quarta-feira, 29 de junho de 2011
Lareira, Hotel Orotour, Campos do Jordão
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Casa, Rio de Janeiro
Interstícios
Um visitante ocasional ao prédio do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, na Urca, onde fiz meu doutorado) poderia compreensivelente supor que por lá só existem 6 andares. Todos os gabinetes e salas identificados ficam entre o térreo e o sexto andar, que é até onde vai o elevador. Mas o uso judicioso de certas portas discretas de acesso às escadas de incêndio e, ocasionalmente, de grampos de papel engenhosamente torcidos, permite o acesso a um espaço que é melhor definido pelo que ele não é: o lado de fora pela parte de cima; onde se acomula toda a infra-estrutura (acro-estrutura?) que não poderia propriamente ficar dentro do prédio (antenas, para raios, caixas d'água, etc). Pois uma consequencia inescapável da orientabilidade da geometria do prédio é que, se gabinetes e salas de aula precisam ficar dentro deste último, limitadas acima por um teto, então necessariamente uma superfície horizontal externa deverá existir: um telhado.
O telhado em questão tem uma vista espetacular, interpolando panoramicamente a Praia Vermelha, o Pão de Açucar e a Marina da Glória. Um vista melhor, de fato, do que a de qualquer gabinete. Posso dizer que fiz boa parte do meu doutorado lá em cima, sentado sobre uma toalha mantida na minha sala com este expresso propósito e bebendo coca-colas enquanto lia artigos e fazia contas (ou conchilava). Era uma maneira agradável e produtiva de passar o dia. Mas é compreensivel que uma senhora, ao olhar através da janela de um prédio vizinho, chegasse a conclusões um tanto menos benignas, após me ver no topo de uma caixa d'água de concreto, alternadamente sentado contemplativamente de cabeça baixa, e indo e voltando quase até a beira,a passos lentos e de cenho franzido.
A vista do topo do meu prédio novo em Laranjeiras, embora agradável, é menos espetacular que a do CBPF. Mas pelo menos até agora ainda não fui confundido com um suicida. Mas é um espaço com um(a falta de) propósito idêntico. Tais espaços intersticiais surgem de forma emergente na interface de espaços que tem um propósito; eles não são planejados, mas são inevitáveis. Em lugares enfaticamente não planejados, tais como Londres, tais interstícios, quando marinados em aguns séculos de história, praticamente definem o traçado urbano. Vãos entre prédios se tornam becos, ruelas e ruas; e praças se formam em defeitos topológicos do traçado urbano (que é um palimpseto fóssil muito mais antigo que qualquer estrutura, e que em alguns lugares remonta a tempos romanos).
No rio, tais interstícios publicos e fosseis urbanísticos são mais sutis, mas me afetam as vezes até de maneira inconciente. Estou gostando muito do meu novo apartamento, e bairro. Tanto, de fato, que comecei a me perguntar porque. Em ambos os casos, a resposta parcial é que o espaço parece menos tolhido. No nucleo duro da zona sul, em Ipanema, Leblon e (principalmente) Copacabana, tudo parece brigar por espaço, tentando colocar mais gente e mais coisas no mesmo espaço limitado. Com mais ou menos primor, os prédios se expremem como passageiros no metro de Tóquio; a visada nunca consegue chegar muito longe sem ser interrompida. E este expremer constante não deixa lugar para história: construções, traçados e interstícios antigos não duram muito em tal ecosistema, e são rapidamente absorvidos por vizinhos em expansão ou novas construções, de modo que nem mesmo a sua memória é preservada.
Laranjeiras tem mais história e menos pressão. A agua potável do rio Carioca atraiu os portugueses, que se estabeleceram por aqui antes mesmo de fundarem a cidade do Rio de Janeiro e quando Copa era um mangue remoto. De certa forma, embora ele esteja quase todo canalizado, o Carioca ainda define muito do traçado do bairro. Desta história interstícios como o Parque Guinle, a General Glicério e o Largo do Boticário surgiram e foram preservados, assim como diversas ruelas de curioso traçado e predios interessantes. Os prédios não são necessariamente maiores, mas são mais... espaçosos. É como se eles tivessem sido criados soltos, ao contrário dos prédios de cativeiro de Copa e redondezas.
- |3run0 , 6/20/2011 2 pessoas sem mais o que fazer
sábado, 11 de junho de 2011
Hotel Amerian, Puerto Iguazu
Érre xê
Ontem, terminado o congresso, eu e a Mari (da Física/UFMG) alugamos um carro para uma excurção mercosúlica. A ideia era passar por várias ruinas Jesuitas, na Argentina e Paraguay, e voltar hoje. Para uma viagem organizada as pressas, consegui elaborar um roteiro bastante detalhado, e li bastante sobre a história das missões jesuítas. A única coisa que não fiz foi verificar quais os procedimentos de entrada na Argentina. Mercosul, pais irmão e tal, me lembro de decidir levar só a carteira de motorista, e não o passaporte ('levo a carteira de motorista, e corro menos risco no Paraguai...' - pensei). Depois de uma pequena celeuma desinteressante com a administração do hotel do congresso, fomos ao aeroporto e pegamos o carro. Tudo verificado, atravessamos a fronteira. Para dirigir além de Puerto Iguazu, me informaram, era preciso solicitar um 'permisso' na alfândega. Solicitei, portanto, o permisso. Entreguei os documentos do carro e minha carteira de motorista. "Ond essta seu érre xê?" - me perguntou a policial argentina. "Na parte de baixo do documento em suas mãos" - respondi. "Naao, carteera de mótorissta naao vale. Só o érre xê". Alguma iterações deste discussão depois, finalmente consegui entender que, sem meu documento de RG ou meu passaporte, eu não poderia ir além de Puerto Iguazu. Saco. Saco ao quadrado. Saco^Saco. Eu tenho que dizer que passei algum tempo me sentindo (e agindo) como uma criança para quem o natal não veio.
No final, o dia se acertou. Trombamos com outros três colegas expatriados na churrascaria em que almoçamos, e fomos todos juntos nas cataratas do lado argentino, onde eu passei de barco (e me enxarquei) praticamente embaixo das quedas d'água. (dois dias antes eu já havia ido a margem brasileira). São dois passeios que valem a pena; no lado Brasileiro pela vista (pense na vista do Rio, a partir de Niteroi), e do lado Argentino pela proximidade quase visceral com a torrente de água, de cima e de baixo.
O barco parte de uma pequena e tranquila praia fluvial, no final de uma trilha pela selva. Inicialmente ele vai muito rápido, desviando de eventuais rochas semi-submersas, em um rio canalizado entre dois barrancos tão altos quanto ele é largo. As cataratas começam com um murmúrio, que vai ficando mais alto enquanto elas primeiro aparecem, distantes a frente, e depois crescem e continuam a crescer impossivelmente altas e barulhentas. Quando formam um paredão de agua e pedra ao nosso lado, o barco começa a ter dificuldades em vencer a correnteza. Na entrada da garganta, o gradiente da superfície líquida já é notável; o barco tem que praticamente subir uma colina de agua escoente. Lá dentro, estamos imersos em uma chuva estacionária lançada pelos gaisers produzidos pela água que cai espalhafatosamente sobre as pedras e sobre o rio. Subimos e descemos em cima de ondas um tanto incoerentes, que se propagam de um lado para outro, indecisas*.
Depois de um espaço de tempo indefinível, eu estava em outro cais, enxarcado até os ossos, e com uma trilha a minha frente levando até o topo das cataratas, onde reencontrei meus amigos. Saimos do parque a noite; eu e Mariana para caçar algum lugar para ficar em Puerto Iguazu (e não em Santo Ignacio...), e os outros de volta para o Brasil.
Foi, no final das contas, uma viagem interessante, principalmente pelas companhias, planejadas e extemporâneas. Mas da próxima vez que eu vier a Foz, farei o meu roteiro jesuita. Com meu érre xê.
* Repare que o volume da agua não tem dificulde em encontrar o seu caminho para sair da garganta. É o momento linear transmitido pelas ondas, ou pelo menos aquele associado aos seus comprimentos de onda mais longos, que têm dificuldade de enxergar a saida.
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segunda-feira, 6 de junho de 2011
Centro de Convenções Rafain, Foz do Iguaçu
Barreiras culturais
- |3run0 , 6/06/2011 2 pessoas sem mais o que fazer