United Club, Aeroporto Intercontinental de Houston
Pegando aviões II
Por razões complicadas demais para expor aqui, a assistência técnica capaz de me ajudar fica em BH. A uma semana da viagem, levei para lá o paciente, e aproveitei para passar o fim de semana com a família. Mas o reparo só foi concluído no sábado, as vésperas da viagem na 2a.
Após examinar e descartar diversas opções com graus crescentes de heterodoxia, consegui construir uma gambiarra multimodal onde o laptop foi trazido pelo técnico até a casa da minha tia, de onde foi levado por meu pai até a casa do irmão da Indhira, que foi de carro até Juiz de Fora, onde cheguei de ônibus para resgatá-lo no domingo a noite. Cheguei em casa em casa as 5 para uma soneca, e no fundão as 8 para aplicar uma prova. O resto do dia foi a correria jejúnica pré-jornada de sempre enquanto eu tentava terminar tudo que havia sido procrastinado antes de embarcar.
A Linha Vermelha - Imagem meramente ilustrativa |
A corrida do Uber foi merecedora do nome. Passando por alguns atalhos desconhecidos pelo Waze para evitar uma linha vermelha quase parada, fiz o checkin as 19:39. Para um vôo as 20:40. Cujo sistema para de aceitar passageiros com menos de uma hora de antecedência.
Andando com pressa para trocar dinheiro, passar pela segurança e fila de passaporte, acabei indo para o portão errado (distante um dígito e 600 metros do correto). Foi quando ouvi meu nome sendo anunciado.
Não foi a primeira vez que passei por isso. Em geral, quem é chamado é o último a embarcar, sob olhares de reprovação da tripulação de terra e transeuntes aeronáuticos locais. Ou perde o avião.
Fui correndo, mochila pesada nas costas, até o portão. Cheguei esbaforido e semi-coerente, e demorei um pouco para notar que uma nutrida fila de passageiros ainda esperando para embarcar. 'Não precisa correr', disse o atendente - 'Eu lhe chamei por uma boa razão. Você ganhou um upgrade.'
Imagem meramente ilustrativa |
Não vou dizer que viajar de classe executiva é o meu sonho aeronáutico. O meu sonho aeronáutico é tocar um sinete e anunciar casualmente: 'Jarbas, prepare o jato'. Mas na falta deste ultimo, aceito a classe executiva de bom grado.
Comer uma carne suculenta e um sundae feito sob medida vale a pena. Vale mais a pena dormir em uma superfície horizontal em um vôo de longa distância.
Pousando em Houston (minha conexão para Londres, por razões complexas demais para explicar aqui), fui o primeiro na fila da imigração, onde fui entrevistado por uma simpática policial ('Graças a Deus você ganhou o upgrade'; 'Então existem físicos que acreditam em Deus? A gente aprende uma coisa nova a cada dia'). Menos simpático foi segundo policial, que na saída do saguão de bagagens me mandou bater um papo camarada no secondary screening com terceiro policial, este positivamente antipático.
Aparentemente cético a respeito do meu itinerário, ele me interrogou sobre onde ia, de onde vinha, e digitou o equivalente a meia novela russa em seu terminal de segurança. Ficou encucado com meu capacete, apalpou minha bicicleta, revistou minha mochila, e olhou feio para o meu caderno de notas ('Neuronomicon'), e mais feio ainda para sua capa com o pentagrama circundado por neurônios.
Abrindo o caderno, ele examinou cuidadosamente, página a página, cada equação, diagrama, lista de compras e mapa de RPG. 'O que você faz?' - Perguntou. Mas logo abandonou a linha investigativa após ouvir sobre invariância de escala e neuroanatomia comparada.
Cthulhu Ackbar! |
2 comentários:
Fantástico. Como uma viagem ao redor da galáxia e todos os entraves extraterrestres do caminho....
Ai ai, tinha esquecido essa diversão do seu blog!! E não só tudo deu certo como deu upgrade certo! Lets
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