Sofá da Kelly, Chicago
go to Wabash and Lake
Ultima noite em Chicago. Para quem não sabe, estou me hospedando na base do couchsurfing, o que significa que fico na casa de completos estranhos que conheço através da internet (a principal função do site é válidar hospedes e hospedantes, e garantir que nem uns nem outros sejam maniacos de machadinha ou flatulentos crônicos). É uma maneira excelente de poupar dinheiro, e conhecer uma cidade nova de forma menos anônima. O processo exige porém uma dose considerável de flexibilidade, e tem os seus lances ocasionais de melodrama. Na minha primeira parada, as duas flatmates passaram em poucos dias do convívio amigável para o estranhamento mútuo para a hostilidade aberta. No momento, elas não se cumprimentam (o terceiro flatmante acaba virando dano colateral na guerra doméstica). As razões da briga são, como eu já disse, um tanto bizantinas, e envolviam a nossa (minha e da Aline) hospedagem, mas não implicavam na rejeiçao, por qualquer uma das partes, da nossa presença lá. Mesmo assim, com clima pesado e o fato de que nenhuma ação ou inação da minha parte seria considerada neutra em um clima tão polarizado (neste aspecto guerras domésticas são iguais a guerra civis), acabei me mudando; inicialmente para a casa que um estudante de cinema divide com seis de seus amigos mais próximos, e em seguida para o apartamento de uma neurocientísta que só chegou hoje de uma viagem de trabalho.
O resultado disto tudo é que a minha estada pós-SfN aqui em Chicago acabou se tornando mais social do que propriamente turistica. Conheci várias pessoas interessantes, entre hospedeiros, seus amigos e namorados, e agregados em geral. Tive companhia para ir em restaurantes, caférs, bares, lojas e museus; discuti a dinâmica populacional de zumbis, o julgamento do Pirate Bay e o a inconstância do clima de Chicago. Eu já disse antes, e repito, que conhecer lugares é muito interessante, mas conhecer pessoas é mais interessante ainda.
De forma um tanto mais turística, passei boa parte do meu tempo restante em museus e congêneres, para os quais comprei entradas por atacado na forma do tal 'city pass'. Vi golfinhos e penguins no Shedd Aquarium, astronomia africana e galaxias em colisão em 3D no planetario, e dinossauros e máscaras funerárias polinesias no Field Museum (onde tive uma longa e interessante conversa com um voluntário de plantão e arqueologo amador em um oca pawnee). Fui ainda no pequeno mas interessante museu do holograma, e subi na Sears* tower em uma tarde de céu azul (o city pass convenientemente me permitiu furar a fila de uma hora e meia para pegar o elevador). Não fui em todos os lugares que queria, mas já aprendi a me desapegar de pretensões completistas.
Uma última observação sobre a cidade: O clima de Chicago varia quase de minuto a minuto. Hoje tivemos ventos glaciais e o ceu completamente nublado pela manhã, com visibilidade zero do observatório da Sears Towers, e um céu azul sem nuvens e temperaturas amenas durante a tarde. O clima londrino tem previsibilidade amazônica em comparação.
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* Após uma recente mudança de patrocinador corportativo, o nome correto do edificio em questão agora é Willis Tower, mas ninguem realmente usa o novo nome.