sexta-feira, 18 de julho de 2008

Observatorie de Paris, Paris
Laplace esteve aqui

Talvez a parte mais interessante de congressos internacionais como este seja a interação com pessoas de todo o mundo. Hoje almocei com uma espanhola, uma alemão e um georgiano (i.e, da Georgia, república ex-soviética). Chegamos a conclusão que o mundo pode ser dividido entre paises que são organizados demais (i.e., Alemanha, Suiça, União Soviética) e países que são desorganizados demais (i.e., Brasil, Itália, Georgia). A preferência por um tipo ou outro é uma questão puramente subjetiva.

A primeira linha de meridiano do mundo (antes de Greenwich se impor) foi definida aqui no Observatório de Paris. O prédio onde ocorre o colóquio ("Batiment Perrault¨, em homenagem ao arquiteto que o projetou) se alinha perfeitamente ao eixo norte-sul, e é dividido ao meio pelo meridiano, que é indicado (acima, na foto) no espetacular salão Cassini (onde ocorre o igualmente espetacular coffee break).

O Observatorio de Paris foi fundado em 1671, e provavelmente é a mais antiga instituição do tipo em atividade no mundo. Seu primeiro diretor foi Giovanni Cassini, o maior astrônomo da sua époa, que entre outras coisas mapeou a lua e observou e classificou pela primeira vez as divisões dos aneis de Saturno. Após sua morte, a diretoria passou em sucessão dinástica sucessivamente para o filho, neto e bisneto. A linha foi interrompida pela revolução francesa. Entre os diretores não-cassinianos subsequentes, vários se destacaram como astrônomos ou matemáticos, mas o mais famoso certamente foi Laplace, cujas descobertas são tão profundas e variadas que nem tenho ânimo de resumir.

Acima, uma foto do Salle du Conseil, onde ocorrem as palestras. E' uma sala circular, com janelas que se alternam com retratos de alguns dos antigos diretores. A pintura maior é uma representação um tanto afrescalhada do Rei Sol (Luis sei-la-das-contas), que fundou a instituição.


Ao lado, detalhe do teto da Salle du Conseil, onde uma alegórica Venus transita* em frente a um Sol igualmente alegórico, sob a observação atenta de um bem equipado grupo semi-alegórico composto por querubins e um mané com uma toga esvoaçante.

Note os não-alegóricos telescópio e demais instrumentos de astronomia e cartografia. Obviamente, se o querubim observasse o evento desta maneira, queimaria a retina.

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* Trânsito é a passagem de um planeta na frente do disco solar. Ao cronometrar precisamente quando isto ocorre (notando que cronômetros precisos são o sina qua non para determinar longitude), e' possível medir por paralaxe a distancia absoluta do planeta ate' a Terra. As leis de Kepler so' permitem calcular as distancia relativas entre os planetas.


A torre da igreja Saint Jacques de la Boucherie, ponto de partida tradicional para a peregrinação até São Tiago de Compostela. O resto da igreja foi demolido durante a revolução. A torre remanescente foi restaurada diversas vezes (uma estátua do Blaise Pascal foi construida na base no século XIX).

Eu adoro vitrais. É preciso escolher as condições certas para aprecia-los da melhor forma possível. Idealmente, o sol deve estar a meio caminho entre o horizonte e o zênite; e a cobertura de núvens deve ser esparsa o suficiente para que haja bastante luz, mas fechada o suficiente para que esta última seja espalhada e suavizada. O dia hoje as 10:30 da manhã estava quase perfeito em todos os aspectos. O celular não faz justiça a este vitral (na Notre Dame), mas já dá para ter uma ideia do que estou dizendo. Amanhã quero visitar a Saint Chapelle, que tem os vitrais mais impressionantes que já ví.

4 comentários:

Marcelo Pará disse...

E ai Bruno, apesar de ter muito o que fazer, sempre dá tempo de vir conferir o seu blog, que fica cheio de surpresas sempre que você viaja. Eu tive o azar de ir visitar o Observatório de Paris num sábado, dia em que ele está fechado, duh, ou seja, não visitei, uma grande frustação para mim. Achei legal demais o lance do Velib, não me lembro desse sistema em Paris, me lembro dele em Barcelona.
Talvez eu vá no Rio em Agosto, vai estar lá?
abraço

Bernardo Esteves disse...

Estudei aí do lado, no Lycée Montaigne, na rua Auguste Comte. Saudade!

Te amo do umbigo! disse...

Amore, continue aproveitando muito!
Aqui estamos com saudade mas tb aproveitando!
Bjs

|3run0 disse...

Pará, devo estar no Rio sim. Avisa quando souber da data

Bernardo, acho que já passei perto desta escola. É perto da Rue St Jacques?

Ceci, eu tb, nos dois quesitos!