domingo, 25 de maio de 2008

Vastitas Borealis, Marte
O pouso da Phoenix

A sonda e seu paraquedas, vistas de órbita

20:50 GMT -0300

Estou acompanhando o pouso (amartizagem?) da sonda Phoenix em Marte. Estou acompanhando pela CNN e pela NASA TV; a última notícia é que a manobra de frenagem atmosférica foi bem sucedida, e o sinal do orbitador foi recebido.

A proposta da Phoenix é ser uma sonda relativamente barata e arriscada. A parte mais complicada de qualquer viagem para Marte é o pouso. Diversas combinações de retrofoguetes, air bags e paraquedas foram tentados ao longo dos anos; e a maior parte fracassou. Em termos de astronomia planetária, Marte provavelmente é o planeta mais azarado.

Os paraquedas da Phoenix devem se abrir em menos de 3 minutos... Se tudo correr bem, 3 minutos depois os retrofoguetes serão ativados e ela pousará de forma razoavelmente suave, e comecará a transmitir (veja painel ao lado).

Ainda esperando o sinal da sonda. Até o pouso...

21:01 GMT -0300
Recebida confirmação que escudo de calor se separou como planejado


21:03 GMT -0300
Pousou!!

26/5 15:52 GMT - 0300
A sonda está mandando fotos da região polar boreal de Marte.

Mais fotos aqui.

Continue lendo...>>

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Casa, Rio de Janeiro
|Líbano Vive> + |Líbano Kaput>

Estamos no ano 2008 depois de Cristo. Todo o Líbano foi dominado pelo Hizbollah e seus aliados... Todo? Não! Uma montanha habitado por irredutíveis Drusos resiste ainda e sempre ao invasor.
A situação no Líbano está ainda mais confusa que o habitual. A vitória militar do Hizbollah e aliados foi rápida e (quase! veja abaixo) completa. Mas as consequências políticas ainda permanecem bastante obscuras. Por um lado, ganha peso a teoria segundo a qual o Hizbollah (e seus patronos sírios e iranianos) agora pode ditar os termos que quiserem para o governo e que, na sua variação mais extrema, afirma ainda que o Líbano como uma comunidade multiconfessional cosmopolita está acabado: o seu futuro consistiria em alguma combinação de guerra civil intermitente, tutela e rapinagem sírias, e ação livre para os iranianos.

Por outro lado, alguns partidários do 14 de Março afirmam que a vitória do Hizbollah é (de novo) oca. Os sunitas, maronitas e drusos agora estariam unidos em seu ódio profundo ao partido de Deus (e, por extensão, xiitas em geral), e o mito da resistência heróica legítima que Nasrallah e cia construíram em torno de si estaria definitivamente desacreditado. Mas agora que o Hizbollah provou que pode se impor pela força, e os Sírios parecem estar voltando, munidos de carros-bomba e agentes secretos e não-tão-secretos, será que o que a maioria pensa ou sente ainda importa?

Neste contexto, a confusão em torno do resultado da batalha travada entre os drusos[1] habitantes do Shouf[2] (situado nas estratégicas encostas do Monte Líbano), e o Hizbollah e aliados é não só emblemática da dificuldade que existe em entender a situação no Líbano, mas pode ainda indicar se a oposição a combinação de poder de fogo do Hizbollah e a infiltração síria ainda é factível.

Na quinta feira, as forças de um líder druso aliado ao Hizbollah, Talal Arslan, foram enviadas para o Shouf com o objetivo aparente de desalojar os partidários de Jumblatt. Ao invés disso, os homens de Arslan (alguns? a maioria? todos?) mudaram de lado... O Hizbollah então enviou os seus cadres, bem armados e com a experiencia de lutar pau a pau com os israelenses, shouf acima. Por três dias os dois lados lutaram as batalhas mais intensas desta última crise. E os drusos, mal armados e sem nenhum apoio externo, deram uma surra nos hizbolas que não será esquecida tão cedo!

Daí em diante, as coisas começam a ficar obscuras. Jumblatt, no que foi interpretado alternadamente por diferentes observadores como uma admissão humilhante de fraqueza, ou um brilhante embuste para aparentar fraqueza e atrair Nasrallah para uma armadilha, ordenou que seus seguidores cessassem a luta, obedecessem as ordens de Arslan, e entregassem suas armas para o exército. A imprensa noticiou que vilas estratégicas no Chouf já eram controladas pelo Hizbollah/Arslan.

Porém, outros observadores libaneses, incluindo aparentemente drusos com contatos no local, afirmam que nenhuma vila caiu, e que tudo não passa de desiformação do Hizbolla. Os drusos resistem agora e sempre, ao invasor. Ou, pelo menos, assim dizem alguns.

Eu não sei, e não conheço quem saiba, que lado controla o quê atualmente no Shouf. Mas sei o seguinte: nas encostas do Monte Líbano os drusos fincaram o pé e disseram 'não passarão!'. E que, por três dias pelo menos, o Hizbollah não passou. Comparações históricas são sempre enganosas (e as Termópilas são um protótipo tão improvável quanto Asterix); mas se os libaneses que marcharam em 14 de Março de 2005 seguirem o exemplo dos drusos, e mostrarem-se dispostos novamente a não se render sem luta, por mais improvável que pareçam as chances de sucesso, então talvez o Líbano ainda tenha futuro.


[1] Os Drusos são um povo peculiar (c.f. discussões no Pedro Dória aqui e aqui, além deste interessante site dedicado à drusofilia.). Uma dissidência sincrética do xiismo, cheia de segredos, espalhados entre a Síria, Israel e Líbano, têm neste último país um peso político muito maior do que sua implica sua participação demográfica (cerca de 5% da população). Seu líder mais importante, Walid Jumblatt, é um camaleão politico que atualmente é o mais feroz crítico libanês do Hizbollah e da Síria.

[2] A maior parte dos drusos libaneses moram em um distrito chamado al Shouf, nas encostas ocidentais do Monte Líbano e a sudeste de Beirute. Um ponto que separa e mantém disjuntos os três principais territórios de maioria xiita controlados pelo Hizbollah: O sul, o vale de Beeka, e os subúrbios de Beirute.

PS: Não, não me esqueci da normalização. Mas como coloco 1/Sqrt(2) em html? Se os blogs fossem editados em LaTex...

Continue lendo...>>

sábado, 10 de maio de 2008

Casa, Rio de Janeiro
O Líbano caiu do telhado


O Hizbollah e aliados controlam Beirute ocidental. A maior parte da luta ficou por conta dos milicianos do Amal e do 'Partido Social-Nacionalista Sírio'*, lutando contra membros do 'Movimento (do? para? de volta para o?) Futuro', sunita e liderado pelo Hariri jr. O exército libanês, que havia antes tomado uma postura solomonica de não se envolver na briga, parece agora estar ajudando timidamente o 8 de Março, desarmando milicianos sunitas e negociando a rendição de seus redutos.

A coisa toda esta cada vez mais parecida com um golpe de estado, planejado e executado com a competência típica do Hizbollah. Milicianos xiitas rapidamente assumiram o controle das principais vias de acesso à capital(e, em particular, da estrada para o aeroporto de Beirute). Jornais e estações de TV ligados ao governo (e em particular, aos Hariri) foram invadidos (e, em pelo menos dois casos, queimados) e colocadas fora do ar ou circulação. Edifícios do governo e as residências de alguns dos lideres do 14 de Março foram cercadas. Os Sírios demonstram seu talento cômico ao afirmar que os eventos no Líbano são um 'assunto interno' (assunto interno sírio é provavelmente o que eles têm em mente), enquanto o Irã obviamente culpa Israel e os EUA. Os apoiadores do 14 de Março, por outro lado, não parecem estar dispostos a tomar uma atitude mais enérgica em favor de seus protegidos, se estes não parecem dispostos a fazer o mesmo. Deste modo, as reações até agora foram confusas, se resumindo em geral a obviedades diplomáticas e piedosas homilias em favor da paz e reconciliação.

O próximo passo do Hizbollah, segundo a cartilha dos golpes em republiquetas de bananas, seria obviamente assumir o controle do governo, em nome da 'salvação nacional', e começar a prender ou calar seus oponentes. As coisas porém não são tão simples, já que Nasrallah não controla e provavelmente não tem como controlar as áreas maronitas, druzas e sunitas fora de Beirute; e juntas estas isolam os xiitas em três enclaves disjuntos (sul, Beirute ocidental e vale de Bekaa).

O mais curso provável dos acontecimentos daqui em diante, me parece, é um recuo humilhante por parte do 14 de Março em relação aos estopins da crise (movimento já ensaiado ontem por Hariri e Jumblatt), seguido da eleição do General Michel Suleiman* para presidência, e a formação de um governo 'de união nacional' liderados por alguém maleável, e onde o Hizbollah e aliados tenham poder de veto. O governo cessaria a cooperação com o tribunal da ONU que investiga a morte de Hariri, libertaria os quatro generais presos pelo crime (todos com fortes ligações sírias). O Líbano voltaria, em essência, a ser um protetorado de Damasco, onde o Hizbollah poderia fazer o que bem entendesse.

Obviamente, a situação ainda está em fluxo, e tudo pode acontecer (para parafrasear os prognósticos da típica mesa redonda de futebol). Mas se o 14 de Março quer ter alguma influencia no resultado final, é bom que parem de esperar que o resto do mundo envie a cavalaria, e tomem uma atitude (eles poderiam, no mínimo, seguir meus conselhos ;-))

Acredito que a guerra entre Israel e Hizbollah em 2006 deve ser entendida no contexto da briga de poder dentro do Líbano. Instigar seu belicoso vizinho ao sul é uma maneira que o Hizbollah tem de justificar a sua própria existência como uma milicia/partido político/ONG/entreposto persa além do controle ou sanção do estado Libanês. Visto desta forma, o golpe que ocorreu nestes últimos dias é simplesmente a culminação do conflito entre esta visão e o ideal do Líbano como um estado-nação de verdade, regido por leis e protegido por um exército nacional. Se vencer esta batalha, poderemos dizer finalmente que o Hizbollah ganhou a guerra. O Líbano, novamente, terá perdido.


* Um grupo de inspiração nazista que defende a ideia de uma 'Grande Síria', que incluiria o Líbano, a Jordânia, Israel, Palestina, o Sinai (no Egito) e a região em volta de Iskederum (na Turquia). Eles têm a mania de pendurar posteres do Assad jr. (oculista e presidente da Síria nas horas vagas) por onde passam.

** O atual comandante do exército libanês; ele havia sido proposto pelo próprio 14 de Março como um candidato a presidência 'de consenso' (o que no caso queria dizer aceitável para a Síria e o Hizbollah). O 8 de Março bloqueou sua nomeação porque queria também direito a nomear um número suficiente de ministros para ser capaz de bloquear qualquer decisão do governo. Os eventos recentes, porém, aparentemente mostram que Suleiman, mais do que simplesmente 'aceitável', está totalmente do lado da Síria.

Continue lendo...>>

quinta-feira, 8 de maio de 2008

LNAC, Rio de Janeiro
O Líbano subiu no telhado


O Líbano está agora em um estado incipiente de guerra civil. O conflito, inicialmente entre o governo e o Hizbollah, já começou a degenerar em alguns subúrbios de Beirute em conflito sectário entre xiitas e sunitas, mediado por tiros e RPGs (do tipo que se lança, não do que se joga).

Recapitulando muito rapidamente (veja mais aqui): Desde a última guerra entre Israel e Hizbollah, vem crescendo a tensão entre este último e seus aliados (conhecidos coletivamente como '8 de Março, e apoiados pela Siria e Irã) e o governo do primeiro ministro Siniora e agregados (i.e. 14 de março, apoiado pela Arábia Saudita, EUA e França). No ano passado, o mandato do então presidente Emille Lahoud acabou, e os dois lados foram incapazes de chegar em um consenso sobre um novo nome (em grande parte devido à pressão síria). O cargo está vago desde então. Pairando sobre tudo isto, fica o espectro do ex-primeiro ministro Hafik Hariri, que muito provavelmente foi assassinado pela Síria em 2005. O crime levou aos protestos e contraprotestos nos dias respectivos, das coalizões que se cristalizaram nas facções oposta de 8 de Março (xiitas e parte dos maronitas) e 14 de Março (sunitas, druzos e os demais maronitas). Como eu já disse algumas vezes antes por aqui, a própria guerra de 2006 contra Israel se insere neste contexto, no qual o Hizbollah tenta proteger seu status atual de estado-dentro-do-estado armado até os dentes, instigando guerrinhas que mantenham viva a ameaça israelense, justificando assim a continuidade da sua 'resistência'. De forma mais ampla, as duas facções libanesas se alinham em lados opostos na nova guerra fria emergente no Oriente Médio.

Mais recentemente, as lideranças do 14 de Março (e, em particular, o líder druzo Walid Jumblatt) começaram a pressionar o poder paralelo do Hizbollah. O estopim desta mais recente briga foi a demissão do chefe de segurança do aeroporto de Beirute, um aliado do Hizbollah que atende por General Wafik Shoukair; e a tentativa por parte do governo de assumir o controle de uma rede paralela de comunicações (fibra otica e WiMax, alto nível) mantida pelo Hizbollah.

A reação foi rápida. Em um discurso furibundo, o Nasrallah (lider do Hizbollah) acusou Israel, EUA, França, Arábia Saudita, e a mãe Joana, de conspirarem contra a resistência, e afirmou que as ações do governo (que ele chamou de 'governo Jumblatt') eram uma 'declaração de guerra'. Quase imediatamente, membros armados do Hizbollah e Amal (outra milicia xiita) surgiram nas ruas de Beirute, e bloquearam a estrada para o aeroporto. Fontes locais afirmarm que uma emissora controlada pelos Hariri foi tirada do ar, a sede de um jornal pró-governo e anti-sírio foi queimada, e a casa de um parlamentar proeminente da situação foi cercada por milicianos. Por toda Beirute, membros do Hizbollah e Amal trocam tiros e foguetes com uma melange de grupos sunitas, maronitas e drusos.

O exército libanês, com medo de se fraturar, prefere ficar quieto e fingir que não tem nada a ver com o assunto, e a liderança do 14 de Março faz discursos chorosos pela unidade nacional e age como o Sir Robin. Aparentemente o Hizbollah já controla boa parte da cidade. O premiê Siniora tomou chá de sumiço, e tanto Hariri Jr. (Saed, filho do assassinado Rafik) quanto Jumblatt agora estão tentando sem muito sucesso por panos quentes e aplacar Nasrallah.

Com a vaca fixando residência e criando família no brejo, a situação no Líbano hoje lembra muito os primórdios da guerra civil, em meados da década de 70. A lealdade ao clã/secto/etnia é mais importante do que a lealdade ao estado (o Líbano como estado nação sempre foi em grande parte uma farsa consensual, e só funcionou na medida em que a todos os lados interessava manter a fachada), o que leva as várias facções a preferirem encontrar aliados e patronos externos a resolverem internamente suas disputas. Mas se por um lado isto é assustador, por outro a própria lembrança do cataclismo passado provavelmente é um excelente dissuasivo para que os vários lados não o repitam no futuro.

A curto prazo, o Hizbollah parece estar a ponto de controlar Beirute, e a intimidar ou mesmo derrubar o governo. Mas a longo prazo, se o 14 de Março não emular a estratégia francesa em 1940, é bem possível que Nasrallah tenha novamente mordido mais do que consegue mastigar. Depois dos eventos dos últimos três dias, é improvável que os libaneses não-xiitas voltem a ver o Hizbollah como uma força de resistência legítima (a legitimidade foi conquistada após o 'partido de Deus' ter forçado a retirada israelense do sul do pais, em 2000), ainda mais agora que a promessa tantas vezes repetida de jamais voltar as armas da 'resistência' contra os outros libaneses foi quebrada. E como a história da guerra civil demonstra, dominar os redutos druzos e maronitas que cercam Beirute e separam as zonas de maioria xiita no sul e no vale de Bekka vai ser muito mais difícil do controlar (a maior parte de) Beirute (c.f. esta entrevista de um Walid Jumblatt que parece ter reencontrado seus testículos). De qualquer maneira, a situação ainda é incerta demais para enterdermos o que exatamente está acontecendo; ficar fazendo previsões a longo prazo então é um exercício de euachismo na mesma categoria de futilidade que mesas redondas de futebol.


Para as notícias mais recentes, recomendo o Naharnet (um jornal) e o Blacksmiths (um blog). Para comentários, veja os blogs dos dois Abus, Kais e Maqawama.

Continue lendo...>>

terça-feira, 6 de maio de 2008

Casa, Rio de Janeiro
Dez Mandamentos...

... para situações táticas. Tema e título meio estranhos, mas sendo este blog o que é, duvido que alguém se surpreenda. Escrevi os mandamentos abaixo inspirado por uma campanha de Shadowrun que estamos jogando, mas acho que eles se aplicam a qualquer situação de risco. Obviamente minha experiência *prática* na vida real com tais coisas é quase nula.

Dez Mandamentos para situações táticas


1 - Sempre tenha um plano

2 - Um plano imperfeito agora é melhor que um plano perfeito depois

3 - Esteja ciente de suas circunstancias, e adapte seus planos a elas

4 - Planeje quando possível, improvise quando preciso

5 - Lidere, siga, ou saia do caminho

6 - Aja de modo a enfatizar seus pontos fortes e relevar seus pontos fracos

7 - Sempre tenha uma rota de fuga

8 - Só lute quando absolutamente necessário

9 - Não lute limpo

10 - Pense e aja. Nesta ordem.

Continue lendo...>>