sábado, 27 de junho de 2009

Sq. Jean XXIII, Paris
Getting Medieval

Uma discussão interessante entre membros de uma família espanhola (ou que pelo menos se comunica nesta língua), que estão passando por mim agora:
Menino de uns 6 anos: "Não, não não! Picasso não pintou 'As Meninas'! Foi o Velazquez"
Menina de uns 4 anos: "Pintou sim!"
ItalicMenino: "Foi o Velazquez! Velazquez!"
Mão conciliadora: "O Velazquez pintou primeiro sim, mas o Picasso também pintou, anos depois."
Crianças em coro: "A, bom!"
Esta é a vantagem de blogar de uma praça. Ou da calçada do lado de fora da praça, já que esta aqui já fechou por hoje. As coisas fecham cedo em Paris, e o sol se põe tarde nesta época, então estou sempre chegando em lugares fechados ou em processo de fechamento.

Ontem acordei relativamente cedo e voltei ao museu da idade média. Desta vez fiz questão de ver cada relicario, tapeçaria e báculo em exposição. O museu fica nos antigos alojamenots do abades de Cluny (o coração cultural da França, e portanto da Europa, medieval), que foi por sua vez construido sobre as ruinas de uma casa de banhos galo-romana. Uma sobreposição interessante.

Talvez os objetos mais curiosos do museu (ou pelo menos os mais acessiveis) são as tapeçarias. As mais famosas formam um conjunto de seis peças alegóricas conhecidas coletivamente como 'A Dama e o Unicornio' (o que é bastante injusto com o leão, que tem tanta proeminência quanto o cavalo cornado nas imagens). Outra série interessante narra a história de Santo Estevão, com toda a pregação, martírio e milagres que esperamos de uma superprodução da igreja católica (aparentemente com números de canto e dança estilo West Side Story, a crer no detalhe acima).


Outro tipo de arte de que sempre gostei são vitrais e vidros tingidos medievais, e a coleção do museu é respeitável. Coincidentemente, enquanto eu examinava alguns exemplares, uma americana ao lado começou a discorrer longamente sobre as técnicas de fabricação elaboradas e a qualidade artistica impecável da peça em questão (uma crucificação, veja detalhe ao lado). Puxando um pouco de papo, fiquei sabendo que ela era também uma artista especializada em vidraçaria (vidraçeira? Deve haver um nome mais adequado...). Seus colegas medievais tampouco brincavam em serviço. Segundo minha amiga, a tal crucificação teria ido para o forno pelo menos umas sete vezes, com detalhes sendo acrecidos gradativamente a cada iteração. Cada cor (correspondente a um óxido metálico diferente) era colocada separadamente; e as folhas metálicas de cobre eram aplicadas a nano-marteladas e cobertas de esmalte dos dois lados de modo que as tensões mecânicas no vidro se equilibrassem. Não é preciso ser especialista para apreciar algum tipo de arte, obviamente; mas saber mais sobre como ela foi feita (ou conhecer alguem que saiba) torna a experiencia muito mais interessante.


Mas o que mais me fascinou nesta visita, de forma um tanto ideosicrática, foram os assentos de igreja esculpidos em madeira, dos quais o museu dispões de cerca de 40. Sob a prancha escamoteavel de cada assento existe uma pequena escultura ilustrando algum aspecto da vida mediaval (fazer manteiga, amolar facas, matar porcos, chacinar camponeses, etc), ou alguma criatura fantástico, ou o que quer que os carpinteiros medievais tivessem vontade de representar na época. Assim como com as gárgulas de Notre Dame, não parecia haver um controle eclesiastico muito sistemático sobre os escultores, então estes podiam abusar do humor e profanidade (veja o final deste post para alguns exemplos).


Depois da overdose de idade média, e de um pulinho na pracinha para um pouco de internet, começei o meu caminho de volta para a casa da Jacqueline. Uma tradição que estou aparentemente criando aqui em Paris é ser emboscado pela parada Gay local. Quando passei por aqui a caminha da Córsega, anos atrás, eu emergi do Metro (na época eu ainda andava nisso) na praça onde supostamente pegaria meu onibus para o aeroporto, e me vi no meio do que parecia ser o ponto de concetração da parada, com drag queens ajustando os enchimento peitorais e grupos afinando os últimos detalhes da coreografia. Desta vez, estava a ponto de atravessar o Blv. St. Germain quando vi o meu caminho interrompido por um rio de gente, celebrando festivamente a diversidade sexual e os shorts apertados de couro perante turistas e curiosos locais.


Consegui com dificuldade atravessar a corrente sem ser arrastado por ela; cortado ao meio, o transito na cidade toda estava obviamente arrastado, até para bicicletas. Finalmente chegando na casa da Jacqueline, encontrei-a de de saida, para um show de chorinho (!) em Montparnasse. Depois de um banho e um lanche, me juntei a ela. Foi um show interessante, tanto pelo conteudo quanto pela situação. Fomos então andando até a rua Racine para jantar em um simpático restaurante em arte noveau. Eu já disse que a Jacqueline é animada? Saimos do restaurante e continuamos andando, para observar a arquitetura parisiense a noite. Passamos pela Ponte Nova (a ponte, não a cidade; apesar do nome é a ponte mais velha de Paris), Les Halles, a usina George Pompidou e diversos hôtels particuliers cujo nome não vou me lembrar agora. Voltamos para casa no penultimo metrô, quase duas da manhã.


Continue lendo...>>

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sq. Jean XXIII, Paris
Paris: biclicetas, internet e o fantasma de Michael Jackson

Estou aqui em Paris para mais um combo de congressos e colaborações. Fico aqui uma semana para o Invisible Universe, depois uma semana em Londres para colaborar com o Reza, e depois mais uma semana por aqui para o Marcel Grossman XII.

A vinda transcorreu bem, e cheguei na sala de embarque na hora em que chamavam o vôo pela primeira vez, sem nem ter que correr! No caminho para o avião, vi a delegação brasileira para algum evento esportivo organizado pela CBDU. Ok, Confederação Brasileira de DU. O que diabos era DU, fiquei me perguntando. Dança Unificada? Descida de Ultraleve? Decatlon Uruguaio? Para aprofundar o misterio, os atletas vinham em todas as formas e tamanhos. Era um esporte de graça e leveza? Então quem eram aqueles caras troncudos? Uma competição de força? Então o baixinho franzino estava fora de lugar. Não havia um biotipo único que sugerisse algum esporte plausível. Só depois fiquei sabendo que DU quer dizer Desportes Universitários, uma olimpiada paralela que este ano acontece em Belgrado. Isto graças ao meu simpático vizinho de cadeira, jornalista da confederação.

Nove horas depois, sendo servido por uma aeromoça que parecia a rainha borg em aparência e simpatia, cheguei em Paris e me dirigi à casa da Jacqueline, a minha ex-hospede francesa que, apesar de já avó, foi fazer trilha na floresta da tijuca comigo. Ela mora no sul da cidade, perto do cruzamento da rua Vercigetorix (o lider gaules derrotado por Júlio César, para quem gosta de Asterix) com a rue
d'Alèsia (o local de sua grande vitória sobre os romanos). Ao lado, uma rua transversal bastante menos proeminente foi ainda batizada, com obvia má-vontade, de Rue de Gergovie (o local onde Vercigetorix se rendeu e os gauleses foram vencidos definitivamente).

Hoje percolei pela cidade de velib, visitei o museu da idade média (por meia hora, antes do fechamento), tirei fotos de vitrais, etc. Graças a um pequeno guia com mapas indicando a localização de estações de velib e pontos de Wifi, descobri que poderia acessar a internet no parque atrás da catedral de Notre Dame (é onde estou agora). Ao vir para cá, me deparei com uma multidão gritando o que pareciam ser palavras de ordem e agitando cartazes. Uma manifestação contra a repressão no Irã? Funcionários públicos em greve? Não! Fãs do Micheal Jackson, com luvas brancas, flores e retratos do ídolo, cantando Thriller mais ou menos em unissono com um sotaque carregado. Fiquei achando este entusiasmo todo muito estranho, até entrar na internet e descobrir que o dito cujo havia morrido. Descanse em paz...


Continue lendo...>>

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Casa, Rio de Janeiro
Marg bar marmalad

Em homenagem às práticas eleitoras Khameinescas, eu mantive por alguns dias a tagline 'Como se diz marmelada em farsi?' no gtalk. Levando a minha pergunta mais a sério do que eu, eis que hoje me aparece o Batatinha (que saiu da física para virar linguista), e me diz que após intensa pesquisa podia afirmar que no Irã marmelada é marmalad. Ora, o slogan favorito do regime iraniano é 'Morte à America' (ou Israel, ou Salman Rushdie, ou ao Barney, o dinossauro púrpura; depende do ocasião), que rapidamente verifiquei se diz 'Marg bar xxx'. Daí, meu novo tagline se tornou Marg bar marmalad. Morte à marmelada.

Pouco depois, uma amiga que mora em Isfaham (onde também ocorrem protestos imensos, repressão pelos Basij, mas sem presença alguma da imprensa estrangeira) também apareceu, rindo e me perguntando se eu estava aprendendo farsi. Dado o contexto, ela sacou rapidamenet o significado da expressão (embora a associação especifica com o doce tenha talvez permanecido um pouco misteriosa). Virou o nosso slogan particular; a minha humilde contribuição ao léxico politico iraniano.

No Irã, os protestos já há muito trancenderam a disputa politica entre duas vertentes do regime. Há uma proto-revolução no ar (os revolucionarios não sabem ainda que são revolucionarios). Ela não é secular, mas é antitotalitaria. A principio, tudo sugere que está fadada ao fracasso; mas após a votação tudo sugeria que os protestos seriam limitados ao relativamente abastado norte de Teerã; que não durariam mais que um ou dois dias; que seriam esquecidos pelo mundo quando a imprensa internacional fosse impedida de transmiti-los pela televisão; e que seriam superados pelo poder de mobilização da mídia e logística estatais. Mas apesar de tudo, os iranianos continuam marchando. Os protestos continuam, e o regime dá mostras de nervosismo.

De qualquer maneira, tais imponderáveis não importam no cálculo moral. Quando, dia após dia, milhares de pessoas saem às ruas pacificamente para para exigir o direito de escolher seus governantes, correndo os riscos inerentes ao enfrentamene com um regime autoritário, elas merecem apoio, seja sua causa quixotexca ou não.

O papel que a internet, e em particular o Twitter, teve em divulgar os acontecimentos é indiscutível; o seu papel em promove-los é objeto de intensa discussão. Mas eu gostaria de pensar que em algum porão na Birmânia, ou no Zimbabwe, ou no Egito, ou em Cuba, um appartchnik vai estar daqui para frente perdendo o sono com os mais recentes hashtags da oposição.



Para terminar, alguns links úteis para acompanhar o que está acontecendo

Eis um agregador decente das noticiais vindas do Irã, feito por iranianos:
http://raymankojast.blogspot.com/

Uma lista de leitura extensa e bastante diversa:
http://cyrusfarivar.com/blog/?p=2169

A Pirate Bay (renomeada Persian Bay) criou um Forum para discutir/entrar em contato com os iranianos/dar dicas de protesto:
http://iran.whyweprotest.net/

O hashtag do twitter relevante é #iranelection

O blog do Pedro Dória está acompanhando os eventos, com algumas discussões interessantes
http://pedrodoria.com.br/

Continue lendo...>>

domingo, 14 de junho de 2009

Casa, Belo Horizonte
Nunca compre uma rifa de um Aiatolá II

A internet está em polvorosa a respeito da (possivelmente roubada) eleição presidencial Iraniana. O Pedro Dória deve estar se entupindo de benzedrine para ficar fazendo livebloggin sem parar. O debate a respeito da suposta fraude se dá em torno dos resultados desta eleição e das passadas, mas de modo geral os poucos números que aparecem são pescados de um artigo aqui e um blog acolá, sem muita sistematização. O que eu fiz então foi compilar os números das 4 últimas eleições presidenciais: 1997, 2001, 2005 (1o e 2o turnos) e 2009. Os dados foram obtidos no excelente Ifes Election Guide, exceto para 1997, que obtive da Wikipedia*.

A versão curta da história política recente iraniana é a seguinte. A revolução Islâmica em 1979 foi seguida dos anos de chumbo da guerra Irã-Iraque e do radicalismo Khomeinista. A partir de 1989, com a eleição do Akbar Hashemi Rafsanjani, um mullah pragmático (ou cleptocrático, uma especie de José Sarney persa, como bem definiu o Anônimo da Persia), as coisas se abriram um pouco. Em 1997, o mullah reformista Mohammad Khatami foi eleito (e reeleito em 2001) por larga margem e com enorme comparecimento, nas costas do entusiasmo pelas reformas liberalizantes que ele prometia. Este entusiasmo foi se exaurindo na medida em que os cléricos não eleitos do conselho dos guardiões e o lider supremo (Ali Khamenei, sucessor do Khomeini) impediram por meios legais e extra-legais que qualquer reforma significativa fosse efetuada. A eleição de 2005 foi caracterizada pela apatia entre os reformistas e um comparecimento relativamente baixo. O ex-prefeito de Teerã Mahmud Ahmadinejad (com uma plataforma reacionária e anti-corrupção) venceu o nosso velho amigo Rafsanjani (atacando de reformista moderado) no 2° turno, e passou os quatro anos seguintes espalhando sua simpatia singular pelo mundo afora. Finalmente, ontem, Ahmadinejad supostamente conseguiu uma reeleição acachapante sobre o reformista Mir-Hossein Mousavi, apesar do renovado entusiasmo pré-eleitoral dos partidários deste último, e do comparecimento récorde (85%!). Fraude, gritaram, e gritam, os reformistas.

Esta eleição pode ser encarada de duas formas: Como o mais recente embate entre conservadores e reformistas, podendo então ser contrastada com as eleições de 1997, 2001 e 2005, e como um referendo a respeito do governo Ahmadinejad (2005 seria então a único pleito comparável). Tanto em um caso quanto no outro, como procuro mostrar abaixo, o apoio ao Ahmadinejad nesta última eleição se situa bastante fora do padrão estabelecido anteriormente.

A métrica disponível mais adequada para quantificar apoio político ao longo do tempo, me parece, é a fração do total dos eleitores (e não a fração dos votantes, ou o número total dos votantes) que a cada eleição vota em um dado candidato ou tendencia.

Para cada uma das eleição, agrupei os votos em dois campos aproximados, conservadores em reformistas. Em 97 e 2001, considerei todos os votos contra o Khatami como 'conservadores' (o que no máximo sobrestima ligeiramente o seu número). Em 2005, no primeiro turno, somei as votações dos 3 candidatos considerados conservadores (o próprio Ahmadinejad, Mohammad Ghalibaf e Ali Larijani). Incluo o Rafsanjani entre os reformistas porque foi assim que ele se promoveu (desta vez ele apoiou o Mousavi). A tabela segue


Ano199720012005(1°)2005(2°)2009
Eleitores
(milhões)
36.438.746.946.946.2
Votantes
(milhões)
29.127.729.428.039.2
Comparecimento
(% dos eleitores)
80,0%71.5%62.7%59.6%84.7%
Reformistas
(milhões de votos)
20.121.718.210.013.2
Reformistas
(% dos votos)
70.0%78.3%61.1%35.9%33.8%
Reformistas
(% dos eleitores)
56.0%56.0%38.0%21.4%28.7%
Conservadores
(milhões de votos)
9.06.011.217.324.5
Conservadores
(% dos votos)
30.0%21.7%38.9%61.7%62.6%
Conservadores
(% dos eleitores)
24.0%15.5%24.4%36.8%53.2%

Sob a primeira perspectiva, a eleição como um embate entre conservadores e reformistas, creio que o correto é comparar os resultados dos primeiros-turnos (o segundo turno em 2001 foi também em grande parte um referendo sobre corrupção e o ex-presidente Rafsanjani). A fração dos eleitores que se deram ao trabalho de sair de casa para votar nos conservadores permaneceu relativamente estável entre 1997 e 2005 (24%, 16% e 24%), mas mas dobrou (supostamente) em 2009, para 53%. Não me parece haver evidência do recente renacimento do conservadorimo iraniano que estes números indicam. Se por um lado a fração de eleitores que votou nos reformistas caiu bastante desde a presidência Khatami (56%, 56%, 38%), isto parece ser mais uma função da desilusão com a perspectiva de reformas do que uma mudança de opinião a respeito da nescessidade de reformas. Há um consenso entre os comentaristas de que na reta final da campanha os reformistas haviam recuperado o seu entusiasmo. Mas apesar disso, no final uma fração ainda menor deles (28.7%) se dignou a votar. Este número é um pouco maior do que a fração (21.4%) de eleitores que apoiou Rafsanjani no 2° turno de 2005; mas este último, assim como seu análogo maranhense, não pode ser plausivelmente considerado um ícone reformista ou um agente de mudanças profundas.

Vendo a eleição como um referendo sobre Ahmadinejad, o correto é comparar o seu desempenho no 2° turno de 2005 com o de ontem (no 1° turno de 2005 ele obteve meros 19.5% dos votos, mas era relativamente desconhecido e competia com outros candidatos conservadores). Neste caso, precisamos acreditar que um presidente em exercício em meio a uma crise econômica severa (em parte, aparentemente, piorada por sua atuação), viu o seu apoio crescer de 36.8% para 53.2% dos eleitores, um aumento de 49%!

Note ainda que em termos absolutos, o número de votantes aumentou muito desde 1997, devido ao baby-boom pós revolucionário. Isto significa que, para ter obtido 63% dos votos, Amahdinejad terá que ter atraido muitos votos dentre os jovens nascidos depois da revolução. Mas tudo indica que esta é exatamente a fração menos tradicionalista e liberalizante da população.

Em suma, devemos acreditar que, apesar do seu entusiasmo aparente, os reformistas decidaram ficar em casa ou mudaram de lado, enquanto os conservadores recrutaram com sucesso a juventude do pais e compareceram em massa pela primeira vez desde 1997. Ou devemos supor que os iranianos consideram o governo Ahmadinejad um sucesso estrondoso, e não sentem um necessidade preemente de reformas liberalizantes.

Novamente, nada disso prova a fraude. Na falta de dados para uma análise estatística apurada, estamos limitados a conjecturar a respeito da plausibilidade dos cenários acima. Mas pelo pouco que sei sobre o Irã, acho ambas bastante difíceis de aceitar.

EDIT: A % de eleitores dos conservadores em 2001 estava errada (como apontou o Paulinho) e foi corrigida.

EDIT2: Os números do comparecimento em 2009 são agora oficiais. O número de eleitores registrados de fato diminuiu de 2005 para 2009. Aparentemente o conselho dos guardiões (agindo como orgão de supervisão eleitoral) eliminou das listas de votação quase 5 milhões de nomes. Quantos destes eram fantasmas e quantos são eleitores de verdade (supostamente na sua maioria apoiadores da oposição) eu não sei.

___________________________
* A partir de Abrahamian, Ervand, History of Modern Iran, Columbia University Press, 2008, p.186)

Continue lendo...>>

Casa, Belo Horizonte
Nunca compre uma rifa de um Aiatolá

O governo iraniano anunciou que o Ahmadinejad ganhou a eleição ontem com quase o dobro de votos de seu oponente mais próximo, o reformista Mousavi. A oposição, e inúmeros blogueiros e analistas acusaram fraude, e enquanto escrevo o pau come solto nas ruas de Teerã. São três as principais evidências citadas de pilantragem:

1 - A comissão eleitoral supostamente teria dito à campanha do Mousavi que ele ganhara a eleição, mas que ele não deveria anunciar a vitória até o comunicado oficial após todos os trâmites oficiais

2 - Horas depois, e atropelando o processo normal de validação da eleição, o supremo lider, Aialtolá Khamenei, anunciou Ahmadinejad como vencedor, com base em 80% dos votos contados, por uma margem muito maior que a esperada

3 - Em cada um dos comunicados com os totais parciais dos votos, a razão entre o número de votos dos dois candidatos permaneceu quase exatamente constante, ao contrário do que aconteceu em eleições passadas. A preferencia por um e outro (e, de forma mais geral, pela reforma ou pelo status-quo) é aparentemente bastante divergente entre as diferentes províncias, e entre iranianos urbanos e rurais. A comparação direta entre os resultados regionais parece mostrar a mesma razão constante de votos.



É a respeito de (3) (veja o gráfico acima) que o pau come solto na internet atualmente. Entre supostas provas e refutações (da prova, não da fraude), eu escrevi o seguinte (em inglês mesmo porquê não vou traduzir isto tudo as 2 das manhã):

Neither the proof nor the refutation of fraud are proper statistical analyses. The near-constant ratio between the candidate's vote totals would make sense only if the votes in each partial result were approximately an representative sample of the total vote. Which would mean that either:


a) Iranian precincts or districts count and report votes at approximately the same rate.

or

b) For each partial result the tallied vote ratios just happen to coincide with those of the complete result, because reporting places which are more pro-opposition than average just happen to balance out pro-government places

or

c) There is a reporting bias, i.e., some kinds of precints/voting sites/districts count and report votes at different rates*, but voting patterns are approximately the same across the country and between cities and countryside.

Now, a) is conceivable in theory, but from what I read reporting was not uniform. b) requires a series of unlikely coincidences, and c) would mean voting patterns have changed significantly (and congruently) between past elections and the last one.

None of this proves fraud, but certainly seem to suggest it. A proper statistical analysis would take as the null hypothesis the non-existence of fraud, and try to quantify how unlikely that would be. It would be virtually impossible to disguise massive fraud from a full statistical analysis of voting patterns, if detailed results were available. For some reason, I suspect they won't be. But even with coarser data, one could

- Prove or disprove a) by simple inspection of the places included in each partial tally

- Prove or disprove b) by inspecting subtotal in each tally

- Test c) by comparing reported voting patterns (as a function of region, urbanization and whatnot) in this election with those of past elections.

The catch is that, while we can in principle exclude a) and b), we can at most say about c) that 'Either there was fraud, or voting patterns changes in such-and-such way'. One is then left with the somewhat subjective task of estimating the likelihood of such a change. This is what Iranian experts are for, and this is where the debate should occur. Of course, were we to be told that, for instance, the ratio between Obama and McCain votes wa the same in both Illinois and Arizona, we would be pretty sure there was something wrong with the results. From the fragmentary reports I've read, which seem to be based as of yet on very incomplete data, the reported voting patterns in Iran seem equally implausible. We should not rush to judgment, but my preliminary impression is that this election does indeed look fishy.


__________________
* E.g. smaller rural precincts count quicker than big urban ones, or eastern regions count earlier than western because most people vote before sunset

Continue lendo...>>

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Fundão, Rio de Janeiro
Kinetic Theory of Gases - a Limerick

Bernoulli devised a theory kinetic
well-adapted to gases eclectic
small marbles collide
will by Newton abide

adiabatically compressed, they become frenetic


BM

Enquanto espero o resultado do concurso, escrevo poesia

UPDATE: Não passei. Que melda...

Continue lendo...>>