sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Hotel Tivoli Oriente, Lisboa
Tauromaquia televisiva

Estou agora assistindo uma tourada portuguesa na televisão. Por mais carnivoro que eu seja, eu não gosto da ideia de torturar um animal até a morte como forma de entretenimento. Mas a tourada portuguesa parece ser um pouco diferente da espanhola. As roupas são menos espalhafatosas, e, evitando o crochê colante em cores berrantes dos espanhois, o toureiro luso se veste como um figurante manuelino em uma versão de ´O Conde de Monte-Cristo´. Ao entrar na arena, a cavalo e anunciado por um corneteiro, ele inicialmente declama algumas amabilidades para um rapariga vestida a carater cuja função exata me escapa, mas que parece ser mais que meramente decorativa. Ele então começa a picar o touro, ainda a cavalo, com bandeirolas coloridas dotadas de um espeto de metal na ponta. E, tenho que dizer, cavalo e cavaleiro são excepcionais. O cavalo anda de frente, de lado, de costas. Trota até o touro e sapateia em sua volta, até que este último, completamente confuso e com um número crecente de bandeirolas fincadas nas costas, parte em fútil perseguição. O toureiro controla as redeas com uma das mãos (a outra segura a bandeirola), enquanto vai produzindo ruidos um tanto guturais na garganta; não sei se para irritar o touro ou orientar o cavalo.

Depois que o touro foi suficientemente espetado, entrou na arena um grupo de homens com uniformes marrom-ocre. Inicialmente não entendi bem o que pretendiam. Eles se aproximavam do touro cuidadosamente, desarmados, mas rapidamente saltavam o alambrado se este demonstrava um pouco mais de entusiasmo. Aos poucos, manobraram o bovino até um extremo da arena, enquanto formavam uma fila indiana no lado diametralmente oposto. O primeiro homem da fila (e mais próximo do touro) sacou e vestiu então um gorro verde que deve ter ganhado em algum estágio na oficina do papai noel, e começou a gritar TOIROTOIRTOTOIROTOIRO. O toiro, vendo finalmente humanos sem instrumentos pontiagudos, capas ou meios de fuga equinos, resolve sem muita dificuldade brincar de boliche humano, e arremete na direção do grupo. O homem do gorro verde então salta *para cima do animal* e agarra os chifres , enquanto seus colegas se empilham a sua volta e um deles segura o rabo. O objetivo, parece, é imobilizar o touro usando somente a força humana e doses maciças de insensatez. Ao contrário dos toureiros, que são profissionais, estes grupos de agarra-bois são amadores. O primeiro que assisti precisou de quatro tentativas para imobilizar o bicho. A cada tentativa, o homem do gorro era jogado ao solo, e ia ficando mais estropiado e com a roupa mais amassada. Eventualmente, já sangrando profusmente, conseguiu de alguma forma se manter estatelado sobre a testa do touro por tempo suficiente para que seus colegas o imobilizassem. Por mais maluco que seja este passatempo, pelo menos o únicos que podem se machucar são aqueles que escolheram correr o risco, e não o pobre touro que não tem a menor ideia do que está acontecendo.

No final das contas, os touros foram picados, agarrados e imobilizados, mas não mortos (pelo menos não em frente às cameras; se viraram churrasco depois eu não posso dizer). Não sei se esta é uma peculiaridade de todas as touradas portuguesas, mas isto certamente tornou esta tourada que acabou mais facil de assistir que as açouguices dos espanhois.

PS: O último toureiro espetou duas bandeirolas simultneamente no touro, um com cada mão, enquanto controlava o cavalo com o joelhos. Impressionante.

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