sexta-feira, 22 de julho de 2011

Hotel Fawlty Towers, Roma
Renewed shall be the bike that was broken

Existem certos hábitos e costumes, peculiares a certos paises, que são altamente civiliziados, mas que passam desapercebidos até nos darmos conta da sua ausência. Por exemplo:

  • Completes estranhos compartilhando refeições comunais em trens russos.
  • Bocais de ar comprimido disponíveis gratuitamente em quase todos os postos brasileiros (isto faz uma falta enorme por aqui, e em outros lugares por onde andei de bicicleta).
  • Fontes de agua potável em cada praça ou logradouro público significativo na Itália. Tradição até um pouco surpreendente, considerando o comercialismo um tanto crasso que existe aqui procurando extrair cada último centavo turistico do patrimonio histórico local. Mas, de qualquer forma, uma tradição muito bem vinda.

Estou em Roma, onde durmo uma única noite antes de embarcar para Portugal, onde encontrarei a minha família para um tour automtivo por Portugal e Espanha ocidental. A articulação do guidom da minha bicicleta se rompeu em estágios, começando a bamber na troca de ônibus em Colle Val d´Este e se abrindo definitavamente na saida da estação de trem aqui em Roma. Fico muito agradecido pela bicicleta ter esperado até agora para enguiçar; na Toscana isto teria sido catastrófico; aqui é meramente um estorvo. Inicialmente, achei um hotel ao lado da estação (e não o planejado albergue em Transtevere). São vários, as vezes uns em cima dos outros. Escolhi o Fawlty Towers só pelo nome; um hotel homônimo com uma série com o John Cleese tem que ser interessante. Fui então procurar uma loja de bicicletas para efetuar um reparo, sem sucesso. Finalmente, passando casualmente por uma ruela atrás de universidade, encontrei um galpão com pilhas de mesas e cadeiras quase até o teto. Dois italianos, devidamente motivados por fotos de mulheres peladas coladas nas paredes, trabalhavam na articulação de uma daquelas mesas usadas em casamentos ao ar livre, o que parecia ser o mote da oficina.

Entrei, sem muias esperanças, e perguntei a um deles em portuliano se eles teriam alguma peça para remendar a articulação (um retângulo de metal torcido na forma de U, com buracos para dois parafusos). Recebi em resposta uma longa, mas aparentemente amigavel, digressão em incomprensivel italiano, sobre a natureza intrínseca de retângulos metálicos e os imperativos categóricos associados aos parafusos que os transpassam (ou algo assim). Balbuciei algo vago em tons encorajadores em resposta. Ele então chamou o colega, e os dois começaram uma animada discussão, após a qual desapareceram momentaneamente nos fundos da oficina, de onde emergiram com diversas pedaços de metal, ainda em animado debate. Passei a meia hora seguinte assistindo a fabricação artesanal da tal peça, com furadeiras furando, serras serrando, italianos discutindo e gesticulando, e muitas marteladas sobre um formão. Eles não me cobraram nada, e após alguns ajustes sai pedalando do galpão. Os elfos em Rivendell não fizeram um melhor trabalho com a Anduril...
A peça nova era só um remendo, obviamente, mas foi suficiente para que eu visitasse boa parte de Roma pedalando. A vantagem de estar por aqui é que eu sei o suficiente sobre a geografia local antiga para me orientar minimamente no presente (e.g., depois do morro Palantino deve estar o circo máximo, com o Aventino do outro lado, etc.). Agora estou no hotel, de molho. Amanhã preciso aprender a dizer ´plastico-bolha´ em italiano...

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