terça-feira, 29 de junho de 2010

Hampton Inn, Silver Spring
Caçador de talentos



A conferencia foi mais tranquila nos seus últimos dias, mas as palestras continuaram bastante interessantes, em geral. Algumas, porém, eram pouco mais do que sopa de letrinha anatômica para alguem com o meu treinamento.

Na noite de domingo, fomos em bando multi-nacional na Chinatown local. Eu encontrei um simpático restaurante estilo 'buraco na parede'*, especializado em massa feita na hora. Depois alguns de nos (eu, a Suzana, a Mari do laboratório e a Madison, uma estudante de biologia local) fomos andando até o memorial do Lincoln.

Segunda foi um dia mais parado. Andei de bicicleta, peguei uma chuva brava, e por causa disto acabei perdendo a excursão pelos bastidores do Smithsonian de história natural. De noite, combinei de me encontrar com um dos caras que me hospedou aqui a dois anos atrás. Fui de bicicleta até a cidade. Enquanto esperava por ele em Dupont Circle, uma percussionista local tocava brilhantemente uma bateria improvisada com barris de plástico, latas de lixo e um carrinho de supermercado. Acabei comentando com ele que ele deveria vir para o Brasil tocar. "Breziw? Where the hell is that??" - ele me respondeu. Após os esclarecimentos geográicos devidos, ele aparentemente gostou da ideia. Me pediu para vigiar sua bateria, enquanto comprava uma cerveja. E eu fiquei lá sentado, com um livro e bloquinho de anotações no colo (estava terminando algumas contas), quando após uns cinco minutos o percussionista volta, um pouco tímido, e vem conversar comigo sobre o que ele precisava fazer para se apresentar no Brasil. Imagino que, para ele, um cara randômico sugerindo turnês internacionais extemporâneas e tomando notas só poderia ser um caçador de talentos. Pois bem, se alguem souber de alguma oportunidade para um baterista urbano talentoso, no Brasil ou no exterior, eu sugiro que veja o video abaixo. Não tenho telefone para contato, mas é só esperar o final da tarde na frente do Krispy Kreme em Dupont circle que ele aparece.

Só para terminar: O meu amigo chegou, e após alguns hamburgueres e uma discursão amigavel (sem sarcasmo) com alguns argentinos de passagem sobre as perpectivas respectivas na copa do mundo, fomos fazer uma bicicletada noturna por Georgetown.

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* Chinatown Express, 746 6th Streeet, NW, Washington DC 20001, tel: (202)638-0424

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domingo, 27 de junho de 2010

Radiology Building, Walter Reed AMC, Washington
Observações e comentários

Estou em uma conferência interessante. Ontem um professor sul-africano demonstrou (de forma amplamente ilustrada) como extrair o cérebro de um elefante usando uma serra elétrica. O tecido é fixado por 200 litros de formol bombeados através de uma carótida com o diâmetro de uma mangueira de jardim, e retirado de uma caixa craniana cuja espessura chega a 15cm em certos pontos. Segundo o meu intrépido colega, a carne do elefante não é particularmente apetitosa; mas a tromba é reservada ao lider tribal local.

Hoje vimos diversos vídeos onde um cientista italiano faz caretas para um macaquinho, enquanto eletrodos registram a atividade de um dos neurônios-espelho deste último. E pensar que o cara é pago por isso (e eu sou pago para assistir!)...

Neste momento, dois professores estão praticamente se estapeando devido à discordancias a respeito da natureza e estrutura do Tálamo. Eu não exagero; eles obviamente se odeiam, e este não é o seu primeiro confronto. "Já que você se considera uma histoquímico melhor do que eu, deveriamos talvez trocar experiências educacionais" - "Sim, eu sou um melhor histoquímico que você!" - "Está a seu critério resolver esta controvérsia. Eu desafio você a visitar o meu laboratório e ver como fazemos as coisas por lá" - "Eu não tenho tempo de refutar todos os seus pontos, mas se você vier ao meu laboratório talvez eu posa lhe ensinar algo sobre o tálamo"

O encontro ocorre no interior do principal complexo médico do exército americano. Do ponto de vista prático, este fato tem duas consequencias principais: Em primeiro lugar, os participantes do congresso são completamente dependentes das vans que vão e vêm do hotel quando o encontro começa e termina; ou melhor, aqueles participantes que não compraram uma bicicleta dobrável são completamente dependentes das vans. Além disso, o almoço se dá no refeitório do hospital aqui ao lado. A perpectiva de viver da comida de hospital(1) do exército(2) americano(3) não é exatamente tentadora, mas até agora tenho sobrevivido, com a ajuda generosa dos numerosos coffee breaks.

Para terminar, uma lista comparando alguns alimentos cotidianos nos EUA e no Brasil:

Coisas que são mais gostosas nos EUA que no Brasil

  • Leite industrializado
  • Manteiga
  • Cheesecake
  • Cereal matinal
  • Peito de peru (surpreendentemente suculento)

Coisas que são menos gostosas nos EUA que no Brasil
  • Café (argh! Quanto menos for dito sobre o café daqui, melhor)
  • Coca Cola (adoçada com xarope de milho)
  • Vegetais (com a consistencia de papelão)
  • Purê de batata (sem gosto, com a consistência de cimento)
  • Salada de frutas

Uma última observação: A quantidade de lixo descartado a cada refeiçao por aqui é assustadora. Entre pratos, talheres e copos de plástico; embalagens de alimentos, pacotes de codimentos e guardanapos, é uma pilha que vai para a lixeira todo dia.

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sábado, 26 de junho de 2010

Hampton Inn, Silver Spring
Elemento suspeito portando uma bicicleta

Existe todo um espectro para guardas de segurança, que vai do vigiliante do shopping assistindo seu futebol na TV portatil e deixando a vida passar ao seu redor, até seguranças de comboios no Iraque que atiravam primeiro (contra qualquer movimento considerado suspeito) e não perguntavam depois. O parâmetro que diferencia uns dos outros é o quanto que eles consideram que sua vida é da conta deles.

Os seguranças do Instituto de Patologia das forças armadas americanas* certamente achavam que a minha vida era muito da conta deles. Me interpelaram assim que entrei inadvertidamente pela porta automática (que recebe soldados mortos no Afeghanistão e Iraque, por exemplo) a procura do tal congresso. A minha incapacidade de desaparecer de imediato quando me disseram que eu deveria sumir dalí só aumentava o nervosismo. Creio que a indagação a respeito 'do congresso de neurociência', dita em um sotaque não identificado por um maluco empurrando uma incongruente bicicleta soou para eles como 'vou estourar os seus miolos com estes pneus cheios de C4!' ou algo assim. De alguma forma, consegui aos poucos acalmar os ânimos, repetindo a explicação e mencionando que o evento deveria ocorrer no museu. 'Aaaa, não é aqui, é descendo a escada' - me disseram. Ficou tudo por isso mesmo, e achei o congresso sem maiores contratempos. Mas segundo a Priscila (que também foi para lá por engano, embora sem uma bicicleta e em circumstâncias menos suspeitas), eles mencionaram que um maluco com bicicleta havia aparecido lá dentro mais cedo, e eles estavam quase a ponto de sacar as armas. Quando não são folhas de bananeira, é uma bicicleta...

A dita cuja é uma Dahon D7, dobrável, dando prosseguimento ao plano que esbocei ontem. Eu havia selecionado algumas lojas próximas à Foggy Bottom, e resolvi passar por elas a pé para cotar as bicicletas disponíveis. Não encontrei nada pagável na margem leste do Potomac. Atravessei então uma ponte, passando por cima da Roosevelt island, e cheguei na ciclovia do lado Oeste (em Arlington, a cidade satélite de DC onde fica o famoso cemiterio). O problema é que, se de um lado havia um rio de água, do outro havia uma enxurrada de carros, sem sinal ou faixa de pedestres, e logo além, um muro de contenção de pedra que desencorajava quaisquer tentativas de dar uma de frogger

O senhor para o qual perguntei onde havia uma saida que eu poderia tomar não parecia muito familiarizado com o conceito de 'pedestre', e eventualmente sugeriu que eu usasse um carro. Felizmente, depois de andar um pouco consegui achar um elevado conveniente, adaptado para quem não é dotado de rodas. Chegando na rua certa e andando mais alguns quilometros, (uma possibilidade real em cidades onde a numeração das ruas extremamente retas vai, quase sem indicação, até os altos milhares), finalmente achei a loja de bicicletas que procurava.

Para resumir, porque preciso dormir com alguma urgência, vim de bicicleta de Arlington, Virginia, até Silver Spring, em Maryland, cruzando o Distrito de Columbia no processo. Posso dizer que foi um passeio por três estados. Minhas pernas doem.

De qualquer forma, se não chover, pretendo quase ignorar a existência do metrô durante estes dias. Washington é uma cidade bem adaptada para bicicletas.


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* Dentro do complexo Walter Reed, e anexo ao museu de medicina onde ocorre o meu encontro

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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sala de embarque, aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro em trânsito ou no trânsito

Estou embarcando hoje para Washington; passo uma semana lá em um congresso de neurocoisas, e depois vou direito para Amsterdam (para outro congresso). Em Washington, a organização vai me pagar a hospedagem, então pela primeira vez desde a Argentina (e, antes disso, sei lá quando), vou ficar em um hotel em uma viagem internacional.

A minha escolja de transporte urbano, por outro lado, continua um tanto inortodoxa. Pretendo comprar uma bicicleta dobrável em Washington*; embaraca-la para Amsterdam, usáa-la por lá, e traze-la de volta para o Rio, para ser o meu meio de transporte dedicado entre a biologia e a física na UFRJ.

A razão pela qual estou teclando isto é que o vôo está atrasado. Está atrasado porque a tripulação ficou presa no transito infernal da linha vermelha. Estão na altura do fundão, segundo me informaram. Para ver que isto não acontece só comigo...

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* O encontro será no museu nacional de patologia clínica, em uma ´cidade satélite´ de Washington chamada Silver Spring; as ciclovias e parques abundam por lá.

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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Casa, Rio de Janeiro
Castando a lei de Maxwell-Ampere

Uma definição usável de magia é o conhecimento e manipulação das conexões ocultas que existem na natureza. A premissa fundamental é a existência de uma realidade subjacente, normalmente oculta aos sentidos, que liga objetos e entidades díspares e separadas pelo tempo e espaço*.

Acho que não é dificil adivinhar aonde eu quero chegar. A ciência se enquadra perfeitamente nesta descrição. A diferença, obviamente, entre cientistas e aqueles que acreditam que Harry Potter é um documentário, é que os primeiros aplicam um método sistemático para procurar determinar quais conexões em potencial existem de fato ou são espúrias com base em observações empíricas reproduzíveis, enquanto os segundos criam regras essencialmente arbitrárias e tentam encaixar o mundo em suas espectativas. Mas esta distinção era bastante menos nítida em tempo pré-modernos, e de fato as duas, digamos, tradições, tem origem comum. Um babilônio ou um tupi não teriam qualquer hesitação em chamar a ciência de magia; uma magia singularmente poderosa, poderiam adicionar.

Fonte: neatorama, h/t Gabi


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* Tradicionalmente, as conexões mágicas se encaixam em três categorias: Contagio (i.e., estabelecida pelo contato ou proximidade por algum tempo: um vez juntos, sempre juntos), simpatia (estabelecida pela semelhança: o que parece igual é, no fundo, a mesma coisa. Como os eletrons do Feynman e do Wheeler), e nomes (a coisa e o nome da coisa são a mesma coisa). Note que o clichê usual de um vudu inclui todas as categorias. E se você disser 'Beetlejuice' (ou o nome da Loura do Bonfim) para o espelho 3 vezes eles aparecem...

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quarta-feira, 2 de junho de 2010

NACO, Rio de Janeiro
Aforismo do dia

"Fatos são infinitamente maleáveis, mas verdades são invariantes topológicos"


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