sábado, 20 de novembro de 2010

Kelly's & Pam's, Chicago
A oeste do lago Michigan e a leste de Suez



Na fila do raio-X, no aeroporto de San Diego:
'Tenha um bom dia, senhor!'
'Um bom dia para você também.'
'Isto é impossível... Eu trabalho para a TSA' [Transit Security Autority, a segurança aeroportuária americana]
Após esta conversa, e após um vôo sem incidentes, cheguei em Chicago ontem a noite, mas sinceramente a passagem do tempo está se tornando um processo um tanto nebuloso nos últimos dias desta minha viagem. Eu arrumo tanta coisa para fazer em tão pouco tempo que acabo deixando o cansaço para o vôo de volta (no qual geralmente durmo como um camatoso em hibernação).

Ontem, antes de sair de San Diego, tomei dois cafés da manhã, ao estilo Hobbit: O primeiro, com a Terry e seu filho Tony, que queria me conhecer. O segundo, com o meu amigo Hayder, um iraquiano que mora em Londres, e que está em San Diego para um conferência sobre o Oriente Médio.

Ontem a noite, apesar do cansaso, fui sair com a Pam, a flatmate da minha anfitriã por aqui (Kelly, a mesma do ano passado, e que, novamente, está viajando). Fomos jantar, e depois ela me levou (brevemente) para ver uma figura chamada 'Sharkula'. Este cara (cara é a única categoria ampla o suficiente para enquadrá-lo) tem um estilo bastante peculiar de música. Mas talvez mais peculiar que a música sejam s seus fãs (ou cultistas, sei lá). Pelo que vi ontem, eles começam tímidos, mas vão se agregando e se soltando aos poucos, embalados pelos grunhidos semi-coerentes mas surpreendentemente persuasivos de Sharkula, criando uma improvisada performace dançante grupal um tanto escalafobética.

Chicago tem um clima diferente de Nova York, e não me refiro ao vento frio cortante da primeira ou às ondas de calor da segunda. Em ambas, temos a impressão de que existe muita coisa acontecendo logo aquém e além da nossa percepção imediata. Mas enquanto em NY este rebuliço é cosmopolita e metropolitano (no sentido que todo o resto do mundo parece uma província na perspectiva novaiorquina), em Chicago a cena local é militantemente bairrista e um tanto hermética. Esta é uma cidade cheia de pequenos segredos e tradições emergentes que só fazem sentido para os locais.

Se andar pelos subúrbios, você talvez se depare com uma bicicleta totalmente branca presa por cadeado a um poste. Saiba então que naquele local um ciclista foi morto, atropelado. Eu não sei quem criou esta tradição de 'ghost bikes', ou quem a mantém. Mas as bicicletas continuam aparecendo.

As fotos ao lado, e acima, foram tiradas ano passado. Até agora nenhum local conseguiu me explicar o propósito ou significado das estátuas.

A Califórnia é um lugar muito direto, em vários aspectos. Até Nova York é inteligivel a sua maneira, por ser tão universal. Mas em Chicago Sharkulas nadam sob a superfície. A cidade ainda é um mistério para mim, e talvez seja isto que me atraia tanto aqui: tentar puxar o fio da meada que leva de um palimpseto histórico meio escondido até a cultura urbana local.

Falando em história e palimpsetos, hoje fui de bicicleta, margeando o lago Michigan, até o Oriental Institute. Esta é a visita que me ficou faltando da última vez que estive aqui. Com o frio eu lidei bem me embrulhando em luvas, gorro e um casaco quase polar. Mas o vento fazia parecer ocasionalmente que a margem do lago era uma subida (com rajadas que tornavam estacionário o vôo das gaivotas). Mesmo assim, com algum esforço e 30km depois, cheguei. Mas a descrição vai ter que esperar outro dia, porquê eu preciso ir dormir.

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