domingo, 6 de abril de 2014

Casa, Belo Horizonte
Nunca desista de seu sono

Estou para Belo Horizonte para o casamento de uma prima (eu escrevi inicialmente *um* casamento, mas sejamos otimistas). A família veio antes; eu vim em um ônibus noturno, que em vários aspectos é mais prático do que voar: Horários são mais flexíveis, há menos eventos discretos com que se preocupar, e as horas dedicadas 'a viagem, embora mais longas, não são picadas em uma improdutiva série de procedimentos (check-in, raio-x, embarque, pouso, desembarque, malas, etc).

Por outro lado, durmo muito mal em ônibus. Em geral, é um sono picado em que fecho os olhos por alguns minutos enquanto meu corpo vai escorrendo poltrona abaixo e se torce em um pretzel escheriano, após o que acordo babado sem sentir um ou mais membros. Por isso, na medida do possível, tento trabalhar ou ler.

Minha noite de ontem começou célere com a implementação de um modelo computacional (toy model, na verdade) de como o cortex se dobra. A medida que a fadiga aumentava, passei para a leitura de alguns papers relacionados. Algumas horas depois, sem mais ânimo para elocubrações anatômicas, transitei para a leitura recreativa ('A viagem da Argo', de Apolonio de Rodes, uma espécie de Liga da Justiça da Grécia mitológica). Quando os nomes dos argonautas começaram a se confundir, apelei para episódios do Black Adder em meu computador; e quando até o Baldrick começou a ficar profundo demais para meu cérebro cansado, resolvi tentar dormir um pouco. Mas então Belo Horizonte e a manhã já se aproximavam...

Em Belo Horizonte, tomei café semi-acordado com meus pais e fui arranjar um terno (porque não possuo nem quero possuir tal indumentária). Aluguei o dito cujo e adjacências, incluindo a acessoria do vendedor para me fazer parecer uma pessoa respeitável (a única coisa minha que usei no casamento, da cabeça ao pés, foi a cueca). Enquanto esperava os ajustes necessários, fui andar um pouco.

Parei na igreja da Boa Viagem, e me sentei junto aos fieis que rezavam. Em geral, preces curtas de quem tinha que estar em algum outro lugar dentro em breve, sugerindo que o carater da igreja não mudou tanto em pouco mais de um século. Enquanto fieis vinham e iam, eu alternava o meu tempo entre meu amigo Apolônio (bancos de igreja parecem ter sido projetados para impedir o sono; alias, bancos de ônibus também), e uma crítica um tanto sonambula da arquitetura local, recém-reformada.*

Peguei o terno, voltei para casa e dormi o sono dos justos. Acordei para o casamento, com um relogio biológico irremediavelmente confuso. Foi uma cerimônia bonita, em que o noivo surprendeu a todos na igreja com um número musical razoavelmente afinado.

Hoje devolvi o terno e cozinhei. Gnocchi de abóbora com ragu de cordeiro.
O resto do dia foi dedicado a atividades familiares. Amanhã de noite volto ao Rio.

________________________
* Não gostei de alguns artificialismos tais como arcos de concreto pintado para parecer blocos discretos ligados por argamassa; mas gostei do conjunto da obra e das influencias de arte deco.

3 comentários:

Fabiano G. Souza disse...

Que edição você esta lendo dA viagem da Argo?

|3run0 disse...

Uma edição da Penguin Classics, traduzida por um tal de E.V. Rieu

Fabiano G. Souza disse...

Valeu. Deve ser essa aqui http://www.amazon.com/Voyage-Argo-Classics-Apollonius-Rhodes-ebook/dp/B002RI9LA8/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1396967381&sr=8-1&keywords=The+Voyage+of+Argo

Por sinal, você já aderiu a um Kindle da vida?