quinta-feira, 18 de junho de 2009

Casa, Rio de Janeiro
Marg bar marmalad

Em homenagem às práticas eleitoras Khameinescas, eu mantive por alguns dias a tagline 'Como se diz marmelada em farsi?' no gtalk. Levando a minha pergunta mais a sério do que eu, eis que hoje me aparece o Batatinha (que saiu da física para virar linguista), e me diz que após intensa pesquisa podia afirmar que no Irã marmelada é marmalad. Ora, o slogan favorito do regime iraniano é 'Morte à America' (ou Israel, ou Salman Rushdie, ou ao Barney, o dinossauro púrpura; depende do ocasião), que rapidamente verifiquei se diz 'Marg bar xxx'. Daí, meu novo tagline se tornou Marg bar marmalad. Morte à marmelada.

Pouco depois, uma amiga que mora em Isfaham (onde também ocorrem protestos imensos, repressão pelos Basij, mas sem presença alguma da imprensa estrangeira) também apareceu, rindo e me perguntando se eu estava aprendendo farsi. Dado o contexto, ela sacou rapidamenet o significado da expressão (embora a associação especifica com o doce tenha talvez permanecido um pouco misteriosa). Virou o nosso slogan particular; a minha humilde contribuição ao léxico politico iraniano.

No Irã, os protestos já há muito trancenderam a disputa politica entre duas vertentes do regime. Há uma proto-revolução no ar (os revolucionarios não sabem ainda que são revolucionarios). Ela não é secular, mas é antitotalitaria. A principio, tudo sugere que está fadada ao fracasso; mas após a votação tudo sugeria que os protestos seriam limitados ao relativamente abastado norte de Teerã; que não durariam mais que um ou dois dias; que seriam esquecidos pelo mundo quando a imprensa internacional fosse impedida de transmiti-los pela televisão; e que seriam superados pelo poder de mobilização da mídia e logística estatais. Mas apesar de tudo, os iranianos continuam marchando. Os protestos continuam, e o regime dá mostras de nervosismo.

De qualquer maneira, tais imponderáveis não importam no cálculo moral. Quando, dia após dia, milhares de pessoas saem às ruas pacificamente para para exigir o direito de escolher seus governantes, correndo os riscos inerentes ao enfrentamene com um regime autoritário, elas merecem apoio, seja sua causa quixotexca ou não.

O papel que a internet, e em particular o Twitter, teve em divulgar os acontecimentos é indiscutível; o seu papel em promove-los é objeto de intensa discussão. Mas eu gostaria de pensar que em algum porão na Birmânia, ou no Zimbabwe, ou no Egito, ou em Cuba, um appartchnik vai estar daqui para frente perdendo o sono com os mais recentes hashtags da oposição.



Para terminar, alguns links úteis para acompanhar o que está acontecendo

Eis um agregador decente das noticiais vindas do Irã, feito por iranianos:
http://raymankojast.blogspot.com/

Uma lista de leitura extensa e bastante diversa:
http://cyrusfarivar.com/blog/?p=2169

A Pirate Bay (renomeada Persian Bay) criou um Forum para discutir/entrar em contato com os iranianos/dar dicas de protesto:
http://iran.whyweprotest.net/

O hashtag do twitter relevante é #iranelection

O blog do Pedro Dória está acompanhando os eventos, com algumas discussões interessantes
http://pedrodoria.com.br/

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