Metade da humanidade, incluindo a totalidade dos brasileiros, acha que sabe batucar. Combinar alguns poucos ritmos simples está de fato ao alcance de muita gente, e os brasileiros parecem ter talento para a coisa. Mas combinar vários ritmos, com transições suaves e pausas nas horas certas, já é bem mais difícil. E fazer isto tudo harmoniosamente com um grupo, com instrumentos e partituras diferentes, é altamente não-trivial.
Hoje houve uma exibição de Taiko na Dias Ferreira. Para quem não sabe, taiko é a arte de percussão japonesa. Individualmente, em duplas ou grupos, os percussionistas batem com bastões em tambores de madeira cobertos de couro altamente tensionado (o que torna o som mais barítono do que baixo).
Pois bem. Fui, e gostei muito. Até hoje eu só havia visto taiko pela televisão, e me surpreendi com a intensidade da experiência de assistir ao vivo. Se o primeiro impulso de quem ouve a bateria de um escola de samba é começar a dançar ou batucar junto, no taiko a vontade é de gritar no final de cada seqüência (os músicos gritavam palavras em japones que tenho certeza tinham um significado profundo e trancendente; mas eu me contentaria com um Gaaaaaahhhh paleolítico).
Originalmente o taiko surgiu para motivar e coordenar tropas em campos de batalha. Estas raizes implicam, em primeiro lugar, que o som é ALTO (uma batalha entre japoneses e os escoceses e suas gaitas de foles provavelmente deixaria metade dos participantes surdos). Em segundo lugar, como a ideia não era fazer o soldados cairem na dança, mas sim estimula-los a lutar e ag ir de forma coordenada, o taiko parece (ou pelo menos me pareceu) uma massagem sonora, ou uma palestra motivacional não verbal.
O som produzido não cria exatamente uma melodia ritmica, na acepção bum-eskibum-bum-bum do termo, mas sim vai construindo a partir dos vários tambores um ritmo único, que vai crecendo em intensidade até terminar subitamente em uma pausa prolongada (as pausas são muito importantes).
Os percussionistas eram homens e mulheres, de todas as idades e tamanhos (e aparencia perfeitamente normal, mas depois de ve-los espancar os tambores com potentes bastonadas por 20 minutos, decidi que seria sensato não contraria-los). Eram seis pessoas (acho), mais um sensei/mestre da bateria, que no inicio do show emergiu do restaurante (o show foi patrocinado por um restaurante japones, incidentamente) saltitando faunicamente usando uma mascara de demônio, e começou a puxar o ritmo batendo em uma cumbuquinha de metal. Eram três os tipos de tambores: um do tamanho de uma panela, usado para marcar o rítmo; quatro médios, dois dos quais faziam a 'base' (com uma baqueta) enquanto os outros dois 'solavam' (com duas baquetas); o último tambor parecia um grande barril, e soava como um diplodocus marchando.
(este parágrafo precisa urgentemente de uma infusão da terminologia correta)
Solando
Note o tambor diplodocus no centro, e o marcador de ritmo atrás
Quem quiser ouvir e ver um pouco do que eu estou falando, veja os vídeos aqui. Mas eu acho que taiko precisa ser experimentado ao vivo para ser apreciado.
Continue lendo...>>
<< Pronto!