quarta-feira, 7 de julho de 2010

Aeroporto Schipol, Amsterdam
Você é o passageiro mais interessante que eu entrevistei hoje - ...

... foi o que me disse o policial após a entrevista de segurança pré embarque. De fato, a minha passagem pela segurança deste aeroporto foi um evento social: Conversei amigavelmente sobre o jogo contra a Holanda com o guarda que me revistou, e sobre ciclismo em Amsterdam com o operador do raio-X. Mas foi com o entrevistador que o papo rendeu mais.

Ele começou me perguntando o usual ('Você fez as próprias malas?'; 'Você recebeu algum pacote de estranhos?'), deu sequência com perguntas sobre meu itinerário ('porquê você vai fazer escala em Washington?'). Ao responder esta pergunta, eu obiviamente mencionei que estava viajando para participar de congressos científicos. De neurociência, esclareci. E ele engatou um papo bastante animado sobre as implicações éticas da possibilidade de alterar a personalidade por meio de terapia genética ou drogas. Ficamos uns 10 minutos conversando, enquanto a fila atrás aumentava, e a representante no local da United Airlines olhava o bate papo com crescente impaciencia.

Este alias vai ser outro daqueles posts cronológicamente invertidos. Hoje de manhã, com uma das minhas mochilas cada um, eu e o Graham pedalamos nossas bicicletas até aqui. É um passeio interessante (de uns 15-20 km no total, ao sul da cidade), com um cenário um tanto diferente da caminho que percorri para o norte em meu outro passeio de bicicleta pela região em volta de Amsterdam (e sobre o qual eu ainda não postei nada). No final, simplesmente dobrei a bicicleta, coloquei na sacola e fui viajar.

Ontem foi o jogo Holanda X Uruguai. Assisti, com a Su e a Gabi, em uma churrascaria argentina, onde um pequeno grupo de Uruguaios se refugiou. Como a churrascaria fica ao lado da praça Rembrant, onde jovens holandeses em diversos graus e tipos de intoxicação se congregam em dias normais, o barulho quando o time local tocava na bola era ensurdecedor. Acho que pessoas como eu (e a Su, e a Mari), que normalmente só acompanham futebol em jogos da seleção na copa, são muito mal acostumadas. Mesmo quando a seleção vai mal, os jogadores do Brasil tendem a ser bastante habilidosos. Então ficavamos curiosos com a demora de holandeses e uruguaios em decidir o que fazer com a bola quando esta chegava aos seus pés. Não posso dizer que fiquei impressionado com qualquer um dos dois times.

Ao final do jogo, os locais comemoraram, com vuvuzelas, bandeiras e baseados, como se tivessem ganhado a copa. A policia olhava, em peso e atenta, mas tolerante, enquanto os celebrantes jogavam uma quantidade prodigiosa de lixo na rua, transformavam carros de bombeiro em carros alegóricos improvisados, e em geral faziam barulho como se possuídos por cacodemônios. Mas era uma bagunça amistosa, bem holandesa.

No dia do jogo, pela manhã, apresentei o meu poster. Inicialmente, achei que estava na Sibéria científica local, em uma seção meio erma do salão, na manhã seguinte à festa ('Jump de FENS') que entrou madrugada a fora. Mas aos poucos, os interessados foram aparecendo, e um mini-engarrafamento foi se formando enquanto eu agitava os braços maniacamente (é o que acontece quando eu fico entusiasmado) e explicava como calcular as massas médias dos neurônios. Fiz alguns contatos interessantes; em particular, um professor polonês me convidou para passar um tempo em Varsóvia (ele tem uma coleçao respeitavel de insetívoros leste-europeus). Inspirado pelo 'Wronski' do meu email, ele me contou uma história interessante sobre o Banach, outro matemático polonês excentrico: Aparentemente, ele e seus colegas se reuniam em um café local para discutir matemática. Infelizmente, após a ressaca inevitável, eles esqueciam muitas das demonstrações brilhantes que havia obtido quando seus cérebros estavam bem lubrificados pela vodka. A solução foi convocar a esposa de um deles, que passou a manter um livro com o registro das soluções para problemas já resolvidos, e os prêmios propostos para os problemas em aberto. Recentemente, um alemão resolveu um destes últimos, e ganhou o ganso vivo estipulado do governo polonês em cerimônia solene.

Tenho que ir. Vou sentir saudades desta cidade, que combina bastante comigo.




2 comentários:

Bernardo disse...

Interessante o relato. Os holandeses também fazem xixi na rua sem o menor pudor, como no Rio?

|3run0 disse...

Lá os mictorios publicos são numerosos (e, em geral, consistem de um mictório e uma tela que cobre da panturrilha aos ombros), então não vi (ou cheirei) muito xixi na rua. É uma questão mais de conveniencia do que de pudor, porém.

Por outro lado, nos banheiros masculinos, as tiazinhas da limpeza entram e ficam limpando o chão sem o menor pudor, atrás da linha dos mictórios em uso...