Pousada da Sra xxx, 강정보., Coreia do Sul
Manutenção posventiva
Estou na Coreia. Do sul. Para um congresso, o IBRO 2019, em Daegu. Para chegar aqui, fiz uma parada não programada em Adis Abeba, na Etiópia. Mas a história desta série de contratempos, e do turismo improvisacional daí advindo, vai ter que ficar para um post quando eu tomar vergonha na cara em relação a este blog.
Após o congresso, o plano (como sempre) era pedalar rapidamente de uma cidade a outra antes de voar para o Brasil. A Coreia recentemente construiu uma série de ciclovias, cruzando todo o pais. Resolvi seguir pela que acompanha o rio Nakdonggang, de Daegu até Busan.
Mal sabia eu que, assim como os norte-coreanos em 1950, o meu avanço até Busan seria detido de forma inesperada.
E a Coreia é linda! As paisagens rurais são genuinamente de cair o queixo; e eu ia apreciando a minha sorte e as belezas locais quando, após 40km idílicos, em uma subida mais íngreme, eu sinto uma travada súbita na corrente da bicicleta, seguida do ruído de algo sendo triturado que doeu no fundo da minha alma. O algo era o câmbio traseiro, cuja parte inferior havia se quebrado, se enroscando na corrente e engruvinhando no cassete. Após proferir algumas lições extemporâneas de português escatológico para os transeuntes locais, fui a procura de ajuda.
Na própria ciclovia havia uma estação de manutenção não muito distante. Mas eles não podiam resolver meu problema.
Imagem meramente ilustrativa |
O simpático mecânico, velhinho e monoglota, então me levou até a loja de bicicletas da cidade local. O dono da loja olhou e cutucou, mas concluiu também que não podia fazer nada. Foi então a procura de uma hospedaria. Inquirido, o atendente de uma loja de aluguel de patinetes me levou até o 4o andar de um prédio ordinário até uma senhora de roupão. Inesperadamente, ela *não* me ofereceu um cookie e discutiu cripticamente o meu futuro, mas simplesmente me mostrou um quarto de hóspedes tradicional coreano, com futon, mesa baixa, porta de correr e senha de wifi. Paguei pela estadia e fui contemplar as minhas opções.
Retroceder nunca, render-se jamais é um péssimo filme mas uma excelente filosofia para andar de bicicleta. Passei as duas horas seguintes em cirurgia, desengajando o câmbio e montando e desmontando a corrente. A ideia era achar um número de elos correspondendo de forma aproximadamente à uma corrente esticada em alguma marcha específica. Depois de algumas tentativas consegui transformar uma bicicleta de 7 marchas quebrada em uma de 1 marcha que roda. Ela guincha como um guaxinim enfurecido e não tenho muita fé na longevidade da corrente, forçada a um grau de torção pouco saudável. Mas amanhã vou tentar dar uma de Ayrton Senna e ver se consigo completar o trecho de hoje na 3a marcha.
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