RAI Convention Centre, Amsterdam
Laranjas azedas
Estou aqui em Amsterdam desde 5a. Já fiz um extenso tour a pé pela cidade (em particular, pela arquitetura moderna na região do porto), e um tour ainda mais extenso de bicicleta, através da região ao norte da cidade, e suas vilas piturescas. Fiz ambas as coisas com o Graham, o meu host muito gente fina no CouchSurfing.
Mas hoje eu vou postar sobre o jogo de ontem...
Eu sai de casa sem saber muito bem onde assistiria o jogo. Eu queria a compania de outros brasileiros, e não somente por temer por minha integridade física se o Brasil ganhasse. Passei por inúmeros bares e resturantes decorados de laranja do chão até o teto; mas não vi nenhum verde e amerelo. Exceto por estes últimos, Amsterdam tinha aquela aparência de cidade fantasma a que estamos acostumados no Brasil em dia de jogo da seleção. Os holandeses levam o futebol a sério.
Alguns museus depois, eu estava no museu local de ciência ('Nemo'), e jogo começaria em 45 minutos. Comentei casualmente com a atendente da bilheteria que os funcionarios do Nemo deviam ser os únicos holandeses vestidos de amarelo (é o uniforme do museu). "Sim! Eu queria estar vestindo LARANJA hoje!!' - ela respondeu, enfática. Eu tive que mencionar a minha nacionalidade nesta hora, ao que ela respondeu com um 'boa sorte!' um tanto envergonhado, mas aparentemente sincero.
O museu é dirigido principalmente para crianças e adolecentes; mas a coleção é muito bem bolada. A parte dedicada à educação sexual é (como poderiamos esperar na Holanda) particularmente direta. Uma série de bonequinhos de madeira demonstra posições sexuais descritas no Kama Sutra; uma caixa com duas marionetes cônicas vermelhas permite aos atendentes simular um beijo de língua gigante; e um desenho animado estilo XKCD mostra de forma cronológica as mudanças nos corpos feminino e masculino entre a infância e a idade adulta. Para as crianças, havia uma apresentação sobre o princípio de causa e efeito. Enquanto uma apresentadora hiperativa (de avental branco, obviamente; mas usando um faixa laranja na cabeça) explicava o que estava acontecendo, uma complicada série de mecanismos iam se ativando em cadeia: Uma série de dominós solta uma bola que empurra uma alanca que libera um bondinho que furava um balão que deixava cair um peso em uma balança, que... No final, um foguete era lançado, fixando nas impressionáveis mentes infantis presentes a ideia de que o desenho do Papa-Léguas é um documentário.
Saindo do museu a poucos minutos do inicio do jogo, ainda sem ideia de onde ir, a atendente patriótica com quem havia conversado anteriormente me chamou de volta. Após uma breve conferência com a colega do lado, ela simpaticamente me informou que um bar a algumas quadras do museu estava decorado com bandeiras brasileiras (e holandesas), e que um turbulento grupo de brasileiros era esperado por lá. Após profusos agradecimentos, me dirigi ao local indicado. Eu ouvi os brasileiros muito antes de os ver.
Cerca de 100 dos meu compatriotas gritavam, tocavam vuvuzelas, ou produziam ruido de formas mais criativas. Eram acompanhados de duas emplumadas e sacolejantes morenas, uma barraquinha vendendo churrasquinho, e um grupo de percussionistas. Me senti o próprio estereótipo nacional. Um grupo consideravel (mas minoritário) de holandeses alaranjados completava o grupo. Apesar dos cliches e da proximidade com o 'inimigo', o clima era relaxado e bastante agradável. Gritos de 'Brasil!' e 'Holland' e jingles improvisados ('A laranja! foi chupada! A Holanda vai para casa!') se alternavam; mas a disparidade em números e hábitos culturais, e a presença dos tambores tornavam esta disputa uma que os holandeses não tinham a menor chance de vencer. Pelo menos até o final do segundo tempo...
Não tenho muito a dizer a respeito do jogo. Comentários pós-jogos, em mesas redondas e similares, são famosas por serem (até mais do que blogs) exercícios fúteis de teleologia. Mas, para o crédito dos brasileiros, a batucada continuou quase sem interrupção após o jogo, enquanto algumas holandesas mais aventurosas dançavam releituras (digamos) criativas do samba.
O resto do dia (museu Van Gogh, uma soneca no parque vizinho, torta de maça na praça) trasnscorreu agradavelmente. A única coisa difíl de aguentar eram os bandos de celebrantes, alaranjados e com níveis variados de alcool no sangue, assoviando em coro 'Aquarela do Brasil'.
Mas hoje eu vou postar sobre o jogo de ontem...
Eu sai de casa sem saber muito bem onde assistiria o jogo. Eu queria a compania de outros brasileiros, e não somente por temer por minha integridade física se o Brasil ganhasse. Passei por inúmeros bares e resturantes decorados de laranja do chão até o teto; mas não vi nenhum verde e amerelo. Exceto por estes últimos, Amsterdam tinha aquela aparência de cidade fantasma a que estamos acostumados no Brasil em dia de jogo da seleção. Os holandeses levam o futebol a sério.
Alguns museus depois, eu estava no museu local de ciência ('Nemo'), e jogo começaria em 45 minutos. Comentei casualmente com a atendente da bilheteria que os funcionarios do Nemo deviam ser os únicos holandeses vestidos de amarelo (é o uniforme do museu). "Sim! Eu queria estar vestindo LARANJA hoje!!' - ela respondeu, enfática. Eu tive que mencionar a minha nacionalidade nesta hora, ao que ela respondeu com um 'boa sorte!' um tanto envergonhado, mas aparentemente sincero.
O museu é dirigido principalmente para crianças e adolecentes; mas a coleção é muito bem bolada. A parte dedicada à educação sexual é (como poderiamos esperar na Holanda) particularmente direta. Uma série de bonequinhos de madeira demonstra posições sexuais descritas no Kama Sutra; uma caixa com duas marionetes cônicas vermelhas permite aos atendentes simular um beijo de língua gigante; e um desenho animado estilo XKCD mostra de forma cronológica as mudanças nos corpos feminino e masculino entre a infância e a idade adulta. Para as crianças, havia uma apresentação sobre o princípio de causa e efeito. Enquanto uma apresentadora hiperativa (de avental branco, obviamente; mas usando um faixa laranja na cabeça) explicava o que estava acontecendo, uma complicada série de mecanismos iam se ativando em cadeia: Uma série de dominós solta uma bola que empurra uma alanca que libera um bondinho que furava um balão que deixava cair um peso em uma balança, que... No final, um foguete era lançado, fixando nas impressionáveis mentes infantis presentes a ideia de que o desenho do Papa-Léguas é um documentário.
Saindo do museu a poucos minutos do inicio do jogo, ainda sem ideia de onde ir, a atendente patriótica com quem havia conversado anteriormente me chamou de volta. Após uma breve conferência com a colega do lado, ela simpaticamente me informou que um bar a algumas quadras do museu estava decorado com bandeiras brasileiras (e holandesas), e que um turbulento grupo de brasileiros era esperado por lá. Após profusos agradecimentos, me dirigi ao local indicado. Eu ouvi os brasileiros muito antes de os ver.
Cerca de 100 dos meu compatriotas gritavam, tocavam vuvuzelas, ou produziam ruido de formas mais criativas. Eram acompanhados de duas emplumadas e sacolejantes morenas, uma barraquinha vendendo churrasquinho, e um grupo de percussionistas. Me senti o próprio estereótipo nacional. Um grupo consideravel (mas minoritário) de holandeses alaranjados completava o grupo. Apesar dos cliches e da proximidade com o 'inimigo', o clima era relaxado e bastante agradável. Gritos de 'Brasil!' e 'Holland' e jingles improvisados ('A laranja! foi chupada! A Holanda vai para casa!') se alternavam; mas a disparidade em números e hábitos culturais, e a presença dos tambores tornavam esta disputa uma que os holandeses não tinham a menor chance de vencer. Pelo menos até o final do segundo tempo...
Não tenho muito a dizer a respeito do jogo. Comentários pós-jogos, em mesas redondas e similares, são famosas por serem (até mais do que blogs) exercícios fúteis de teleologia. Mas, para o crédito dos brasileiros, a batucada continuou quase sem interrupção após o jogo, enquanto algumas holandesas mais aventurosas dançavam releituras (digamos) criativas do samba.
O resto do dia (museu Van Gogh, uma soneca no parque vizinho, torta de maça na praça) trasnscorreu agradavelmente. A única coisa difíl de aguentar eram os bandos de celebrantes, alaranjados e com níveis variados de alcool no sangue, assoviando em coro 'Aquarela do Brasil'.
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