante não deixa lugar para história: construções, traçados e interstícios antigos não duram muito em tal ecosistema, e são rapidamente absorvidos por vizinhos em expansão ou novas construções, de modo que nem mesmo a sua memória é preservada.
Laranjeiras tem mais história e menos pressão. A agua potável do rio Carioca atraiu os portugueses, que se estabeleceram por aqui antes mesmo de fundarem a cidade do Rio de Janeiro e quando Copa era um mangue remoto. De certa forma, embora ele esteja quase todo canalizado, o Carioca ainda define muito do traçado do bairro. Desta história interstícios como o Parque Guinle, a General Glicério e o Largo do Boticário surgiram e foram preservados, assim como diversas ruelas de curioso traçado e predios interessantes. Os prédios não são necessariamente maiores, mas são mais... espaçosos. É como se eles tivessem sido criados soltos, ao contrário dos prédios de cativeiro de Copa e redondezas.
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sábado, 11 de junho de 2011
Hotel Amerian, Puerto Iguazu
Érre xê
Ontem, terminado o congresso, eu e a Mari (da Física/UFMG) alugamos um carro para uma excurção mercosúlica. A ideia era passar por várias ruinas Jesuitas, na Argentina e Paraguay, e voltar hoje. Para uma viagem organizada as pressas, consegui elaborar um roteiro bastante detalhado, e li bastante sobre a história das missões jesuítas. A única coisa que não fiz foi verificar quais os procedimentos de entrada na Argentina. Mercosul, pais irmão e tal, me lembro de decidir levar só a carteira de motorista, e não o passaporte ('levo a carteira de motorista, e corro menos risco no Paraguai...' - pensei). Depois de uma pequena celeuma desinteressante com a administração do hotel do congresso, fomos ao aeroporto e pegamos o carro. Tudo verificado, atravessamos a fronteira. Para dirigir além de Puerto Iguazu, me informaram, era preciso solicitar um 'permisso' na alfândega. Solicitei, portanto, o permisso. Entreguei os documentos do carro e minha carteira de motorista. "Ond essta seu érre xê?" - me perguntou a policial argentina. "Na parte de baixo do documento em suas mãos" - respondi. "Naao, carteera de mótorissta naao vale. Só o érre xê". Alguma iterações deste discussão depois, finalmente consegui entender que, sem meu documento de RG ou meu passaporte, eu não poderia ir além de Puerto Iguazu. Saco. Saco ao quadrado. Saco^Saco. Eu tenho que dizer que passei algum tempo me sentindo (e agindo) como uma criança para quem o natal não veio.
No final, o dia se acertou. Trombamos com outros três colegas expatriados na churrascaria em que almoçamos, e fomos todos juntos nas cataratas do lado argentino, onde eu passei de barco (e me enxarquei) praticamente embaixo das quedas d'água. (dois dias antes eu já havia ido a margem brasileira). São dois passeios que valem a pena; no lado Brasileiro pela vista (pense na vista do Rio, a partir de Niteroi), e do lado Argentino pela proximidade quase visceral com a torrente de água, de cima e de baixo.
O barco parte de uma pequena e tranquila praia fluvial, no final de uma trilha pela selva. Inicialmente ele vai muito rápido, desviando de eventuais rochas semi-submersas, em um rio canalizado entre dois barrancos tão altos quanto ele é largo. As cataratas começam com um murmúrio, que vai ficando mais alto enquanto elas primeiro aparecem, distantes a frente, e depois crescem e continuam a crescer impossivelmente altas e barulhentas. Quando formam um paredão de agua e pedra ao nosso lado, o barco começa a ter dificuldades em vencer a correnteza. Na entrada da garganta, o gradiente da superfície líquida já é notável; o barco tem que praticamente subir uma colina de agua escoente. Lá dentro, estamos imersos em uma chuva estacionária lançada pelos gaisers produzidos pela água que cai espalhafatosamente sobre as pedras e sobre o rio. Subimos e descemos em cima de ondas um tanto incoerentes, que se propagam de um lado para outro, indecisas*.
Depois de um espaço de tempo indefinível, eu estava em outro cais, enxarcado até os ossos, e com uma trilha a minha frente levando até o topo das cataratas, onde reencontrei meus amigos. Saimos do parque a noite; eu e Mariana para caçar algum lugar para ficar em Puerto Iguazu (e não em Santo Ignacio...), e os outros de volta para o Brasil.
Foi, no final das contas, uma viagem interessante, principalmente pelas companhias, planejadas e extemporâneas. Mas da próxima vez que eu vier a Foz, farei o meu roteiro jesuita. Com meu érre xê.
* Repare que o volume da agua não tem dificulde em encontrar o seu caminho para sair da garganta. É o momento linear transmitido pelas ondas, ou pelo menos aquele associado aos seus comprimentos de onda mais longos, que têm dificuldade de enxergar a saida.
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segunda-feira, 6 de junho de 2011
Centro de Convenções Rafain, Foz do Iguaçu
Barreiras culturais
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terça-feira, 5 de abril de 2011
Casa, Belo Horizonte
José Alencar e eu

Eu criei o seu verbete na Wikipedia...
Repito: Nunca encontrei o falecido, ou tive por ele qualquer curiosidade excepcional. Mas em 2004, quando a wikipedia era novidade, eu queria fazer um experimento: estudar, em tempo real, como um verbete evolui, da sua criação até a maturidade. Como eu escrevi aqui na época:
[Eu] queria algo que fosseO texto que escrevi era curto, com somente cinco frases factuais e não controversas:
a) Curto: Eram 3 da manhã e não queria ter mais que 2 minutos de trabalho
b) Fácil: Não queria pensar muito; um pequeno artigo factual não controverso
c) Útil: Um verbete curto só seria útil se fosse sobre um tema pontual e obscuro (para os leitores da Wikipedia). Algo que vc poderia ler mencionado em uma página na rede, e se perguntar o que é.
Decidi então escrever um paragrafo curto sobre... José Alencar! Nosso vice-presidente... Não tenho nenhum interesse especial pelo cara, nem sabia muito sobre ele. Mas ele se encaixava em todos os criterios: Uma micro-biografia é simples, incontroversa, e um carinha randômico lendo o NYT acharia o verbete útil (pq ele só que saber quem é José Alencar, não ler José Alencar: Vida e Obra). Fiz uma pesquisa de 1 minuto, e escrevi o texto. A lógica é bizarra, mas consistente...
Ao longo dos anos, eu acompanhei a evolução do artigo com ares paternais. A primeira edição veio quase um mês depois, colocando em bold o nome do verbete e adicionando uma bandeirinha para indicar que o artigo tratava do Brasil. As ediçoes foram então se acumulando gradualmente, adicionando detalhes, formatação, uma simpática foto, e bibliografia. Em 2008, o verbete tinha 5 paragrafos e cerca de 4000 bytes (contra os 600 originais). Após a morte de Alencar, o crescimento foi mais rápido: o artigo ganhou corpo, dividiu-se em seções, e triplicou de tamanho. Mas em momento algum um pretendente a biógrafo ou enciclopedista se sentou em frente ao computador para escrever ab initio o verbete definitivo após longa pesquisa, a mãe de todos os verbetes, sobre o José Alencar. Pelo contrário, na melhor tradição da wikipedia, o razoavelmente completo artigo atual é o resultado de quase 500 pequenas contribuições, que coletivamente conseguiram compor um texto genuinamente digno de uma enciclopedia.José Alencar Gomes da Silva is the vice president of Brazil since 2002, under president Luis Inácio Lula da Silva. Born in Muriaé, in the inland state of Minas Gerais in October 17th 1931, he became a successful businesman, and was elected for the Senate in 1998. In 2001 he was selected as Lula´s running mate, in an effort to assuage worries about the then candidate´s supposed anti-business bias.
In office Alencar has often criticized his own goverment for failing to lower interest rates. In November 2004 he was sworn in as defence minister, following the resignation of José Viegas.
No nivel molecular, a evolução biológica é extremamente conservadora. Estruturas desenvolvidas para uma função e situação específicas são adaptadas e readaptadas para os mais diversos fins; o notório ciclo de Krebs preserva em seus cantos mais recôndidos uma série de reações que aconteciam expontaneamente nos mares primordiais, cooptadas em um ciclo metabolico cujas ideosicrasias nos contam sua história. Analogamente, na Wikipedia o desenvolvimento de cada verbete tem mais em comum com a evolução de uma bacteria a partir de uma sopa bioquímica primordial do que com a construção de um prédio. Ao longo da evolução de um verbete, eu gostaria de estudar se, e como, eram preservados as evidências fosseis de sua origem.
De fato, das cinco frases que compunham o meu verbete original, nada menos que quatro estão presentes na versão atual, com pequenas modificações. Ao longo dos anos elas mudaram de lugar e de ordem; antes juntas, foram separadas por frases e paragrafos novos. Mas José Alencar continua nascido em ´Muriaé, in the inland state of Minas Gerais´. Se em 2004 ele foi ´selected as Lula´s running mate, in an effort to assuage worries about the then candidate´s supposed anti-business bias´, hoje dizemos que ele ´was tapped to be Lula's running mate, in an effort to assuage worries about the candidate's alleged anti-business bias´. E se antes ele ´has often criticized his own goverment for failing to lower interest rates´, mais recentemente ele ´often criticized his own administration for failing to lower the Central Bank's base interest rates´.
É claro que qualquer verbete mais completo incluiria a informação contida nas frases acima. Existem porém incontáveis maneiras concebíveis de se expressar tais ideias; mas foram as estruturas e termos que eu circunstancialmente escolhi em 2004 que continuam a ser usadas. O texto atual, muito mais extenso e complexo, preserva a linguagem fossil primordial, que em maior ou menor medida ainda guia o seu desenvolvimento. Assim como as mitocôndrias no interior de nossas células preservam e em grande parte se definem pelos azares pré-cambrianos de sua evolução.
Não só na Wikipedia e na bioquímica o estado atual é, mais que um consequencia, um registro de sua história. Sistemas que evoluem ao invés de serem criados costumam apresentar esta propriedade. Unidades angulares, constelações e relatos mitológicos sumérios foram (e são) usados milênios depois de que a civilização que as originou havia sido esquecida. As circunstâncias específicas, geografia e história de uma península montanhosa as margens do Egeu e de uma cidade de origens conturbadas fundada sobre sete colinas beirando o Tibre determinam não só a nossa terminologia política, mas em certa medida ainda moldam nossas ideias idem. A internet hoje também é o resultado das circunstâncias da origem de seus vários componentes. Do uso do caracter ´@´ aos protocolos abertos, passando pela neutralidade de rede, a separação em camadas entre conteudo e a sua transmissão, e o ethos confrontativo e anárquico da Usenet, tudo poderia ter surgido de forma diferente. Mas agora que a rede se tornou o sistema nervoso mundial, é muito dificil mudar os seus fundamentos. Algo que foi criado quase sem supervisão ´adulta´ ou hierarquia definida pela subcultura nerd de uma sociedade liberal, conseguiu se tornar ubíqua e imprecindível antes que o mundo se desse conta das consequencias deste fato. Tivemos, creio, muita sorte.
- |3run0 , 4/05/2011 4 pessoas sem mais o que fazer