quinta-feira, 18 de junho de 2009

Casa, Rio de Janeiro
Marg bar marmalad

Em homenagem às práticas eleitoras Khameinescas, eu mantive por alguns dias a tagline 'Como se diz marmelada em farsi?' no gtalk. Levando a minha pergunta mais a sério do que eu, eis que hoje me aparece o Batatinha (que saiu da física para virar linguista), e me diz que após intensa pesquisa podia afirmar que no Irã marmelada é marmalad. Ora, o slogan favorito do regime iraniano é 'Morte à America' (ou Israel, ou Salman Rushdie, ou ao Barney, o dinossauro púrpura; depende do ocasião), que rapidamente verifiquei se diz 'Marg bar xxx'. Daí, meu novo tagline se tornou Marg bar marmalad. Morte à marmelada.

Pouco depois, uma amiga que mora em Isfaham (onde também ocorrem protestos imensos, repressão pelos Basij, mas sem presença alguma da imprensa estrangeira) também apareceu, rindo e me perguntando se eu estava aprendendo farsi. Dado o contexto, ela sacou rapidamenet o significado da expressão (embora a associação especifica com o doce tenha talvez permanecido um pouco misteriosa). Virou o nosso slogan particular; a minha humilde contribuição ao léxico politico iraniano.

No Irã, os protestos já há muito trancenderam a disputa politica entre duas vertentes do regime. Há uma proto-revolução no ar (os revolucionarios não sabem ainda que são revolucionarios). Ela não é secular, mas é antitotalitaria. A principio, tudo sugere que está fadada ao fracasso; mas após a votação tudo sugeria que os protestos seriam limitados ao relativamente abastado norte de Teerã; que não durariam mais que um ou dois dias; que seriam esquecidos pelo mundo quando a imprensa internacional fosse impedida de transmiti-los pela televisão; e que seriam superados pelo poder de mobilização da mídia e logística estatais. Mas apesar de tudo, os iranianos continuam marchando. Os protestos continuam, e o regime dá mostras de nervosismo.

De qualquer maneira, tais imponderáveis não importam no cálculo moral. Quando, dia após dia, milhares de pessoas saem às ruas pacificamente para para exigir o direito de escolher seus governantes, correndo os riscos inerentes ao enfrentamene com um regime autoritário, elas merecem apoio, seja sua causa quixotexca ou não.

O papel que a internet, e em particular o Twitter, teve em divulgar os acontecimentos é indiscutível; o seu papel em promove-los é objeto de intensa discussão. Mas eu gostaria de pensar que em algum porão na Birmânia, ou no Zimbabwe, ou no Egito, ou em Cuba, um appartchnik vai estar daqui para frente perdendo o sono com os mais recentes hashtags da oposição.



Para terminar, alguns links úteis para acompanhar o que está acontecendo

Eis um agregador decente das noticiais vindas do Irã, feito por iranianos:
http://raymankojast.blogspot.com/

Uma lista de leitura extensa e bastante diversa:
http://cyrusfarivar.com/blog/?p=2169

A Pirate Bay (renomeada Persian Bay) criou um Forum para discutir/entrar em contato com os iranianos/dar dicas de protesto:
http://iran.whyweprotest.net/

O hashtag do twitter relevante é #iranelection

O blog do Pedro Dória está acompanhando os eventos, com algumas discussões interessantes
http://pedrodoria.com.br/

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domingo, 14 de junho de 2009

Casa, Belo Horizonte
Nunca compre uma rifa de um Aiatolá II

A internet está em polvorosa a respeito da (possivelmente roubada) eleição presidencial Iraniana. O Pedro Dória deve estar se entupindo de benzedrine para ficar fazendo livebloggin sem parar. O debate a respeito da suposta fraude se dá em torno dos resultados desta eleição e das passadas, mas de modo geral os poucos números que aparecem são pescados de um artigo aqui e um blog acolá, sem muita sistematização. O que eu fiz então foi compilar os números das 4 últimas eleições presidenciais: 1997, 2001, 2005 (1o e 2o turnos) e 2009. Os dados foram obtidos no excelente Ifes Election Guide, exceto para 1997, que obtive da Wikipedia*.

A versão curta da história política recente iraniana é a seguinte. A revolução Islâmica em 1979 foi seguida dos anos de chumbo da guerra Irã-Iraque e do radicalismo Khomeinista. A partir de 1989, com a eleição do Akbar Hashemi Rafsanjani, um mullah pragmático (ou cleptocrático, uma especie de José Sarney persa, como bem definiu o Anônimo da Persia), as coisas se abriram um pouco. Em 1997, o mullah reformista Mohammad Khatami foi eleito (e reeleito em 2001) por larga margem e com enorme comparecimento, nas costas do entusiasmo pelas reformas liberalizantes que ele prometia. Este entusiasmo foi se exaurindo na medida em que os cléricos não eleitos do conselho dos guardiões e o lider supremo (Ali Khamenei, sucessor do Khomeini) impediram por meios legais e extra-legais que qualquer reforma significativa fosse efetuada. A eleição de 2005 foi caracterizada pela apatia entre os reformistas e um comparecimento relativamente baixo. O ex-prefeito de Teerã Mahmud Ahmadinejad (com uma plataforma reacionária e anti-corrupção) venceu o nosso velho amigo Rafsanjani (atacando de reformista moderado) no 2° turno, e passou os quatro anos seguintes espalhando sua simpatia singular pelo mundo afora. Finalmente, ontem, Ahmadinejad supostamente conseguiu uma reeleição acachapante sobre o reformista Mir-Hossein Mousavi, apesar do renovado entusiasmo pré-eleitoral dos partidários deste último, e do comparecimento récorde (85%!). Fraude, gritaram, e gritam, os reformistas.

Esta eleição pode ser encarada de duas formas: Como o mais recente embate entre conservadores e reformistas, podendo então ser contrastada com as eleições de 1997, 2001 e 2005, e como um referendo a respeito do governo Ahmadinejad (2005 seria então a único pleito comparável). Tanto em um caso quanto no outro, como procuro mostrar abaixo, o apoio ao Ahmadinejad nesta última eleição se situa bastante fora do padrão estabelecido anteriormente.

A métrica disponível mais adequada para quantificar apoio político ao longo do tempo, me parece, é a fração do total dos eleitores (e não a fração dos votantes, ou o número total dos votantes) que a cada eleição vota em um dado candidato ou tendencia.

Para cada uma das eleição, agrupei os votos em dois campos aproximados, conservadores em reformistas. Em 97 e 2001, considerei todos os votos contra o Khatami como 'conservadores' (o que no máximo sobrestima ligeiramente o seu número). Em 2005, no primeiro turno, somei as votações dos 3 candidatos considerados conservadores (o próprio Ahmadinejad, Mohammad Ghalibaf e Ali Larijani). Incluo o Rafsanjani entre os reformistas porque foi assim que ele se promoveu (desta vez ele apoiou o Mousavi). A tabela segue


Ano199720012005(1°)2005(2°)2009
Eleitores
(milhões)
36.438.746.946.946.2
Votantes
(milhões)
29.127.729.428.039.2
Comparecimento
(% dos eleitores)
80,0%71.5%62.7%59.6%84.7%
Reformistas
(milhões de votos)
20.121.718.210.013.2
Reformistas
(% dos votos)
70.0%78.3%61.1%35.9%33.8%
Reformistas
(% dos eleitores)
56.0%56.0%38.0%21.4%28.7%
Conservadores
(milhões de votos)
9.06.011.217.324.5
Conservadores
(% dos votos)
30.0%21.7%38.9%61.7%62.6%
Conservadores
(% dos eleitores)
24.0%15.5%24.4%36.8%53.2%

Sob a primeira perspectiva, a eleição como um embate entre conservadores e reformistas, creio que o correto é comparar os resultados dos primeiros-turnos (o segundo turno em 2001 foi também em grande parte um referendo sobre corrupção e o ex-presidente Rafsanjani). A fração dos eleitores que se deram ao trabalho de sair de casa para votar nos conservadores permaneceu relativamente estável entre 1997 e 2005 (24%, 16% e 24%), mas mas dobrou (supostamente) em 2009, para 53%. Não me parece haver evidência do recente renacimento do conservadorimo iraniano que estes números indicam. Se por um lado a fração de eleitores que votou nos reformistas caiu bastante desde a presidência Khatami (56%, 56%, 38%), isto parece ser mais uma função da desilusão com a perspectiva de reformas do que uma mudança de opinião a respeito da nescessidade de reformas. Há um consenso entre os comentaristas de que na reta final da campanha os reformistas haviam recuperado o seu entusiasmo. Mas apesar disso, no final uma fração ainda menor deles (28.7%) se dignou a votar. Este número é um pouco maior do que a fração (21.4%) de eleitores que apoiou Rafsanjani no 2° turno de 2005; mas este último, assim como seu análogo maranhense, não pode ser plausivelmente considerado um ícone reformista ou um agente de mudanças profundas.

Vendo a eleição como um referendo sobre Ahmadinejad, o correto é comparar o seu desempenho no 2° turno de 2005 com o de ontem (no 1° turno de 2005 ele obteve meros 19.5% dos votos, mas era relativamente desconhecido e competia com outros candidatos conservadores). Neste caso, precisamos acreditar que um presidente em exercício em meio a uma crise econômica severa (em parte, aparentemente, piorada por sua atuação), viu o seu apoio crescer de 36.8% para 53.2% dos eleitores, um aumento de 49%!

Note ainda que em termos absolutos, o número de votantes aumentou muito desde 1997, devido ao baby-boom pós revolucionário. Isto significa que, para ter obtido 63% dos votos, Amahdinejad terá que ter atraido muitos votos dentre os jovens nascidos depois da revolução. Mas tudo indica que esta é exatamente a fração menos tradicionalista e liberalizante da população.

Em suma, devemos acreditar que, apesar do seu entusiasmo aparente, os reformistas decidaram ficar em casa ou mudaram de lado, enquanto os conservadores recrutaram com sucesso a juventude do pais e compareceram em massa pela primeira vez desde 1997. Ou devemos supor que os iranianos consideram o governo Ahmadinejad um sucesso estrondoso, e não sentem um necessidade preemente de reformas liberalizantes.

Novamente, nada disso prova a fraude. Na falta de dados para uma análise estatística apurada, estamos limitados a conjecturar a respeito da plausibilidade dos cenários acima. Mas pelo pouco que sei sobre o Irã, acho ambas bastante difíceis de aceitar.

EDIT: A % de eleitores dos conservadores em 2001 estava errada (como apontou o Paulinho) e foi corrigida.

EDIT2: Os números do comparecimento em 2009 são agora oficiais. O número de eleitores registrados de fato diminuiu de 2005 para 2009. Aparentemente o conselho dos guardiões (agindo como orgão de supervisão eleitoral) eliminou das listas de votação quase 5 milhões de nomes. Quantos destes eram fantasmas e quantos são eleitores de verdade (supostamente na sua maioria apoiadores da oposição) eu não sei.

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* A partir de Abrahamian, Ervand, History of Modern Iran, Columbia University Press, 2008, p.186)

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Casa, Belo Horizonte
Nunca compre uma rifa de um Aiatolá

O governo iraniano anunciou que o Ahmadinejad ganhou a eleição ontem com quase o dobro de votos de seu oponente mais próximo, o reformista Mousavi. A oposição, e inúmeros blogueiros e analistas acusaram fraude, e enquanto escrevo o pau come solto nas ruas de Teerã. São três as principais evidências citadas de pilantragem:

1 - A comissão eleitoral supostamente teria dito à campanha do Mousavi que ele ganhara a eleição, mas que ele não deveria anunciar a vitória até o comunicado oficial após todos os trâmites oficiais

2 - Horas depois, e atropelando o processo normal de validação da eleição, o supremo lider, Aialtolá Khamenei, anunciou Ahmadinejad como vencedor, com base em 80% dos votos contados, por uma margem muito maior que a esperada

3 - Em cada um dos comunicados com os totais parciais dos votos, a razão entre o número de votos dos dois candidatos permaneceu quase exatamente constante, ao contrário do que aconteceu em eleições passadas. A preferencia por um e outro (e, de forma mais geral, pela reforma ou pelo status-quo) é aparentemente bastante divergente entre as diferentes províncias, e entre iranianos urbanos e rurais. A comparação direta entre os resultados regionais parece mostrar a mesma razão constante de votos.



É a respeito de (3) (veja o gráfico acima) que o pau come solto na internet atualmente. Entre supostas provas e refutações (da prova, não da fraude), eu escrevi o seguinte (em inglês mesmo porquê não vou traduzir isto tudo as 2 das manhã):

Neither the proof nor the refutation of fraud are proper statistical analyses. The near-constant ratio between the candidate's vote totals would make sense only if the votes in each partial result were approximately an representative sample of the total vote. Which would mean that either:


a) Iranian precincts or districts count and report votes at approximately the same rate.

or

b) For each partial result the tallied vote ratios just happen to coincide with those of the complete result, because reporting places which are more pro-opposition than average just happen to balance out pro-government places

or

c) There is a reporting bias, i.e., some kinds of precints/voting sites/districts count and report votes at different rates*, but voting patterns are approximately the same across the country and between cities and countryside.

Now, a) is conceivable in theory, but from what I read reporting was not uniform. b) requires a series of unlikely coincidences, and c) would mean voting patterns have changed significantly (and congruently) between past elections and the last one.

None of this proves fraud, but certainly seem to suggest it. A proper statistical analysis would take as the null hypothesis the non-existence of fraud, and try to quantify how unlikely that would be. It would be virtually impossible to disguise massive fraud from a full statistical analysis of voting patterns, if detailed results were available. For some reason, I suspect they won't be. But even with coarser data, one could

- Prove or disprove a) by simple inspection of the places included in each partial tally

- Prove or disprove b) by inspecting subtotal in each tally

- Test c) by comparing reported voting patterns (as a function of region, urbanization and whatnot) in this election with those of past elections.

The catch is that, while we can in principle exclude a) and b), we can at most say about c) that 'Either there was fraud, or voting patterns changes in such-and-such way'. One is then left with the somewhat subjective task of estimating the likelihood of such a change. This is what Iranian experts are for, and this is where the debate should occur. Of course, were we to be told that, for instance, the ratio between Obama and McCain votes wa the same in both Illinois and Arizona, we would be pretty sure there was something wrong with the results. From the fragmentary reports I've read, which seem to be based as of yet on very incomplete data, the reported voting patterns in Iran seem equally implausible. We should not rush to judgment, but my preliminary impression is that this election does indeed look fishy.


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* E.g. smaller rural precincts count quicker than big urban ones, or eastern regions count earlier than western because most people vote before sunset

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quarta-feira, 3 de junho de 2009

Fundão, Rio de Janeiro
Kinetic Theory of Gases - a Limerick

Bernoulli devised a theory kinetic
well-adapted to gases eclectic
small marbles collide
will by Newton abide

adiabatically compressed, they become frenetic


BM

Enquanto espero o resultado do concurso, escrevo poesia

UPDATE: Não passei. Que melda...

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quinta-feira, 28 de maio de 2009

Casa, Rio de Janeiro
Sgt. Kim's ronery hearts club bomb

Feeling ronery, Elton John style


A Coreia do Norte testou outra bomba atômica. Ao contrário da última, esta parece ter funcionado a contento (uns 20 kilotons de TNT, dizem, comparável à bomba de Hiroshima). Os suspeitos de sempre emitiram os protestos de sempre. Mas nenhum pais, seja os EUA, Japão, Coreia do Sul ou China, parece querer fazer algo mais drástico a respeito. Na verdade, ninguém parece saber muito saber o que fazer.

Me parece que a incapacidade da comunidade internacional para tomar algum tipo de ação coordenada eficaz a respeito da CdN se deve a dois medos quase ortogonais: O medo de uma guerra devastadora contra um inimigo formidável em uma das regiões mais importantes (e densamente povoadas, e industrializadas) do mundo, e o medo de um colapso economico e social norte-coreano.

Em relação ao primeiro medo, a CdN nunca precisou de bombas atómicas para dissuadir um ataque dos EUA: A ameaça de suas forças convencionais, em particular no referente a Seoul, é e sempre foi mais que suficiente para isso. Porém (muita gente acredita), se pressionada demais, e não tendo nem escrúpulos nem literalmente nada a perder, a liderança norte-coreana poderia lançar um ataque* final desesperado. É uma guerra que a CdN provavelmente iria perder, mas isto seria de muito pouco consolo para os milhões que iriam morrer antes que isto acontecesse. Deste ponto de vista, ceder a chantagem relativamente barata da CdN parece realmente um opção menos danosa, financeira e moralmente.

A outra possibilidade para a CdN é, obviamente, um colapso. O fim de um regime tão grotesco não vai deixar ninguém com saudade. Mas depois que cessarem as comemorações, a comunidade internacional (e a Coreia do Sul e a China em particular) vão se descobrir responsáveis, por exclusão, por uma sociedade brutalizada formada por milhões de miseráveis mal-nutridos, e com uma economia arruinada. Os custos da reconstrução, que se arrastaria por décadas e seria uma âncora no crescimento económico da região, fariam o preço da reunificação alemã parecer troco. Novamente, deste ponto de vista, deixar que os norte-coreanos continuem sendo responsabilidade do Kin Jong Il, e oferecer alguma ajuda modesta, mas suficiente para adiar um colapso completo, parece ser a alternativa mais simples e menos custosa.

Assim, o grupo dos 6 continua a negociar, e a emitir condenações sonoras mas ineficazes, e a fingir acreditar que o Kim esteja negociando de boa fé. O teatrinho vai continuar enquanto as concessões e auxílios económicos continuarem mais em conta que as alternativas. Imagino que secretamente os negociadores torcem para que a CdN siga pelo menos alguns passos d da China e se torne um pais mais ‘normal’, um pouco menos despótica e com um economia um pouco mais funcional. Nos últimos anos, a CdN mudou bastante, de fato, mas não me parece certo de que seja para melhor.

Neste contexto, a bomba atômica representa menos uma ameaça militar iminente, e mais uma maneira da CdN aumentar o seu ‘preço’, ao tornar ainda mais terríveis as alternativas (’Seoul e Tóquio radioativas!’, ‘Bombas atômicas a solta em uma anarquia pós-stalinista!’). A contenção da Coreia do Norte fica mais cara, mas sua lógica permanece a princípio válida.

O problema (para todos os envolvidos, norte-coreanos inclusive) é que a introdução de armas nucleares introduz um fator novo importante, que não está incluído no cálculo acima: A proliferação.

Por um lado, os vizinhos e quase-vizinhos da CdN já estão investindo pesadamente em armas anti-balísticas. Coreia do Sul, Taiwan, e (principalmente) Japão têm a capacidade técnica de rapidamente obter bombas atômicas e coloca-las em misseis. A península Coreana não é a única área de conflito potencial na região, e o surgimento de destas novas potencias nucleares (seguidas, possivelmente, de Vietnã, Indonesia, Singapura, Austrália, etc) criaria diversos conflitos nucleares em potencial.

Por outro lado, existe muita gente neste mundo com dinheiro de sobra que gostaria muito da tecnologia de bombas e misseis que a CdN tem, e nunca teve problemas em vender. A maior parte dos casos recentes de proliferação nuclear e de misseis balísticos têm envolvimento norte-coreano (e paquistanês, incidentalmente). Com uma bomba testada e aprovada, e a capacidade de produzir material físsil, a Coreia do Norte tem a capacidade de tornar realidade os sonhos de qualquer maluco com mais petrodolares do que bom senso.

A questão é: se a politica anterior de contenção e ‘diálogo’ já não é mais aceitável, nem tampouco as são as alternativas que se apresentam (guerra preventiva ou um se-vira-malandro global). Estamos precisando urgentemente de alguma ideia nova.

PS: Este post é uma adaptação de um comentário que fiz no blog do Pedro Dória. Quem quiser penetrar no universo paralelo do querido mas ronery leader, é só ler os surreais press releases da agencia de noticia dele. Ou ouvi-lo cantar.

Finalmente, para quem tem o prazer mórbido de querer saber quanto estrago exatamente uma bomba atômica de x kilotons faz, o Wolfran Alpha tem as respostas.

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* O objetivo seria provavelmente um ataque rápido para tomar algum território, para logo em seguida iniciar ‘negociações’ de uma posição de força. Mas eu duvido muito que a guerra seja ‘parável’ neste estágio.

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sábado, 2 de maio de 2009

Sítio da Júlia, Morro Vermelho
Resistere nugatorium est

Estou aqui em retiro pani-etílico-espiritual com diversos outros físicos, para comemorar os 10 anos da turma de 1999 da Física/UFMG. Não, não é a minha turma, mas é dai? Festa é festa. Da minha parte, encontrei um monte de gente que não via a tempos, e me lembrei porque gosto tanto deste povo. Ajudei o Breno a fazer pão e a Indira a subir no telhado, e discuti com o Costela os paralelos (surpreendentemente próximos) entre redes neurais e o modelo de Ising com uma definição generalizada de primeiros vizinhos. De forma mais geral, os eventos até agora, de forma absolutamente típica, oscilaram entre o inacreditável e o impublicável, então não vou escrever mais a respeito, pelo menos até aparecerem fotos. Mas entre um copo de coca e outro os meus pensamentos começaram a divagar, o que me leva naturalmente ao seguinte:

O príncipe Pirro, de Épiro, já havia sido comparado a Alexandre, o grande, devido a aparência física, habitos festeiros e habilidades militares de ambos. Quando aportou em Taranto, na Itália, com seu altamente eficiente exército de armas combinadas semelhante aquele com que os macedonios conquistaram todo o mundo conhecido ao leste da Grécia, provavelmente achou que o oeste seria ainda mais fácil. Na Itália, tinha pela frente somente algumas cidades estados na Etrúria, tribos montanheses esparsas no Apeninos, e uma peculiar cidade no vale do Laccio, pouco renomada mas com a fama de belicosa. Uma tal de Roma.

Na primeira batalha, as coisas correram bem para Pirro. Seus elefantes colocaram em fuga as tropas romanas. Os lideres destas últimas foram mortos, e os remanecentes de seu exército ('legiões', na sua peculiar nomeclatura) por pouco escaparam da aniquilação. Pirro continuou marchando, para receber a esperada rendição da cidade... E encontrou outro exército, idêntico ao anterior. A batalha subsequente foi renhida. Os tais romanos haviam adaptado suas táticas. O exército epirota sofreu grandes perdas antes de finalmente vence-los, e o nome de Pirro ficou para sempre associado a este tipo de custosa vitória tática que não leva a vantagens estratégicas. Porque enquanto aos epirotas após as duas batalhas faltavam homens para guarnecer suas conquistas e continuar a campanha, as cidades conquistadas por Roma se encarregavam elas mesmas de fornecer homens para formar um terceiro exército, idêntico aos anteriores, mas um pouco mais adaptado para enfrentar seus novos inimigos. Roma não simplesmente conquistava seus inimigos, ela os assimilava. Piro se lembrou que havia deixado o forno ligado lá em Épiro, e pegou o primeiro navio de volta.

Algo semelhante aconteceu durante a primeira guerra púnica (contra Cartago, cidade de origem fenícia no norte da África). Roma não tinha absolutamente nenhuma tradição náutica, enquanto Cartago era a potencia naval dominante no Mediterraneo ocidental. Mas uma briga pelo controle da Sicília forçou os romanos a contruirem, a um grande custo, uma frota. Que foi prontamente afundada pelos calejados cartagineses. Os romanos construiram então uma segunda frota. Que afundou em uma tempestade. E uma terceira. E uma quarta. Com cada frota que perdiam, aprendiam um pouco mais. E construiam outra. Até que, eventualmente, os romanos adaptaram um tipo de gancho ('corvus') com o qual podiam prender o o costado dos navios inimigo de encosto aos seus, transformando uma batalha naval de manobra em uma batalha terrestre sobre uma plataforma flutuante, mas estática. As mesmas espadas (gládios, adaptadas da Espanha) que causaram tanto estrago junto aos epirotas fizeram rapidamente sashimi cartaginês, e os romanos tiveram sua primeira vitória naval. Em pouco tempo, os catarginese pediram a paz. A Sicilia era romana.

Na segunda guerra púnica, Roma enfrentou um dos maiores gênios militares do mundo antigo, Anibal, que inflingiu seguidamente derrotas acachapantes às legiões. Mas, novamente, após cada derrota Roma produzia de alguma forma um novo exército, e aprendia um pouco mais. Até que, finalmente (e estou pulando uma história bastante complicada, c.f. a 'História' de Políbio), em Zama, a algumas léguas de Catargo, um exercito romano sob o comando de Scipio Emiliano venceu o exército de Aníbal. Cartago foi completamente derrotada, e perdeu sua frota e suas colônias. A terceira guerra púnica foi quase um anti-clímax; o senado romano decidiu simplesmente que Cartago, embora não oferecendo qualquer perigo imediato, poderia concebivelmente causar problemas no futuro. Cartago precisava ser destruida. Cartago foi, portanto, destruida. Algumas gerações depois, uma cidade planejada, ao estilo romano, foi construida no lugar.

O ponto saliente a respeito desta história não é afirmar que a Roma republicana era uma cidade totalmente psicopata (embora isto seja verdade também), mas sim demonstrar a sua capacidade única de se adaptar após suas derrotas, e de assimilar seus inimigos. Estes últimos poderia vencer de primeira, e de segunda, e de terceira. Mas os romanos não paravam, não desistiam, não mudavam de ideia. Os romanos continuavam vindo, se adaptando ao que quer que fosse jogado contra eles, até que seus inimigos fossem vencidos, conquistados e assimilados. Algumas gerações depois, os netos dos derrotados marchavam novamente, desta vez sob as águias das legiões, como cidadãos romanos ou ao caminho de sê-lo.

Os romanos eram os Borg da idade do ferro. Não tinham laseres na cabeça, e formavam quadrados de infantaria, não espaçonaves cúbicas. Mas o princípio de ambos era o mesmo. Avançar inexoravelmente, se adaptar, e assimilar. Resistere nugatorius est, diriam.

Roma, até onde eu sei, não era uma hive-mind cibernética. Mas era uma república com uma noção ampliada da antiga cidade-estado, onde aos conceitos de cidadania, e as concomitantes responsabilidades e liberdades cívicas, eram extensiveis (eventualmente, mas certamente não automaticamente) aos povos conquistados. Esta era a grande diferença entre o império romano e (por exemplo) o império marítmo ateniense. Enquanto no primeiro celtas e macedônios
podiam aspirar a eventual cidadania, no último nem mesmo gregos livres de outras cidades podiam, exceto em circumnstâncias excepcionais, jamais se tornar atenienses.

No final, Roma não caiu porque foi soterrada por uma maré bárbara, mas porque ao longo do império o velho militarismo cívico foi se esvaindo, enquanto instituições e valores republicanos eram substituidos por um despotismo mais tradicional. Ser um cidadão romano, a base da república, perdeu seu significado, e seus atrativos. Quando imperadores divinizados se alternavam como presidentes-perpétuos em uma republica de bananas, e o senado e magistrados eram puro mis-en-cene decorativo, lutar por Roma era uma questão para soldados profissionais cada vez mais indistinguíveis de mercenários, e leais a seu soldo, não à abstrações cívicas vazias.

Durante a 2a guerra púnica, a república romana teve um exercito destruido em Cannae, e prontamente produziu outro. Em Adrianópolis, uma derrota igualmente acachapante para a cavalaria Gótica* levou o império a efetivamente se render (subornando os Godos para que não saqueassem Constantinopla) e a abandonar o formato de legiões centradas na infantaria (onde cidadãos livres marchavam em formação e dependiam de um do outro para proteção) por outras menores centradas em cavalaria (onde nobres cavalgavam juntos mas tinham meios indendentes de picar a mula se o bicho pegasse). Se passariam quase mil anos antes que alguma força de infantaria europeia fosse capaz de enfrentar e vencer um ataque de cavalaria (apropriadamente, quadrados de lanceiros suiços, cidadões livres de cantões independentes). Quando Atila (o Huno, em oposição, suponho, a Átila, o Coreano) estava as portas de Roma, a cidade de 500.000 habitantes não foi capaz de produzir um exército de cidadãos para defende-la. O Papa da época acabou salvando o dia, e Roma não caiu neste dia. Mas a republica romana já estava morta e enterrada havia muito tempo.


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* I.e., formado por godos, não por adolecentes soturnos com maquiagem preta.

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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Casa, Rio de Janeiro
That's no moon. It's a space station

Mimas (uma lua que foi destruida por colisões e reformadas várias vezes), vista pela sonda Cassini em órbita de Saturno. Mais aqui.

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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Casa, Belo Horizonte
Brain Jüche

O estimado lider da Republica Democratica Popular da Coreia (que não é uma republica, é a mais precisa antítese da democracia existente atualmente, e perderia um concurso de popularidade para as hemorroidas de Átila, o Huno) afirmou sua satisfação pelo lançamento bem-sucedido de um satélite norte-coreano, que doravante irá transmitir os inesqueciveis sucessos da parada Pyonyangnense para um insuspeito planeta Terra. Aparentemente, é um satélite único que, ao invés de alçar vôo até o espaço, mergulhou no oceano Pacífico juntamente com os dois últimos estágios de seu foguete. Não tenho nada a acrescentar ao seguinte comentário (achado aqui):

De acordo com a marinha dos EUA, o altamente original satelite norte-coreano entrou em órbita subaquatica no oceano Pacifico, e está transmitindo as melodias das imortais canções revolucionárias Canção do General Kim Il-sung e Canção do General Kim Jong-il no canal acústico de 15kHz.
Os norte-coreanos pensam grande, porém. O satélite subaquatico é só o primeiro passo

Kim Jong Il Announces Plan To Bring Moon To North Korea

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