domingo, 27 de julho de 2008

LNAC, UFRJ, Rio de Janeiro
40 toalhas brancas, uma banheira com champanhe e um piano de cauda

Não foi minha primeira participação aleatória em video. Mas não havia como não ficar surpreso quando cheguei em casa na 6a e encontrei uma nota dizendo que a 'TV Globo' queria falar comigo. Além da sensação cyberpunk de ser objeto de atenções de uma entidade incorpórea com ramificações eletromagnéticas em todos os domicílios do país, fiquei obviamente me perguntando o que diabos eles queriam comigo. Uma entrevista para o Fantástico, esclareceu a moça do outro lado da linha.

No dia seguinte, exatamente no horário combinado, chega lá em casa uma equipe assustadoramente eficiente (a sensação cyberpunk de novo...), liderada pelo tal Zeca Camargo (que incidentalmente se mostrou extremamente simpático). O resultado pode ser visto abaixo:


Eu realmente falo assim?!

PS1: O livro que leio (ou finjo ler) é o Reed-Simon de Análise Funcional. Era o que estava mais à mão, graças a uma controvérsia com o Sandro a respeito de medidas de Lebesgue.

PS2: A Ceci ficou revoltadíssima que escolhi logo um prato lascado para servir o salmão. Foi mal...

domingo, 20 de julho de 2008

Hotel de Saint Marie-Anne, Paris


Nào consegui terminar meu post ontem sobre final do congresso, entao vou ter que escrever fora de ordem mesmo. A conjunçao do fim de semana com o fim do coloquio fez deste domingo o dia mais turistico desta viagem. Da mesma forma, este sera talvez o post mais turistico deste blog.

Eu, Rafael Cury, Mickel, Mari e Sylvain nos encontramos na rue Montorgueil, sub um céu azul em um dia quase caricaturalmente bonito.

Dia quase caricaturalmente bonito, Place de la Concorde


Fomos andando meio a esmo, em meio às diversas lojas e *-eries vendendo todo tipo de guloseima. Com o apetite escancarado pela experiencia, decidimos entao almocar em um restaurante georgiano (i.e. da Georgia, republica ex-sovietica famosa por suas montanhas, vinhos e psicopatas bolcheviques) no Cartier Latin. A comida (Kartcho, Tchacapouli e Khatchapouri; nào estou inventando, juro) estava muito boa, e ainda convenci a simpatica atendente tiblisiense a me dar duas garrafas (vazias) de vinho georgiano.


Continuamos no nosso movimento browniano pelo Cartier Latin, e fomos parar na Arena da Lutécia (o antigo circo de gladiadores da época romana).


Arena da Lutécia, por Tutatis


Andar a esmo é provavelmente a melhor maneira de se conhecer uma cidade. Voce acaba encontrando pequenos lugares e eventos que jamais veria se seguisse ovelhamente o caminho indicado por algum guia. Sao estas coisas que criam a textura de uma viagem. Lugares famosos e gandes atraçoes, embora indubitavelmente interessantes e ocasionalmnte espetaculares, raramente sao surpreendentes.


Prédio randomico


Depois de andar mais um pouco,o Rafael precisou ir embora para a cidade onde mora (é preciso qualificar o 'um pouco': escurece por volta das 10:30 da noite; nos encontramos por volta de 13:00 da tarde, e eram quase 19:00). Nos restantes fomos entao de metro para ver o Louvre, e andar pelo Jardim das Touileries.


Mari e Sylvain


O museu ja havia fechado, obviamente, mas passeamos um pouco pelo promenade subterraneo antes de voltar para a superficie. Por muito pouco nao fui engolido por uma cadeira massageadora em uma loja por la.


De volta à superficie, fugindo dos Morlocks


A maneira comos as pessoas reagem à piramide invertida vale uma tese.


Maldito Dan Brown!


Seguimos pelo Tuileries até a place de la Concorde (ganhei um baralho no tiro ao alvo no parque de diversoes), e continuamos andando. O dia estava ameaçando terminar!


Fim do dia


Na altura do Hotel des Invalides, a mari resolveu voltar para casa, e fui com o Sylvain de velib; primeiro até a Torre Eiffel, e entao de volta para a casa deles.


sexta-feira, 18 de julho de 2008

Observatorie de Paris, Paris
Laplace esteve aqui

Talvez a parte mais interessante de congressos internacionais como este seja a interação com pessoas de todo o mundo. Hoje almocei com uma espanhola, uma alemão e um georgiano (i.e, da Georgia, república ex-soviética). Chegamos a conclusão que o mundo pode ser dividido entre paises que são organizados demais (i.e., Alemanha, Suiça, União Soviética) e países que são desorganizados demais (i.e., Brasil, Itália, Georgia). A preferência por um tipo ou outro é uma questão puramente subjetiva.

A primeira linha de meridiano do mundo (antes de Greenwich se impor) foi definida aqui no Observatório de Paris. O prédio onde ocorre o colóquio ("Batiment Perrault¨, em homenagem ao arquiteto que o projetou) se alinha perfeitamente ao eixo norte-sul, e é dividido ao meio pelo meridiano, que é indicado (acima, na foto) no espetacular salão Cassini (onde ocorre o igualmente espetacular coffee break).

Acima, uma foto do Salle du Conseil, onde ocorrem as palestras. E' uma sala circular, com janelas que se alternam com retratos de alguns dos antigos diretores. A pintura maior é uma representação um tanto afrescalhada do Rei Sol (Luis sei-la-das-contas), que fundou a instituição.


Ao lado, detalhe do teto da Salle du Conseil, onde uma alegórica Venus transita* em frente a um Sol igualmente alegórico, sob a observação atenta de um bem equipado grupo semi-alegórico composto por querubins e um mané com uma toga esvoaçante.

Note os não-alegóricos telescópio e demais instrumentos de astronomia e cartografia. Obviamente, se o querubim observasse o evento desta maneira, queimaria a retina.

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* Trânsito é a passagem de um planeta na frente do disco solar. Ao cronometrar precisamente quando isto ocorre (notando que cronômetros precisos são o sina qua non para determinar longitude), e' possível medir por paralaxe a distancia absoluta do planeta ate' a Terra. As leis de Kepler so' permitem calcular as distancia relativas entre os planetas.


A torre da igreja Saint Jacques de la Boucherie, ponto de partida tradicional para a peregrinação até São Tiago de Compostela. O resto da igreja foi demolido durante a revolução. A torre remanescente foi restaurada diversas vezes (uma estátua do Blaise Pascal foi construida na base no século XIX).

Eu adoro vitrais. É preciso escolher as condições certas para aprecia-los da melhor forma possível. Idealmente, o sol deve estar a meio caminho entre o horizonte e o zênite; e a cobertura de núvens deve ser esparsa o suficiente para que haja bastante luz, mas fechada o suficiente para que esta última seja espalhada e suavizada. O dia hoje as 10:30 da manhã estava quase perfeito em todos os aspectos. O celular não faz justiça a este vitral (na Notre Dame), mas já dá para ter uma ideia do que estou dizendo. Amanhã quero visitar a Saint Chapelle, que tem os vitrais mais impressionantes que já ví.

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quinta-feira, 17 de julho de 2008

Palace de les Aubergines, Paris

OS WRONSKIADAS

Com o sono e o jetlag acumulados
que da oriental praia de Copacabana
por ares pela Varig navegados
vim até Paris, com sono para uma semana

De bicicleta, ou perdido ou atrasado
pedalando além do que prometia a força humana
sobre cosmo remoto ouvi grande falatório
sob o céu de Paris, no venerável observatório

Uma foto (de celular) de Montmartre
(= Monte dos martires; aparentemente alguns cristaos foram pregados por la' no seculo I ou II)


Observaçoes rapidas: Velib até o observatorio, sem grandes problemas. Pedrestes muito simpaticos; motoristas ok, motociclistas psicoticos. Observatório de Paris fantastico. Fundado por Cassini, dirigido por Laplace. Palestras interessantes, em diferentes graus. Coffe break espetacular. Volta: Bastille/canal/Praça Estalingrado/Blvd. de lq Chapelle. Berinjela grelhada e goibada com catupiry de jantar. Muito sono.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Chateux Sylvain, Paris

Consegui pegar o aviao sem grandes sobressaltos (o que e' quase inédito). Pousamos no Charlie de Gaulle no horario, sem enfrentar nada mais perigoso que uma lazanha com a consistencia de pudim, e uma leve turbulencia sobre o Atlantico sul. A alfandega francesa foi um decepcionante, porém.

Eu havia sido avisado para ir munido de seguro de viagem, provas de que teria onde me hospedar, e um convite formal do observatorio. Me preparei mentalmente para justificar minha presença na França, e projetar uma aura inabalavel de intençoes pacificas, nao terroristas e nao imigrantes. Ensaiei as tiradas ironicas que assegurariam a todos que a minha talibanica foto de passaporte era um mero acidente estético. Finalmente, me armei retoricamente para responder a contento qualquer pergunta que podesse por em questao as minhas boas intençoes para com toda a Galia e seus gauleses habitantes.

E o mané no guiche mal olhou para meu passaporte, e me mandou passar. Bem vindo a França!

Minha frustraçao durou pouco, porem. Peguei o RER até a Gare du Nord (o meu tosquissimo frances esta se mostrando surpreendentemente versatil). Me encontrei com o Sylvain (o namorado da Mari, na casa de quem estou hospedado), e apos comprar passes para o velib, fomos fazer compras. Eles moram em um bairro ridiculamente multietnico, onde açougues halal dividem paredes com mercados vietnamitas e vendas portuguesas; onde maes nascidas na Costa do Marfim, Turquia, China ou até mesmo Paris conversam amigavelmente enquanto suas multicoloridas crianças brincam em um parque. O cliche cinematografico de umq comunidade multietnica nao faz justiça à profusao de roupas, temperos e linguas que se misturam por aqui. E os mercados... A variedade é quase intimidante.

A Mari esta' chegando do trabalho. O Sylvain preparou o jantar, e todo este papo de temperos e culinarias me deixou com fome. Amanha vou de bicicleta para o observatorio, e posto mais.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Casa, Rio de Janeiro
Gallia est omnis divisa in partes tres

Eu criei este blog para registrar uma viagem que fiz à Europa. O terceiro post diz, simplesmente:

Estou atrasado, tenho que correr para o Galeão. See ya

O quinto post fala sobre minhas tribulações para pegar o vôo até Paris (de onde fui para a Córsega, Londres e Dublin). Como geralmente costuma ser comigo, chegar lá não foi trivial.
Nao seria uma viagem minha se nao saisse em cima da hora... Fui zunindo do CBPF para casa (a vantagem de estar com pressa en uma bicicleta e' que, ao contrario de um carro, vc pode correr tao rapido quanto puder; pelo menos nao e' tao angustiante). Tomei um banho, peguei as mochilas e saimos (de carro) para o aeroporto. Na linha vermelha, o transito estava parado (um acidente). Em pânico, liguei para o 0800 da Air France, mas todos os atendentes em portugues estavam ocupados, entao peguei uma atendente em ingles do programa fidelidade (!). A mulher deve estar em Bangalore ate' agora tentando entender o que aconteceu, mas me arranjou o telefone da AF no Galeao (que o 102 nao tinha). A atendente do Galeao me prometeu segurar o Check in ate' 9:30 (o voo era as 10:20). Cheguei as 9:22. Mas embarquei...
No voo, fui ao lado de uma velhinha (e' sina!), dona de um teatro no Rio, que comprou uma casa de campo na Franca. Ela tem altas historias interessantes, sobre o Brizola, jornais brasileiros e a cidade de Pelotas. Como mora na Urca, prometi visita-la quando voltar


Hoje estou indo para Paris novamente. Vou ficar somente uma semana, e a razão oficial da visita é o '12th Paris Cosmology Colloquium'. Para variar, estou um pouco atrasado: tenho que passar no supermercado e chegar no aeroporto em 40 minutos.

O meu plano em Paris é fazer tudo de bicicleta. Existe agora um sistema de alugel que cobre a cidade inteira (o Velib), do qual pretendo me tornar fiel cliente. Para não perder de vez o vôo, eis um vídeo que explica como exatamente funciona esse tal de velib


Este outro vídeo também é interessante.

Bom, é isso. Fui. Se tudo der certo, o próximo post será direto da França. Que é dividida em três partes.

domingo, 13 de julho de 2008

Casa, Rio de Janeiro
Carta de apresentação


Tomei julho para tirar uma espécie de semi-férias cosmológicas do meu ano sabático neurológico da minha carreira como físico. Se vc acha isto confuso, não se preocupe. É confuso para mim também.

O fato é que estou no momento trabalhando com o Reza (meu colaborador Anglo-Iraniano, que está aqui no Rio) em um paper de topologia cósmica (qua anda parado a *muito* tempo), e estou indo na 3a feira para Paris, para um colóquio de cosmologia. Pouco depois de voltar, irei para Mangaratiba para assistir a XIIIa Escola Brasileira de Cosmologia e Gravitação e andar de caiaque.

A minha vida anda meio corrida...

Assim, na falta de um post realmente original, eu reproduzo abaixo (na mais completa cara de pau) uma carta de apresentação que escrevi para me inscrever em um outro encontro no final do ano, explicando o que diabos estou fazendo da vida. Não tenho tempo de traduzi-la (se tivesse, escreveria um post decente!).


* Proverbially, it is told that a farmer once hired a group of physicists to help increase the milk productivity of his cows. The physicists measured the bovines with all sorts of instruments; filled acres of blackboard space with elaborate calculations, and wrote thousands of lines of code to simulate the cows' every aspect. After months of research, the farmer finally received a ponderous document relating the scientist's findings. He eagerly opened it in the first page, in which he read: "Consider a spherical cow, with homogeneous distribution of milk, embedded in an isotropic and homogeneous pasture... "

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quarta-feira, 2 de julho de 2008

IMPA, Rio de Janeiro
Escrevendo em blog alheio

Eu não sou iraquiano. Nunca estive no Iraq, não falo árabe, não tenho qualquer qualificação torne especialista no Oriente Médio, em estratégia ou em guerra. Nada mais natural, portanto, que eu seja convidado para escrever um post em um blog britânico a respeito da situação atual no Iraque...

O post obviamente é em inglês, e não tenho paciência agora para traduzí-lo.

The thesis up front: I believe that the most important dynamic in Iraq today is not the fight between Americans and insurgents. It hasn’t been for a long time. For a while it was sectarian conflict, and it nearly destroyed the country. Although the latter dynamic remains significant, it is now secondary to the conflict between parties currently ‘inside’ the structures of power of the Iraqi state and those totally or partially outside who want in. How this tension is resolved will largely determine whether Iraq will move toward a decent outcome or return to civil war.

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