quinta-feira, 9 de julho de 2009

France House - QMUL, Londres
Vida noturna


Estou aqui em Londres já a dois dias, habitando um excelente alojamento dentro do Queen Mary College enquanto colaboro com o Reza (professor aqui) e o Marcelo em um paper. A minha camera foi roubada da mala que despachei em Amsterdam, então não tenho fotos daqui por enquanto. Eu tive um dia extraordinário em Amsterdam, com e graças a Ana Júlia, que me hospedou e serviu de guia.

Amsterdam merece um post separado, que não vou escrever agora porque são 5:43 da manhã e ainda não fui dormir. Não fui dormir porque só cheguei no alojamento meia hora atrás. Cheguei tão tarde (ou cedo) porque ontem saí daqui as 9:30 da noite e fui andando pela cidade. Segui pela Mile End Road, White Chapel, Brick Lane, e inúmeras ruelas e becos do East End com nomes inusitados. Passei pela estação ferroviaria de Liverpool Street (que em sua incarnação moderna data dos anos 60, mas que eu acho extremamente charmosa), a ponte do milenium, a ponte Blackfriars e o simpático pub arte deco com o mesmo nome logo em frente, Chancery Lane, Holborn e Oxford Street. Já era mais de 11 da noite, o sol tinha acabado de se por, e eu estava com fome. Continuei portanto até Leicester square, o único lugar onde achava que poderia encontrar algum restaurante aberto.

Após comer uma pizza mediana, o metro já havia encerrado as operações. Desci então até Trafalgar Square (Charing Cross no mapa), onde algum artista maluco organizou um maratona de 100 dias de ocupação initerrupta do quarto pedestal da praça, o único no momento desprovido de estátua. Milhares de voluntários estão se alternando, passando cada um 1 hora no topo fazendo o que lhe vier a cabeça. Sem metrô, e sem um onibus noturno direto, resolvi descansar um pouco e esperar o sol nascer de novo. Periodicamente os voluntários iam se sucedendo (por meio de uma plataforma extensível) no pedestal. Um deles leu um livro, outro cortou o próprio cabelo, e outro ainda protestou contra o fechamento de algum curso de línguas no King's College. Mas o mais interessante foi um prefessor de educação artística de segundo grau, que engravatado e com presença de espírito e de palco, deu uma aula de arte aos gritos, com ajuda de uma série de cópias de pinturas distribuidas por sua assistente. 'O que voces vêem' - ele perguntava. A aula terminou com uma discussão informal (ele ficou feliz em saber a respeito do Brughel que vi hoje na Sotehrby's (outra estória...)). Passei mais uma ou duas horas lendo na praça (muito apropriadamente para um caminhante solitário, um livro novo do Paul Theroux onde ele repete, 30 anos depois, sua viagem solitária de trem através da Europa e Asia), sendo periodicamente interrompido por um bêbado um tanto paranóico chamado Cameron, que inicialmente presumiu que eu fosse um muçulmano lendo o Corão (a barba...), e depois queria saber o que um grupo de barulhentos Italianos estava cantando ao lado.

Em hora nenhuma a praça ficou vazia; inicialmente bandos de turistas passavam apressados, como bandos de aves migratórias, tirando fotos e rindo alto (italianos e brasileiros eram sempre ouvidos antes de serem vistos). Aos poucos, grupos de mendigos foram se formando educadamente nos bancos da praça, preparando-se para dormir. Todos tinham seu equipamento mendigal customizado, e tratavam todo o processo com uma naturalidade desconcertante. Por último, vieram os jovens, pinguços e farreiros a procura de transporte para casa, vindos de incontaveis casas noturnas e festas particulares nas redondezas. Garotas de minissaia e maquiagem borrada, totalmente bebadas, chapinhavam nas fontes e gritavam palavrões. Seus companheiros masculinos urravam selvagemente e encarnavam o papel dos romanos no rapto das sabinas, carregando-as de um lado para o outro nos ombros. Alheios a tudo isso, os amadores no pedestal e suas inevitáveis claques de família e amigos prosseguiam na sua performace.

Com o ceu azul-escuro, peguei finalmente um onibus noturno até Liverpool Street. O McDonalds ao lado da estação dava a impressão de ser o único estabelecimento comercial aberto na cidade, e naquele momento me parecia um lugar extremamente acolhedor, com a perspectiva de um chocolate quente. Um chocolate e mais um ônibus depois, e após uma curta caminhada ao longo do canal, finalmente voltei, saudoso e com 7 horas de atraso, para a minha cama macia e meu chuveiro quente.

Update: O post, agora em português!

2 comentários:

s1mone disse...

Você tem razão. De todas as cidades, eu adoraria Londres. Quero ser uma menina de maquiagem borrada. :)

Beijos e aproveite bem seus dias!

|3run0 disse...

hehe vc ia gostar mesmo.