quarta-feira, 13 de abril de 2005

Casa, Rio de Janeiro

O André e o Alastair organizaram um grupo para fazer um levantamento arqueológico na serra de Moeda. Veja detalhes neste post no blog do Fernando. O grupo partiu de BH, e nunca mais foi visto. A presente narrativa é uma reconstrução a partir de fontes fragmentarias e entrevistas com os habitantes locais.

Moeda: Portal para o Inominavel
compilado por Bruno Mota

DRAMATIS PERSONAE

André, Arqueólogo. Diretor do projeto.

Alastair, Arqueólog. Co-Diretor do projeto e gringo de plantão.

Fernando, Designer. Acumula as funções de fotógrafo, cinegrafista e designer.

Daniele "Dani", Arquiteta. Responsável pelos Croquis.

Ricardo "Tala", fotógrafo. Abandonou o posto da fotografia, assumido por Fernando, e é o Administrador. Cuida de toda a burocracia, gastos e supervisão geral.

Reginaldo "Regis", Historiador. Responsável pela parte de historiografia.

"", Estudante de Turismo. Faz-tudo, faz o leva e traz, cuida dos equipamentos, suprimentos e alimentação.

CENA I - Land Rover superlotada, dia

FERNANDO> André, vai caber todo esse povo na fazenda?

ANDRE> Não se preocupe, estão todos viajando. A fazenda estará deserta. Sera ótimo.

ALASTAIR> Where are we going again?

REGIS> É melhor começar a trabalhar. Para aí perto daqule casebre para começarmos as entrevistas.

A LR para. Um matuto abre a porta do casebre e olha o grupo com desconfiança. FERNANDO tira inúmeras fotos.

REGIS> Com licença meu senhor, o que você sabe sobre a velha fundição?

MATUTO> grgmbmlemdbagmbuyashubnigurathnyarlatothepcreoignem.... --- Bate a porta.

FERNANDO> Orra meu, vamo embora. Cara grosso. A gente continua isso amanha.

RICARDO> Estou precisando mesmo de uma viagem para relaxar. O lugar é tão agradável, e o dia está lindo...

Começa a chover. Muito.

GÒ> Com esta chuva, não seria melhor voltar outro dia?

ANDRE> Bobagem! Minha LR passa por qualquer lama, o que de ruim poderia acontecer?

ALASTAIR> I thought we were going to the beach...

A chuva piora. A LR derrapa. Um raio cai sobre uma arvore, que cai sobre a estrada momentos depois da LR passar.

GÓ> Eu quero voltar!

ANDRÈ> Não se preocupe, já fiz isso milhares de vezes. Nada de ruim vai acontecer!

ALASTAIR> Can I surf with this rain?

Um relâmpago cai ao longe, iluminando uma figura vagamente humanoide no topo de uma colina


CENA II – Fazenda, à noite, chuva forte. Todas a janelas estão abertas, símbolos estranhos foram talhados no assoalho.

RICARDO> Que decoração... Peculiar.

REGINALDO> Hmmm...

ANDRÉ> A caseira nova ainda não pegou o jeito. Mas são só uns arranhões. Não tem problema nenhum, o que mais pode dar errado?

DANI começa a fazer esboços das inscrições. ALASTAIR encera sua prancha. FERNANDO tira fotos. ANDRE emburra e começa a dar voltas em torno da escada.

FERNANDO> O quarto com o pentagrama é meu. Falei primeiro!

Barulho de cascos do lado de fora.

GÒ> Que barulho estranho. Estou morrendo de medo! Por isso, vou sair sozinha lá fora e investigar.

Passos. Silencio. Grito, interrompido bruscamente. Barulho de mastigação.

ANDRE> Gó, quando você terminar de brincar com os cachorros não se esqueça de limpar os pés. Se não sujarmos a casa vai ficar tudo bem.

FERNANDO> Vou dormir.

DANI continua desenhando como que em transe. ALASTAIR examina demoradamente sua prancha.

CENA III Fazenda, de manha. Neblina pesada


Todos se reúnem na mesa da cozinha, exceto GO e FERNANDO. A nova caseira esta preparando um cozido. Ela possui vasta cabeleira, veste um pesado manto negro, exala leve odor de putrefação e tem a pela acinzentada. Na panela, nacos apetitosos de carne cozinham no molho espesso. Um dos nacos está grudado em um farrapo onde os dizeres ´Turismo 2004´ainda podem ser lidos. Ninguém comenta sobre a aparência inortodoxa da caseira porque ela é nova e não querem constrange-la.

ANDRE> O Fernando não acorda!

DANI> Eu passei no quarto dele e ele não estava mais lá. Acho que já foi. Eu peguei a câmera dele.

ANDRE> Então vamos comer e picar a mula. Vai dar tudo certo hoje!

ALASTAIR> Now can we go to the beach?

Eles comem e picam a mula. Começam a caminhar em direção as ruínas. ALASTAIR leva sua prancha. No caminho, encontram estranhas pegadas de cascos bovinos, grotescamente deformados.

RICARDO> (saca uma foto do bolso de sua camisa vermelha) Esta é minha mulher e meus dois filhos. Quando a guerra terminar vou comprar uma fazenda lá em Iowa.

TODOS> Uhh...Ok.

RICARDO> Dá para ir mais devagar? Estou ficando cansado, essa nevoa púrpura ta me deixando enjoado.

ANDRE> Deixa de frescura. Vamos indo

ALASTAIR> Yeah! Now we are finally getting somewhere! --- Faz uma onda com as mãos.

RICARDO vai ficando para trás. Na tentativa de acompanhar os outros, tropeça. No chão e desorientado, ouve o tropel de cascos artiodactilos. Seus olhos reagem com terror ao que vê, mas o seu grito mal sai da garganta quando é interrompido bruscamente. Ruídos de mastigação.

ANDRE> Rosinha! Tava preocupada sô! Fica aí brincando com o Ricardo enquanto a gente vai trabalhar, fica.

REGINALDO> Gente, tem algo que eu talves devesse ter falado para vocês antes... --- O grupo emerge da mata e vê as ruinas. Reginaldo se cala.

CENA IV – Ruínas. Os modestos restos da antiga fundição são cercados por várias torres de aspecto intimidador, cobertas por gárgulas vagamente bovinoformes em poses torturadas. Está anoitecendo, começa a ventar forte. Do interior da maior das torres emerge um barulho surdo e ritmado. Reginaldo fica cada vez mais agitado. Dani olha as imagens na câmera digital de Fernando. Subitamente o terror se espalha por seu rosto

DANI> Gente!! Vocês deviam ver isso!

ANDRÈ> Não temos tempo para turismo! – Entra na torre mais alta

ALASTAIR> I can already smell the ocean. André, wait!

REGINALDO e DANI contemplam as cenas no display da câmera. Fotos que Fernando distraidamente tirara de si mesmo. Fernando. Fernando e o Pentagrama. Fernando e o Pentagrama fosforescente. Fernando, o Pentagrama fosforescente e a nevoa. Fernando, o Pentagrama fosforescente, a nevoa e uma criatura disforme com aparência de vaca, com garras e dentes afiados. Fernando em pedaços, o Pentagrama fosforescente, a nevoa, a criatura disforme com aparência de vaca, e um portal para o que parece ser o interior da torre. O Pentagrama.

REGINALDO e DANI ouvem um tropel distante. Começam a gritar.

ANDRÈ> Parem de gritar seus malucos. Fiquem quietos e tudo ficará bem.

ALASTAIR> They are already in the water! Wait for me!

Enquanto prestam atenção na comoção, ANDRE e ALASTAIR colidem com os corpos destroçados e pendurados de GO, FERNANDO e RICARDO, que batiam ritmicamente contra a parede. A cada pancada, as inscrições em baixo relevo ficavam mais distintas e brilhantes.

TODOS> AAAHHHH!!!!

REGINALDO e DANI entram correndo na torre. São seguidos por várias criaturas bovinoformes de horrenda aparência. As criaturas emitem mugidos abissais enquanto cercam o grupo em pânico. As inscrições agora brilham fortemente; os corpos pendurados sofrem espasmos enquanto ressecam; uma nevoa fina se espalha como se dotada de vontade própria, envolvendo o grupo no centro da sala e as criaturas antes de sair em direção ao breu externo.

ANDRÉ> Fiquei juntos, vai dar tudo certo.

ALASTAIR> André, you were right about these cariocas. They are really rude.

REGINALDO> É culpa minha. Eu reconheci as inscrições na fazenda. Muitas historias são contadas sobre as estranhas criaturas que rondam estas ruínas. Entre murmúrios semi-coerentes dos matutos locais há referencias a entidades inomináveis que acordariam do seu sono milenar quando as estrelas estivessem alinhadas.

DANI> Você quer dizer... Estas criaturas?!

REGINALDO> Não! Elas são apenas seus arautos. As inscrições na fazenda são uma prece para a sua invocação. Estas inscrições aqui são muito piores, elas invocam a horrível... a mãe... a...

FIGURA ENCARQUILHADA DE PRETO> ---Emerge das sombras --- Shub Niggurath, a mãe de escura prole!!!

ANDRÉ> O Marido da Selma!!

MARIDO DA SELMA (formely known as FIGURA ENCARQUILHADA)> Vocês me expulsaram, vocês riram das minha vacas. Pois riam agora. As minhas filhas foram abençoadas por Shub Niggurath, e vocês serão o primeiro sacrifício sobre o seu altar!

Um barulho grotesco e não natural se faz ouvir fora da torre. Algo se aproxima. Um rumor de flautas sopradas por bocas não-humanas se espalha como um eflúvio.

ALASTAIR> Is this funk music? It sucks!

DANI> Aaaahhhh! Deixa cair seu bloco de anotações, que se abre na pagina onde copiou as inscrições da fazenda.

REGINALDO> As inscrições! Começa a ler em uma língua gutural “Iee Inomine Alae Isvrequië...”

MARIDO DA SELMA> Tolos! Eu já fiz a invocação dos Úberes Tartáricos! As vacas do inferno responderam ao meu chamado, elas obedecem somente a mim! Nada sobre a terra ou debaixo dela se erguerá para salva-los agora!

Barulho de passos se aproximando. Mato se mexendo, galhos se quebrando. O perfil de uma figura alta aparece na entrada da torre.

FIGURA ALTA> O André, eu acordei hoje e tive a impressão que tinha jogo. Vamos jogar Dragonlance ou aquele MERP estranho do Bruno?

ANDRÈ> Vaca? Ricardo Vaca!

VACA> É, eu tive a impressão que alguém estava me chamando e...

Ele para no meio da sentença, e contempla as criaturas bovinoformes. Eles se olham inicialmente com surpresa, depois com espanto, e finalmente com o reconhecimento fraternal de uma família a muito separada.

MARIDO DA SELMA> Não! Não dêem atenção a este impostor, suas criaturas estúpidas. Ataquem estes intrometidos. Rápido, Ela se aproxima!!

VACA> Quem é esse cara? Não fale assim com elas. Elas podem ser feias e sanguinárias, mas são da minha família e eu as amo!

MARIDO DA SELMA> Infeliz! Incauto Oligofrênico! Mentecapto dez vezes amaldiçoado! --- Sua mão ossuda emerge de sob o manto, com terríveis garras recurvadas. Com velocidade incomum ele cruza o recinto e rasga o ventre de VACA.

VACA> Aaargh!!

CRIATURAS> MUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!!!!!!!!!!!!!!!

MARIDO DA SELMA> Não!! Eu.. Parem... Arghhh!!!

Ele é despedaçado pelas enfurecidas criaturas. As criaturas ficam cobertas por seu sangue e entranhas. De alguma maneira ele se mantém em consciente agonia.

MARIDO DA SELMA> Voltem aqui! Vocês precisam ficar, Ela exige um sacrifício!

Ele estende as garras na direção do grupo. É atingindo em cheio por uma prancha lançada com destreza por Alastair.

ALASTAIR> This is a violent city indeed. I am glad the SAS training paid off though.

ANDRÈ> Vamos sair daqui enquanto é tempo. Me ajudem a carregar o vaca. Vai dar tudo certo!

O grupo sai correndo pela noite escura. Ouvem atrás de si o barulho de algo muito grande emergir da mata e entrar na torre. Gritos e ruídos inomináveis, e depois o silencio. Ninguém ousa olhar para trás.

Depois de correr por vários minutos, eles notam que não sabem onde estão. O terreno em volta não lembra nada que exista nas vizinhanças de Moeda. Enquanto ponderam este enigma, um velhinho, baixo, careca e vestindo uma túnica vermelha emerge de trás de uma pedra, e sorri enigmaticamente.

FIM (ou o começo...)

3 comentários:

Anônimo disse...

BRUUUUUNOOO!!!

SUA HISTORINHA ESTÁ O MÁXIMO.

Estou rindo horrores aqui. Você caracterizou muito bem nossos amigos...heheh e me deu uma saudade da fazenda...ai,faz tanto tempo que não vou lá.. :(

bjsssss no pâncreas!!!

Mi, de Camila disse...

Bruno, você definitivamente tem talento. Devia aproveitar as horas de folga NESSE tipo de atividade.

Abraços,
Mi

p.s.: Vamos trocar mais receitas! Você me manda uma e eu te mando outra, que tal?

Anônimo disse...

hhahahahahaha.....muito boa essa história! Fiquei até com pena do marido da Selma, já que o autor não teve o mínimo de complacência ao descrever tal personagem hehehehe. Mas além das piadas, gostei bastante da descrição do ambiente. Você podia fazer mais episódios, com todo respeito (da minha parte) aos outros personagens. Abração Bruno!