domingo, 10 de dezembro de 2006

Casa, Rio de Janeiro
Taiko!

Metade da humanidade, incluindo a totalidade dos brasileiros, acha que sabe batucar. Combinar alguns poucos ritmos simples está de fato ao alcance de muita gente, e os brasileiros parecem ter talento para a coisa. Mas combinar vários ritmos, com transições suaves e pausas nas horas certas, já é bem mais difícil. E fazer isto tudo harmoniosamente com um grupo, com instrumentos e partituras diferentes, é altamente não-trivial.

Hoje houve uma exibição de Taiko na Dias Ferreira. Para quem não sabe, taiko é a arte de percussão japonesa. Individualmente, em duplas ou grupos, os percussionistas batem com bastões em tambores de madeira cobertos de couro altamente tensionado (o que torna o som mais barítono do que baixo).

Pois bem. Fui, e gostei muito. Até hoje eu só havia visto taiko pela televisão, e me surpreendi com a intensidade da experiência de assistir ao vivo. Se o primeiro impulso de quem ouve a bateria de um escola de samba é começar a dançar ou batucar junto, no taiko a vontade é de gritar no final de cada seqüência (os músicos gritavam palavras em japones que tenho certeza tinham um significado profundo e trancendente; mas eu me contentaria com um Gaaaaaahhhh paleolítico).

Originalmente o taiko surgiu para motivar e coordenar tropas em campos de batalha. Estas raizes implicam, em primeiro lugar, que o som é ALTO (uma batalha entre japoneses e os escoceses e suas gaitas de foles provavelmente deixaria metade dos participantes surdos). Em segundo lugar, como a ideia não era fazer o soldados cairem na dança, mas sim estimula-los a lutar e ag ir de forma coordenada, o taiko parece (ou pelo menos me pareceu) uma massagem sonora, ou uma palestra motivacional não verbal.

O som produzido não cria exatamente uma melodia ritmica, na acepção bum-eskibum-bum-bum do termo, mas sim vai construindo a partir dos vários tambores um ritmo único, que vai crecendo em intensidade até terminar subitamente em uma pausa prolongada (as pausas são muito importantes).

Os percussionistas eram homens e mulheres, de todas as idades e tamanhos (e aparencia perfeitamente normal, mas depois de ve-los espancar os tambores com potentes bastonadas por 20 minutos, decidi que seria sensato não contraria-los). Eram seis pessoas (acho), mais um sensei/mestre da bateria, que no inicio do show emergiu do restaurante (o show foi patrocinado por um restaurante japones, incidentamente) saltitando faunicamente usando uma mascara de demônio, e começou a puxar o ritmo batendo em uma cumbuquinha de metal. Eram três os tipos de tambores: um do tamanho de uma panela, usado para marcar o rítmo; quatro médios, dois dos quais faziam a 'base' (com uma baqueta) enquanto os outros dois 'solavam' (com duas baquetas); o último tambor parecia um grande barril, e soava como um diplodocus marchando.
(este parágrafo precisa urgentemente de uma infusão da terminologia correta)


Solando


Note o tambor diplodocus no centro, e o marcador de ritmo atrás

Quem quiser ouvir e ver um pouco do que eu estou falando, veja os vídeos aqui. Mas eu acho que taiko precisa ser experimentado ao vivo para ser apreciado.

8 comentários:

Unknown disse...

Oi Bruno! Aqui é Natália do taiko!!!
Pooooo fiquei super contente quando li as coisas que escreveu sobre sua experiência!! ehheehe. Eu adoro muito tocar taiko e ver que as pessoas gostam tanto assim me deixa muuuuito contente!!! XD

E eu morri de rir lendo essa parte: "Os percussionistas eram homens e mulheres, de todas as idades e tamanhos (e aparencia perfeitamente normal, mas depois de ve-los espancar os tambores com potentes bastonadas por 20 minutos, decidi que seria sensato não contraria-los)"
Você tem que ficar com medo daquela presidenta doida lá! UHHHUAHUE
:P~~~

Enfim, obrigada!!!!
XD

|3run0 disse...

Oi Natália! Fico feliz que vc tenha gostado do que eu escreví, apesar da minha ignorancia quase total do assunto. Eu realmente gostei da experiencia, e tentei explica-la em palavras da melhor maneira que consegui.

Para quem não sabe, a Natália é a moça que aparece em primeiro plano na primeira foto do post. Recomendo fortemente não contraria-la ;-).

Anônimo disse...

oi Bruno, é a Juliana, sua companheira de bairro e de laptop! Olha o seu blog fazendo amigos aí em cima..! Quanto tiver um tempinho, manda aquelas fotinhos que você muito gentilmente tirou, vou deixar meu email aqui em baixo. Esqueci de checar a consoante que se aplica ao meu computador, mas quais eram mesmo aquelas coisas que eu poderia tirar pra ele ficar mais leve? :)
E outra: é válida uma discussão sobre transgênicos, longe do enfoque espiritual, o assunto merece ser analisado..
tinocojuliana@gmail.com
Um beijo!

Anônimo disse...

Bruno,
Consegui entrar. Sempre acontece isso quando venho no seu blog. Agora dei atualizar e consegui.
Deve ter sido legal ver o taiko.
E a tese?:)))

Anônimo disse...

Agora que eu consegui entrar vou falar tudo: a coisa está preocupante para os palestinos e iraquianos. E o pior disto tudo é que quem é contra os palestinos têm mais um argumento de peso: estão vendo como esta turma é bárbara? Se matam, matam com homens-bomba e etc. Como é que dá para tentar conversar com um povo tão atrasado?
Infelizmente o ocidente não consegue tentar enxergar nada que não seja sua própria maneira de ver o mundo.
Ta aí o Iraque. Foram "ocidentalizar o Iraque" deu no que deu.
Diversidade assusta. E com todo o dinheiro envolvido aí é que fica difícil.
O jeito é criar uma ONG para a biodiversidade da espécie humana. Não de raças, pelo amor de Deus. Mas de culturas e crenças.

Anônimo disse...

Bruno,

Procurei seu email mas não achei aqui no blog. Pode ser incompetência minha. É que estou pensando em passar o reveillon no Rio, você vai estar por aí? Me manda um email?
Antes que eu me esqueça, é gabipenelope@gmail.com.

Beijo,

|3run0 disse...

Paula, a demora em postar uma resposta se deve ao trabalho com a tese, então não é exatamente uma má notícia. ;-)

Acho que o (um) problema nos paises árabes, e na Palestina em particular, é que a cultura política permanece essencialmente tribal, por um lado, ao mesmo tempo uma modernização superficial destruiu os mecanismos tradicionais de consulta e resolução de conflitos.

De certa maneira, a tribalização cria problemas que são intratáveis pelos mecanismos normais do estado de direito, e ao mesmo tempo a modernidade cria tensões com as quais a estrutura social tribal não consegue lidar bem.

No final das contas, o problema não é que tensões etnicas, religiosas ou faccionais surjam, mas sim que não há mecanismos eficientes de resolver ou mediar tais conflitos.

Quanto aos estados nacionais, acho que paises como o Brasil, Argentina, EUA, Austrália, que definem sua identidade de forma mais inclusiva, não devem ter tantos problemas. Mas paises que são palimpsetos de povos sem uma identidade comum inclusiva, como a a Indonesia, o Iraque, o Irã, o Paquistão, Malásia, Nigeria, Sudão, Libano, e em muito menor medida a Espanha e o Reino Unido, podem muito bem se desintegrar. Outros, como Russia, Israel e Irã, tem uma identidade ligada à uma cultura majoritária, mas sofrem pressões demográficas de uma minoria em crescimento.

fmafra disse...

Bruno, taiko realmente é sensacional. Já vi algumas apresentações, e o que eu acho muito doido é a coreografia que rola também, que com certeza ajuda a marcar o rítmo.

Pena que vc nunca jogou Taiko No Tatsujin aqui em SP. Agora tiraram a máquina do fliperama :(