quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Casa do Paco, Cancun
Massa crítica

Como eu não tinha muita ideia do que esperar aqui em Cancun, a minha programação por aqui está tendo um significativo componente aleatório: Vou fazendo/vendo/experimentando o que me aparece pela frente e soa interessante, em geral no contexto da pedalada de 20km entre o hotel onde ocorre o evento (Gran Meliá e FALAN, respectivamente) e a casa do meu simpático host de couchsurfing. A primeira coisa realmente turística que fiz por aqui, além o passeio cênico, foi visitar as ruinas de uma cidade Maia (do período pós-clássico tardio, quase contemporâneo à chegada dos espanhois) em um lugar chamado El Rey, a alguns poucos quilômetros do Gran Melia. Não vou me alongar muito a respeito do sítio, pois pretendo falar sobre os Maias em maior detalhe em um post subsequente; digo somente que, embora situado na zona hoteleira, o lugar não parece atrair muitos turistas, mas está bombando entre as iguanas locais. Estas últimas lagarteeiam as dezenas nas pedras das ruinas, sem muito receio dos humanos ocasionais (juro que algumas parecem querer posar para fotografias...). É uma sensação interessante escalar os restos de um templo maia, sem nenhum outro humano a vista, e encontrar um iguana se esgueirando para dentro de uma vão entre as pedras que leva a sabe-se lá onde...

Antes de voltar para o congresso (que ocorre ao longo de todo o dia até as 21:00, mas com um buraco de 3-5 horas na programação durante a tarde, dependendo de quão interessante é a palestra após os posteres), resolvi dar uma paradinha na praia do Delfines, logo em frente. Parei para comer um quibe e bater um papo com a velhinas quituteiras locais (que se mostraram fascinadas pela minha bicicleta, e tentaram me ensinar algumas frases em maia), e desci para a praia, onde um mar impossivelmente azul me esperava para me fazer esquecer da neurociência, qual um Lethe caribenho (êta!).

Já deitado na canga e lendo um livro, ouvi uma comoção a alguns metros atrás de mim. Eram quatro gordinhos mascarados anunciando os mérito de sua federação de luta livre. Ou pelo menos um deles anunciava, enquanto os demais grunhiam em concordância. Quando perguntados sobre o que gostariam de dizer ao Brasil (me desculpem, mas não consegui pensar em algo mais inteligente para perguntar; me solidarizo neste momento com os reporteres do tapete vermelho do Oscar...), responderam algo do tipo 'peitos, bundas e caipirinha!'. Uma resposta que carece de comentários; mas acrecento que, se algum dia assistir uma suas lutas, torcerei pelo o que usa uma camiseta do Homer Simpson.


Apesar de todo o esforço da natureza, Cancun não é uma cidade particularmente charmosa. O centro da cidade quase poderia ser confundido com uma cidade do interior de São Paulo. A zona hoteleira, situada no entorno de uma lagoa de água salobra separada do mar por uma barra arenosa, lembra em alguns trechos a filha bastarda da Barra da Tijuca com Las begas. É bem cuidada, mas sofre pelo excesso de generalidade. Mas, como a foto ao lado atesta, não falta aos restaurantes temáticos locais o empenho de fazer os visitantes se sentirem bem vindos...

Ontem, ao retornar do encontro, eu tinha planos de ir direto para casa e descansar um pouco. Parei primeiro em um restaurante um tanto turístico, onde apesar das minhas suspeitas, comi muito bem, notadamente um prato maia ('Reyeno Negro') onde peru, almôndegas de porco e um ovo cozidos são acompanhados por um complexo molho negro feito a base de pimentões doces tostados. Na ausência de muitos outros clientes, acabei entabulando conversa em portunhol com meu garçon, o Ubaldo, cujo avô brasileiro (de Copacabana!) havia fugido para o México por razões políticas e acabou abrindo uma padaria em Veracruz.

De qualquer forma, uma hora depois e um pouco mais redondo, continuei pedalando até o final do Boulevard Kukulcan, onde me deparei com um grupo de ciclistas portando vestes reflexivas, megafones e bicicletas de todos os tipos e condições, e acompanhados de um equipe de filmagem.

Era o grupo local do Massa Crítica, a ponto de iniciar uma pedalada noturna. Me agreguei ao pelotão, e eles não poderiam ter me feito sentir mais bem vindo. O meu portunhol se mostrou surpreendentemente efetivo, e acabei a noite em um segundo jantar em um copo sujo local (muito mais em conta!) com alguns deles. Se tudo der certo, amanhã volto a pedalar com eles...

Continue lendo...>>

domingo, 4 de novembro de 2012

Aeroporto de Tucomen, cidade do Panama
Intersticial

Existem poucos lugares mais intersticiais do que o Panamá, que é quase axiomaticamente definido como o local onde o Atlântico e o Pacífico se encontram na marra. O aeroporto local (simpático e coalhado de duty frees) é o hub da Copa Airlines, então fico aqui intersticialmente em conexão no terminal, esperando meu vôo para Cancun. As três horas que estou passando aqui são o bastante para dizer que estou, e não simplesmente passei por, aqui; mas não são o suficiente para sair do aeroporto, conhecer o canal e voltar em tempo hábil. Isto significa que não passarei pela alfândega local ou terei meu passaporte carimbado. Para as autoridades panamenhas, eu não estou no pais deles. Como eu já sai oficialmente do Brasil, mas ainda não entrei no México, do ponto de vista diplomatico eu estou em lugar nenhum.

Continue lendo...>>

Sala de Embarque Aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro
No resort


 Pouco mais de uma semana depois de voltar dos EUA, eis que me encontro novamente a ponto de pegar um avião para o exterior. Desta vez, vou para Cancun, no México. O propósito desta viagem é tentar achar quem ao sul do Rio Grande se interessa por uma abordagem mais matemática da neurociência, tarefa bem mais difícil do que deveria ser. O congresso da vez é o FALAN, o encontro da federação de sociedades latinoamericanas e caribenhas de neurociência, o que significa que gastarei o meu já bastante usado (este ano) portunhol.

Existem poucos destinos com reputação mais turísticas no mundo do que Cancun. Transladado diretamente do aeroporto até um resorts com tudo incluso, de onde emerge somente para ocasionais visitas guiadas, do visitante típico é esperado que relaxe e se deixe envolver pela bolha. A versão pasteurizado do México daí resultante não é muito diferente do que a sua correspondente carioca, que sempre me pareceu bem menos interessante do que a cidade mijada e esburacada, mas fascinante e multifacetada, em que vivo.

A minha intenção é fazer mais ou menos o oposto. Vou fazer couchsurfing com um físico local (que emergiu do eter para me oferecer um lugar para ficar, pois, como ele bem diz, nos físicos temos que nos manter unidos), na própria cidade, e não na zona hoteleira. Levo a minha indefectível bicicleta dobrável, com a qual pretendo precindir de taxis, vans de translado e assemelhados. Vou de ônibus até Chichen Itza, onde pretendo entediar quem estiver por perto discorrendo interminavelmente sobre a civilização Maia.

Em relação a este blog, estou adquirindo o péssimo habito de parar de postar no meio das  viagens. Vamos ver se consigo quebrar esta nefasta tradição aqui. Ainda tenho alguns posts semi-escritos na Espanha e nos EUA que pretendo terminar algum dia; mas tentarei ser mais diligente no México. Embarco em breve, e faço escala no Panama, onde francamente não tenho ideia do que esperar. Não sei se terei tempo de sair do aeroporto, porém.

Continue lendo...>>