sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sala dos Profs. 1BR2 e Pará, UFSJ/CAP, Ouro Branco
Neurônios, círculos no céu e zumbinos

O campus do Alto Paraopeba da UFSJ é um agradável prédio de 2 1/2 andares em uma colina de onde se descortina panoramicamente a serra de Ouro Branco e redondezas. O seu departamento de física, por outro lado, é populado por uma turba desinibidamente insana de nerds talentosos, muitos dos quais são meus ex-colegas de UFMG. Estou aqui, desde ontem de manhã e até hoje a noite para dar duas palestras: A primeira sobre o meu trabalho em neurociência e a segunda sobre o meu trabalho com cosmologia. Um conjunto eclético de temas, eu diria, onde eu era ora um cosmólogo falando sobre neurônios, ora um psquisador em um laboratório de neuroanatomia comparada discutindo topologia cósmica. Mas entre uma e outra palestra, acabamos discutindo também o meu modelo de dinâmica populacional de zumbis, e postulamos a existência do zumbino, o parceiro supersimétrico do zumbi, necessário para que os diagramas de Feynmann das interações humanos-zumbis façam sentido*. Um dia produtivo...

Como já afirmei anteriormente, passar tempo com meus colegas físicos é como voltar para casa, em vários aspectos. Pessoalmente, é muito bom cozinhar, brincar com os filhos e explorar a natureza local com meus amigos. Cientificamente, por mais confortável que eu me sinta entre os biólogos, sou culturalmente, por inclinação e por formação, um físico, e é com eles que me comunico na minha lingua científica materna.

De fato, somos uma profissão um tanto hermética, e isto leva a um certo tribalismo exarcebado. Suponho que a minha sensação quase instantânea de conforto quando estou de volta ao convívio com minha tribo esteja em proporção direta com o desconforto, ou pelo menos estranheza, sentidos por quem com ela convive sem fazer dela parte. Não me refiro somente a barreiras culturais obvias, com as inúmeras piadas de Heisenberg ou as reminicências sobre antigos professores; penso também na nossa capacidade emendar todo tipo de assunto em uma conversa usando os ganchos mais estapafúrdios como tecido conjuntivo retórico, ou o nosso talento para improvisar modelos qualtitativos, em conversas de botequim ou assemelhadas, sobre qualquer que seja o objeto do nosso interesse no momento: da formação de costelas em estradas de terra à dinâmica auto-emergente dos garçons. Nos pensamos de forma diferente da maior parte das pessoas, e temos orgulho disso.

De qualquer forma, pretendo voltar. Ainda temos muito o que discutir a respeito dos zumbis, e também quero subir a serra de Ouro Branco de bicicleta.



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* O modelo em questão é clássico, mas caminhamos na direção de uma quantização...

PS: Abaixo, os resumos dos seminários




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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Casa, Rio de Janeiro
Cérebros novos e usados



Fui convidado para dar uma palestra sobre o Cérebro. Nenhum problema com o tema; sou físico, não biólogo, mas acho que tenho coisas relevantes para dizer sobre o assunto. Mas como falar sobre o cérebro para uma turma de crianças de 5 a 6 anos? Em menos de meia hora, devo acrecentar, pois este é o tempo máximo que plausivelmente eu conseguiria manter a atenção deles.

Foi o que fui descobrir hoje de manhã, na escola do Gabriel. No final das contas, eu não precisava me preocupar tanto; foi uma audiencia mais interessada e participativa que a de muitas plateias nominalmente adultas. Uma aluna queria saber porque as sensações tem que todas passar pela medula, outro sabia os nomes dos ossinhos do ouvido interno, e um terceiro queria que eu mostrasse no modelo de plástico que levei onde ficava a substância cinzenta... O Gabriel não parava quieto, e era um dos que mais perguntava e comentava, com uma misturo de orgulho filial e ansiedade para se comunicar que lhe é bem característica.


Hoje a noite cheguei em casa e me deparei com um cartão de agradecimento e um maço de papeis onde as crianças desenharam o que haviam entendido da palestra (a professora anota, embaixo, a descrição nas palavras dos autores). Nem menciono o chocolate que ganhei deles mais cedo. Uma palestra muito bem remunerada, eu diria.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Van do Senhor Volante, Rio de Janeiro
Road rage



Andar de van no Rio de Janeiro pode ser cansativo e demorado, mas raramente é entediante. Digo isto por experiência própria, já que estou dentro de uma as 19:20 da noite, em um engarrafamente que se estende para dentro da universidade. Ao que parece uma carreta virou na linha vermelha.

Existem somente duas saidas para carros do fundão, mas as maneiras de chegar até elas só são limitadas pela criatividade do motorista. O meu atual condutor resolveu passar em frente ao quartel dos bombeiros e avançar celerado pela contra-mão até a saida do Hospital Universitário, confiando na aplicação generosa de sua buzina para limpar o caminho a frente. Buzina que alias é dotada de um sintetizador de voz, e emite frases simpáticas como ´Sai da frente!´ e ´Ô coisa feia!´.

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