Casa, Rio de Janeiro
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Estamos no ano 2008 depois de Cristo. Todo o Líbano foi dominado pelo Hizbollah e seus aliados... Todo? Não! Uma montanha habitado por irredutíveis Drusos resiste ainda e sempre ao invasor.
A situação no Líbano está ainda mais confusa que o habitual. A vitória militar do Hizbollah e aliados foi rápida e (quase! veja abaixo) completa. Mas as consequências políticas ainda permanecem bastante obscuras. Por um lado, ganha peso a teoria segundo a qual o Hizbollah (e seus patronos sírios e iranianos) agora pode ditar os termos que quiserem para o governo e que, na sua variação mais extrema, afirma ainda que o Líbano como uma comunidade multiconfessional cosmopolita está acabado: o seu futuro consistiria em alguma combinação de guerra civil intermitente, tutela e rapinagem sírias, e ação livre para os iranianos.
Por outro lado, alguns partidários do 14 de Março afirmam que a vitória do Hizbollah é (de novo) oca. Os sunitas, maronitas e drusos agora estariam unidos em seu ódio profundo ao partido de Deus (e, por extensão, xiitas em geral), e o mito da resistência heróica legítima que Nasrallah e cia construíram em torno de si estaria definitivamente desacreditado. Mas agora que o Hizbollah provou que pode se impor pela força, e os Sírios parecem estar voltando, munidos de carros-bomba e agentes secretos e não-tão-secretos, será que o que a maioria pensa ou sente ainda importa?
Neste contexto, a confusão em torno do resultado da batalha travada entre os drusos[1] habitantes do Shouf[2] (situado nas estratégicas encostas do Monte Líbano), e o Hizbollah e aliados é não só emblemática da dificuldade que existe em entender a situação no Líbano, mas pode ainda indicar se a oposição a combinação de poder de fogo do Hizbollah e a infiltração síria ainda é factível.
Na quinta feira, as forças de um líder druso aliado ao Hizbollah, Talal Arslan, foram enviadas para o Shouf com o objetivo aparente de desalojar os partidários de Jumblatt. Ao invés disso, os homens de Arslan (alguns? a maioria? todos?) mudaram de lado... O Hizbollah então enviou os seus cadres, bem armados e com a experiencia de lutar pau a pau com os israelenses, shouf acima. Por três dias os dois lados lutaram as batalhas mais intensas desta última crise. E os drusos, mal armados e sem nenhum apoio externo, deram uma surra nos hizbolas que não será esquecida tão cedo!
Daí em diante, as coisas começam a ficar obscuras. Jumblatt, no que foi interpretado alternadamente por diferentes observadores como uma admissão humilhante de fraqueza, ou um brilhante embuste para aparentar fraqueza e atrair Nasrallah para uma armadilha, ordenou que seus seguidores cessassem a luta, obedecessem as ordens de Arslan, e entregassem suas armas para o exército. A imprensa noticiou que vilas estratégicas no Chouf já eram controladas pelo Hizbollah/Arslan.
Porém, outros observadores libaneses, incluindo aparentemente drusos com contatos no local, afirmam que nenhuma vila caiu, e que tudo não passa de desiformação do Hizbolla. Os drusos resistem agora e sempre, ao invasor. Ou, pelo menos, assim dizem alguns.
Eu não sei, e não conheço quem saiba, que lado controla o quê atualmente no Shouf. Mas sei o seguinte: nas encostas do Monte Líbano os drusos fincaram o pé e disseram 'não passarão!'. E que, por três dias pelo menos, o Hizbollah não passou. Comparações históricas são sempre enganosas (e as Termópilas são um protótipo tão improvável quanto Asterix); mas se os libaneses que marcharam em 14 de Março de 2005 seguirem o exemplo dos drusos, e mostrarem-se dispostos novamente a não se render sem luta, por mais improvável que pareçam as chances de sucesso, então talvez o Líbano ainda tenha futuro.
[1] Os Drusos são um povo peculiar (c.f. discussões no Pedro Dória aqui e aqui, além deste interessante site dedicado à drusofilia.). Uma dissidência sincrética do xiismo, cheia de segredos, espalhados entre a Síria, Israel e Líbano, têm neste último país um peso político muito maior do que sua implica sua participação demográfica (cerca de 5% da população). Seu líder mais importante, Walid Jumblatt, é um camaleão politico que atualmente é o mais feroz crítico libanês do Hizbollah e da Síria.
[2] A maior parte dos drusos libaneses moram em um distrito chamado al Shouf, nas encostas ocidentais do Monte Líbano e a sudeste de Beirute. Um ponto que separa e mantém disjuntos os três principais territórios de maioria xiita controlados pelo Hizbollah: O sul, o vale de Beeka, e os subúrbios de Beirute.
PS: Não, não me esqueci da normalização. Mas como coloco 1/Sqrt(2) em html? Se os blogs fossem editados em LaTex...
4 comentários:
Basta não esquecer de dividir por <\psi|\psi> no final. (Comentário altamente relevante....)
Pois é, HTML, apesar de ter sido criado no CERN, não incorpora expressões matemáticas. Tentaram criar o HTML 3.0 e o HTML+, mas sem sucesso, teve um tal de MathHTML, mas nem todo navegador consegue visualizar as formulas.
Sabia que o seu blog é a minha fonte de informação sobre o que acontece no Oriente Médio? Ótimo trabalho jornalístico :-)
pois é... É muito irônico que escrever matemática em html é um saco. Daqui a pouco vou descobrir que TEX foi desenvolvido por um designer gráfico...
Pará, eu pensei em chamar meu blog de 'Caveat Lector' (lt: Cuidado leitor), mas imaginei que as pessoa iriam pensar se tratar do irmão do Hannibal.
Considerando que nunca estive no Oriente Médio, nem tenho ligação familiar com a região; e que não tenho qualquer formação formal em história, politica ou jornalismo, eu faço o que posso ;-).
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