quarta-feira, 16 de novembro de 2011

SfN 2011, Washington DC
Cidade mitológica


 Pelo fato de ser sede do governo federal e de uma profusão de agências, organizações, universidades e think thanks de todos os tipos, Washington DC não tem as comunidades históricas e idiosicrasias locais que tanto distinguem partes do Rio ou de Nova York. O fato é que muito da população local é transiente, sem raizes locais mais profundas. Não chega perto do artificialismo de Brasilia, mas é algo que vai se tornando mais e mais notável a medida em que vou andando pela cidade. Isto não torna a cidade desagradável, certamente. As ruas são simpáticas e bem cuidadas, as folhas nas arvores assumem tons outonais interessantes, e a arquitetura local é apropriadamente grandiosa; mas é difícil apontar alguma característica ou maneirismo tipicamente local. Para bem ou para mal, o charme de DC é federal; por aqui a historia americana assume tons mitológicos: Mais do que uma sequencia de eventos e um conjunto de reliquias, ela se torna uma meta-narrativa que explica e organiza moralmente (com os inevitáveis, mas no caso até bastante variados, filtros ideológicos)  o mundo atual. Isto se torna claro na obsessiva preservação de artefatos históricos no national archives*, nos memoriais a presidentes e guerras vários, reverentemente visitados, na presença ubíqua (irônica ou não, crítica ou não) da história republicana na arte local, e até no discurso dos ocupantes do Occupy DC.


"We the People of the United States, in Order to form a more perfect Union, establish Justice, insure domestic Tranquility, provide for the common defence, promote the general Welfare, and secure the Blessings of Liberty to ourselves and our Posterity, do ordain and establish this Constitution for the United States of America."

Falei pouco sobre o Neuroscience aqui porque não há grandes diferenças em relação aos anteriores. Atualmente uma chuve de *&^#*&^#  me impede de fazer o meu passeio, a tanto tempo adiado, até Mount Vernon. Como a chuva dá sinais de trégua, vou dar uma saida. Depois escrevo mais.
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*  E.g., a sala de emergencia onde Kennedy morreu foi transplantada de Dallas e totalmente reconstruida aqui; a declaração de independência é preservada em uma capsula a prova de bombas atômicas, e a (enorme) bandeira original que inspirou o hino nacional americano é enclausurada em uma sarcófago transparente hermeticamente selado e preenchido com argônio. Incidentalmente, até o começo do seculo 20 era comum presidentes presentearem dignatários visitantes com pequenos retalhos da tal bandeira, cortados pessoalmente; devido a esta prática bizarra, hoje vemos um canto inteiro que parece roido por traças. Hoje ela está protegida contra traças e políticos.

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