quarta-feira, 15 de julho de 2015

Saint John's College, Cambridge
Colisões aleatórias

Há algum tempo concluí que a minha vida é bem descrita como uma série de colisóes aleatórias com pessoas interessantes. Foi assim que conheci a Suzana, com quem comecei a trabalhar em neurociència; foi assim que conheci a Yujiang, que interessada neste trabalho, me convidou para visitar o seu grupo na universidade de Newcastle. E foi assim que conheci o Kristian Franze, quando ele foi dar uma palestra em Newcastle na semana em que eu estava lá. Após a palestra, alguém fez uma pergunta sobre o formato do cortex, e ele disse algo do tipo - "Pois é, saiu um paper interessante sobre o assunto na Science na semana passada". Ao que o meu anfitrião respondeu: "Sim, e foi aquele cara ali que escreveu!".

Para resumir uma conversa longa, ele me convidou para dar um seminário. Hoje. Como até ontem eu estava pedalando nos cafundós da Inglaterra sententrional, isto implicou em uma certa costura ferroviária, de Ravenglass a Lancaster, Lancaster a Londres-Euston, Euston a Londres-Finsbury Park, e Finsbury Park a Cambridge. Entre uma conexão e outra, notei um email do Philipe, um estudante brasileiro de doutorado por lá, gentilmente se oferecendo para me mostrar a cidade.

Cheguei no meio da tarde, com o tempo corrido, mas suficiente para um rápido tour pelos colleges oferecido pelo Kristian, que é um Fellow no Saint John´s. É uma existência um tanto Hogwartiana, com casa, comida e roupa lavada em magníficos prédios medievais, famosos por seus pátios internos, capelas, porteiros carrancudos e lautos jantares togados regados a vinho*. Como muitas coisas neste pais, esta universdade não foi exatamente projetada; ela cresceu organicamente partir de sua gênese medieval, e é atualmente um confuso palimpseto de previlégios, regras e tradições (reais ou inventadas), que demandam um impenetrável vocabulário próprio. É uma universidade pública composta de colleges privados com recursos próprios que podem variar por várias ordens de magnitude entre o opulento (e.g. Trinity College) e o esforçado, e de um sistema paralelo de departamentos onde a pesquisa e a maior parte do ensino são de fato efetuados. É muito para absorver em um dia só.

Voltamos ao departamente e, ressussitado pelo poder da cafeina, proferí minha palestra para uma estimulante plateia que incluia físicos, neurocientístas, engenheiros e outras criaturas menos definíveis. Visitei alguns laboratórios e fomos, como era inevitável, para um pub ('the Eagle'). Passamos algumas horas agradáveis bebendo (coca cola, no meu caso), discutindo ciência e desenhando diagramas e equações nas costas de uma cardápio. Após me despedir do Kristian, fui levado pelo meu segundo tour pela cidade, agora da perspectiva de um aluno.
O menu
O verso do menu

O Philipe se mostrou extremamente simpático, e bem versado nas minúcias locais, e acabamos discutindo teorias sobre o curso futuro de Game of Thrones (livros e série), em um nível de detalhamente que talvez seja um pouco além do que é saudável. Nos despedimos já de noite, e vim para o meu alojamento, onde escrevo este post ao invés de fazer o que devia, que era dormir mais cedo.

O meu tempo aqui é curto. Amanhã tomo café e parto para a estação ferroviaría para mais um périplo. Tenho que estar na universidade de Reading para mais uma palestra... A última desta temporada, pelo menos.

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* Os fellows se sentam na high table; 10 cm a mais e doses cavalares de pompa e deferência são suficientes para distinguí-los de reles alunos.

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