Van do Senhor Volante, Rio de Janeiro
Road rage
Andar de van no Rio de Janeiro pode ser cansativo e demorado, mas raramente é entediante. Digo isto por experiência própria, já que estou dentro de uma as 19:20 da noite, em um engarrafamente que se estende para dentro da universidade. Ao que parece uma carreta virou na linha vermelha.
Existem somente duas saidas para carros do fundão, mas as maneiras de chegar até elas só são limitadas pela criatividade do motorista. O meu atual condutor resolveu passar em frente ao quartel dos bombeiros e avançar celerado pela contra-mão até a saida do Hospital Universitário, confiando na aplicação generosa de sua buzina para limpar o caminho a frente. Buzina que alias é dotada de um sintetizador de voz, e emite frases simpáticas como ´Sai da frente!´ e ´Ô coisa feia!´.
Saindo finalmente pelo portão, seguimos inicialmente rumo à Ilha do Governador, saltamos por cima do canteiro que divide as pistas, e estamos agora a caminho de ´Laranjeiras, prefeitura, Copacabana´, como afirma o sempre prestativo sintetizador de voz da van.
Como um exemplo do emprendedorismo informal local, as vans são tão variadas quanto os cariocas. Algumas são geridas como uma operação de guerra, se movendo taticamente para ficar logo a frente dos ônibus e pegar os pontos cheios; e se coordenando por Nextel para evitar blitzes e encontrar caminhos menos congestionados. Outras tem um clima mais relaxado, com motoristas loquazes seguindo uma rota que vai sendo negociada em tempo real com os passageiros. E existem aquelas que bem poderiam ser versões do Pecquod em quatro rodas, com um Ahab taciturno na direção imbuido de uma pressa monomaníaca (para chegar mais cedo no seu encontro fatídico com uma baleia branca, suponho), e que claramente toma a presença dos demais carros na pista como um insulto pessoal.
Não digo isto para dar a entender que os ônibus aqui são tranquilos e previsíveis. Os motoristas do 485 (Pça. General Osório - Fundão - Penha) dirigem como candidatos a peões de rodeio, são notoriamente criativos na escolha das rotas, e tem como lema o altivo brado ´ALGUÉM VAI FICAR NO CATUMBI?!´. Mas só em uma van carioca é possível encontrar um aviso que diz
"Se você sentir um rato ou barata subindo na sua perna, não entre em pânico. Ele está ai devido aos restos de comida que você deixou cair no chão"
PS: Cheguei em casa. A vantagem da demora no trânsito foi que consegui escrever quase o post todo sem distrações.
Um comentário:
vou twitar este aviso do rato
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