Casa, Rio de Janeiro
Primeiro post desde a morte do meu avô. Fim de semana passado voltei para BH para a missa de
7o dia. O meu tio Demostenes (que é padre (e que sempre chamamos de tio Demo)) oficializou. Eu, meu irmão e meu pai fomos nomeados voluntários para ler trechos da Bilbia. Segundo o meu primo, eu soava como um locutor do Discovery channel.
No dia da missa, de manhã, tinha ido com o Fernando e a Mariana na escavação arqueologica que o André e o Alastair estão comandando em Sabará. É a segunda vez que vou. Da primeira, fiquei responsavel por uma quadra de 1mx1m que era cortada por um muro (muito capenga) antigo. Desta vez, a Mary & Fernando ficaram com um quadrado, enquanto eu peneirava e subia no pé de jabuticaba.
O processo de escavação é sistemativo. A posição da quadra é demarcada com um teodolito. Raspamos o seu interior com uma pá de pedreiro, até atingir os limites de um contexto (i.e., uma pedaço de um estrato produzido em alguma circunstancia temporal ou espacial comum; muros, pisos, tipos diferentes de terra, etc. separam contextos diferentes). Qualquer coisa de origem antropogênica é guardada em um saco especifico da quadra e do contexto (a terra retirada é peneirada para garantir que nada importante seja descartado). Os achados são então lavados, esfregados e classificados. Os resultados são anotados em planilhas, que são então ponderadas por alguns individuos exóticos. Tais individuos então escrevem artigos/livros/teses explicando o que pedaços de cerâmica e osso, quando inseridos no contexto (semanticamente falando) apropriado, nos dizem sobre quem vivia alí, o que faziam, pensavam e comiam, e quais criaturas monstruosas antidiluvianas esperam no fundo do oceano pelo alinhamento estelar que anuncia o fim do mundo-tal-como-conhecemos(r).
A parte da escavação parece simples, mas é preciso ter cuidado para saber identificar os contextos (e não mistura-los) e não deixar passar nenhum caquinho (e fazer isso da forma mais rapida possivel). A parte das criaturas antidiluvianas subaquaticas demanda um pouco mais de experiencia.
Eu gostei muito de escavar. É dificil descrever a emoção de descobrir em um buraco no chão um caco de ceramica (que em outro contexto (semântico!) seria bastante ordinario), sabendo que o respectivo contexto (físico!) é delimitado pelo piso de um casebre de função ignorada. Claro que um observador desavisado só veria um maluco sorridente coberto de poeira raspando cuidadosamente a terra enquando junta caquinhos amorfos em um saquinho. Falta-lhe o contexto...
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