sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ap. do Gary, Philladelphia
Passando frio em Valley Forge


Philladelphia (Philly para os íntimos) fica a meio caminho entre Washington e Nova York. É uma cidade histórica (para os padrões deste hemisfério) bastante simpática, que decidi visitar no meu caminho de volta. Fico aqui somente um dia, couchsurfing na casa de um abnegado neurocientista local.

A uns 35km de distância, em 1777-78 no chamado Valley Forge, George Washington acampou com seu exército durante um inverno particularmente rigoroso. Um décimo de seus soldados morreu, de doenças várias, gangrena e fatiga. Atualmente, existe uma trilha de bicicleta que vai de Philly até Valley Forge, margeando um rio de nome impronunciável (o Schuylkill). Em julho, bicicletei de Paris até Versailles; resolvi repetir o programa por aqui. Mal sabia eu que minha experiência em Valley Forge seria muito mais historicamente fidedigna que eu esperava.

Saí de Philly sem grandes problemas. Como eu disse, é uma cidade bastante agradável.


A trilha é variada, e é interrompida em alguns lugares. Obviamente, se tratando de um dos meus passeios, fiquei perdido; epicamente perdido às vezes. Logo no começo, saí por uma tangente da ciclovia, e comecei a subir uma colina. Lugar peculiar para uma trilha que margeia um rio, pensei. Comecei a passar por algumas casas conjugadas bastante dilapidadas, em um bairro habitado principalmente por negros, que parece ter sido particularmente atingido pela crise econômica (várias casas estavam a venda ou abandonadas). Com medo de acabar em Delaware, e certo de que havia perdido a trilha, fui perguntando pela 'bike trail' e por 'Valley Forge' para os um tanto incrédulos locais. Seguindo indicações (os incrédulos locais se transformavam rapidamente em simpáticos locais), passei pelo cemitério histórico em Laurel Hill, até achar o rio novamente. Existem várias outras trilhas pela região, que gostaria de explorar um dia.

Uma das trilhas passa em baixo desta ponte

Finalmente, cheguei na famosa cidade de Maynayunk, onde a trilha efetivamente começa (coincidentemente, mais tarde fui jantar com o Alexandre e a Flávia, e eles me levaram para um restaurante literalmente ao lado da entrada para a trilha).


A partir deste ponto, a trilha segue primeiro ao longo de um antigo towpath (usados para puxar balsas canal acima), e em seguida entre o Schuylkill e a ferrovia que tornou o tal towpath obsoleto. Ela é ladeada por árvores, agora totalmente desfolhadas: Um efeito que acho ao mesmo tempo muito bonito e um tanto sinistro.


Falando em sinistro, passei ao lado de algumas casas em ruínas perdidas dentro do mato. Esta é uma das regiões mais antigas dos EUA, mas a área específica onde eu estava nunca foi densamente ocupada, então é possível encontrar, se procurarmos com cuidado, aquele sutil palimpseto de evidência quase esquecida de ocupação humana (?) ao longo dos séculos. < .Lovecraftian prose> Que horrores antedeluvianos se escondem por sob as ruínas esquecidas da Pensylvannia? O que tramam as insanidades rastejantes que se banqueteiam dos putrescentes restos de seus antigos habitantes? < \ Lovecraftian prose >

Yä Yä Shubb Niggurath, dizia o grafite

The Manayunk Witch Project

Casas abandonadas não eram a única atração, porém. Uma região habitada a tanto tempo geralmente tem vários e pitorescos cemitérios.

Notem o nome na sepultura. Começou a nevar pouco depois que tirei esta foto

Após umas 5 milhas, as redondezas da trilha começam a ficar mais habitadas. Entrei no que provavelmente seria chamado de Middle America, com casas de madeira de dois andares, bandeiras americanas penduradas, e decoração de thanksgiving. Mas, exceto por alguns fanáticos fazendo cooper, não havia ninguém nas ruas. Mais a frente, parei na peculiarmente nomeada cidade de Conshohocken, onde comi uma pizza bastante decente (em bar/restaurante chamado Pepperoncini, cuja simpática garçonete Lauren mantém um site sobre bambolês nas horas vagas; talvez devido aos imigrantes italianos, a pizza em Philly costuma ser de massa fina).

Entrei em seguida no maravilhoso mundo do subúrbio, a lá Desperate Housewives. Ao longe, via grandes casas, SUVs, jardins gramados e alamedas; mas a trilha passava ao lado daquelas enormes lojas (supermercados, coisas para a casa, livros), acessíveis somente de carro (não era estritamente no meu caminho, mas eu fiquei perdido novamente). Voltei para o rio, e as lojas deram lugar a garagens de caminhões e industria leve, e muito mato.

Muito mato

Mais mato

Um pouco além, já estava em uma zona quase rural. Agora nevava bastante; eu estava atrasado, e ameaçava escurecer; mas ia chegar em Valley Forge ou morrer tentando (a cova estava até pronta, aparentemente). As últimas 5 milhas foram pura agonia, com vento, neve, as pernas doendo, um frio de rachar e a neve lentamente derretendo e molhando minha roupa. Cheguei em Valley Forge com o Sol se pondo. O parque realmente é bonito, mas não há nada de particularmente notável no museu. Mas sinceramente, este é um daqueles casos onde a viagem vale a pena pelo caminho muito mais que pelo destino.

Valley Forge: George Washington acampou aqui

Valley Forge: George Washington cortou uma cerejeira com esta espada. Ou algo assim.


Passei rapidaemente pelo museu, comprei uma camiseta (que não diz, mas devia dizer 'I rode to Valley Forge in nut-freezing weather and all I got was this lousy T-shirt'). Já estava escuro quando saí de lá (eles estavam fechando, de qualquer maneira). Felizmente um dos atendentes do museu também estava de bicicleta, e tive companhia para voltar até uma área razoavelmente iluminada.

Valley Forge: Frio em 1778, frio em 2008

Não precisei fazer o caminho todo de volta; a cerca de 4 milhas de VF há uma estação de trem; voltei para Philly e pedalei até a casa do Gary (não sem antes confundir sua rua com a paralela, e tentar por alugns minutos abrir a porta de uma casa quase idêntica com o mesmo número; felizmente ninguém chamou a polícia). Mais tarde, com as pernas bambas, fui jantar com o Alexandre e a (extremamente grávida) Flávia. Uma maneira muito bacana de terminar a noite. Amanhã volto para o Brasil, se conseguir pegar o ônibus para NY, passar no Ap do Alex para pegar o PS3 do meu irmão, e chegar no JFK a tempo. Isso sim é viver perigosamente.

Cedar avenue: Where the scientists roam

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terça-feira, 18 de novembro de 2008

Washington Convention Center, Washington
Jabuticaba e Angu

Bambu no café, bambu no almoço, bambu no jantar

Comi Jabuticaba aqui em Washington. Jabuticaba e angu. Aaa, e fui no zoológico também.

O zoológico daqui é muito bem bolado. As jaulas ficam bem integradas no ambiente; e tanto em tamanho como em aparência, não têm aquele ar de Lyubyanka para animais (a lá George Orwell), típico de muitos zoológicos brasileiros. Foi interessante ver as elefantas sendo exercitadas, os pandas na sua coceba comedora de bambu habitual, e os polvos sendo alimentados. Alias, a ala de invertebrados provavelmente é a mais interessante; tive conversas bastante interessantes com os tratadores destes últimos.

Exercício


Fearful simmetry


O Polvo, unido

Perto da saida, existe uma exposição sobre a 'rainforest', com um tanque com pirarucús, pacus e bagres, e uma estufa com uma micro-floresta tropical (que, devo dizer, me parece mais a floresta da tijuca que a amazônia), com aves, macacos, e... uma Jabuticabeira! Com um pouco de incentivo, uma delas acidentalmente caiu da árvore; tive que come-la para não desperdiçar. Não sei como conseguiram fazer uma jabuticabeira crescer por aqui, mas tive que passar pelo keepers responsáveis para dar os parabéns. Parece que a dita cuja tem alguns anos de idade, e este é o primeiro ano que ela deu frutos.

Pirarucús...

... e jabuticabas.

Voltei andando margeando um riacho chamado Rock Creek, onde antes existia um ceminterio usado pelos negros da cidade. Até o começo do seculo XX a área em volta era um tanto erma, até que foi construida uma ponte caríssima, na época chamada de 'million dollar bridge', sobre o rio. Subi até a ponte, peguei o metrô, e voltei para o congresso.

Million-dollar bridge sobre Rock Creek

As apresentações hoje foram mais interessantes do que ontem, e incluiram uma alemã falando de ratos mutantes com comportamento sexual invertido (i.e., machos e femeas com papeis trocados). Mas ainda sofro com a sopa de letrinhas, principalmente quando o assunto toca a bioquímica. Após um 'social' meio choco, fui me encontrar com o meu novo host, um americano que fala portugues fluente. Fomos jantar em um restaurante meio indefínível, com um serviço bastante simpático. Comi o que dizem ser um prato tradicional de Washington, a tal Crab Cake. Ela veio acompanhada de um angú de milho branco (do tipo que usamos para fazer canjica). Muito bom... Apesar de ter comido várias refeições mediocres aqui nos EUA, mais que ocasionalmente a culinária e produtos locais têm me surpreendido positivamente.

Para terminar, e falando em Lyubyanka, a visita noturna ao Spy Museum foi interessante; mas o museu é pop demais para o meu gosto, embora algumas das exposições interativas sejam bastante interessantes. Infelizmente, fotografias não são permitidas; no lobby de entrada existe, pendurada em um guincho, uma estátua do Felix Dzerzhinsky, o fundador da KGB (então chamada de Cheka). A original ficava na frente da sede da KGB, na tal praça Lyubyanka. Depois que a União Sovietica foi para o saco, foi a primeira estátua a ser derrubada em Moscou.

Hang in there Felix

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domingo, 16 de novembro de 2008

Hotel Grand Hyatt, Washington
AC em DC

WiFi é abundante em DC; mas demorei para achar algum lugar dotado de tomada para recarregar o laptop. O WiFi aqui é a princípio para hospedes; mas felizmente está ocorrendo aqui neste hotel um evento paralelo do Neuroscience; não estou participando de modo algum, mas o meu crachá foi suficiente para filar a conexão e tomada.

Hoje não havia nada de particularmente interessante na conferência de manhã. Então, depois dos últimos dias, decidi dormir. Dez horas depois, o Anthony me deu uma carona até o Smithsonian. A idéia, como sempre, era ficar umas duas horas, ver as coisas mais interessantes, e voltar para a conferência. Porém, a minha relação com espaçonaves, sondas espaciais e caças da 2a guerra é semelhante à que tenho com dinossauros...

Depois de ser enxotado para fora do museu após a hora do fechamento, fui andando até o capitólio. Assim como todo apartamento em Paris tem vista para a torre Eiffel, e os do Rio tem vista para o Cristo, nos filmes o Capitólio sempre aparece para indicar que a ação se passa em DC... E sempre mostram só a cúpula do Capítólio. A razão é simples. A cúpula é elegante e bem proporcionada. O prédio embaixo é um bloco de tijolos sem charme nenhum.

Washington compartilha com Brasilia e outras capitais e cidades planejadas o fato de não ter uma personalidade bem definida. Boa parte dos habitantes não nasceu aqui (são funcionarios do governo ou estudantes), e não há aquele tipo de vizinhança charmosa que surge expontaneamente naturalmente em NY ou São Paulo. Os lugares interessantes existem, mas não uma região onde é possível sair andando a esmo e esbarrando em lugares/coisas/pessoas interessantes.



De qualquer maneira, depois escrevo mais, pq agora vou a uma recepção no 'Spy Museum' (fundado por um cara que saiu da CIA para virar curador), patrocinado por uma empresa fabricante de equipamentos de laboratório...

I come in peace

The eagle had landed... O módulo é real, foi contruido para testes mas nunca usado porque o teste anterior havia obtido sucesso total.

Giant leap and all that. As roupas foram usadas em treinamento, já que as originais ficaram no módulo lunar

O módulo de reentrada. A única parte da apolo (fora, se tudo der certo, os astronautas), que volta para Terra

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Ap. do Anthony, Washington DC
Mall rats

Um relógio, um celular e um taxistas, juntos, não conseguiram me acordar a tempo para pegar meu Amtrak para DC as 5:45. Na correria usual, consegui pegar um 6:45. Gosto muito de viajar de trem, e este era bastante confortável e bem suprido de junk food. Também gostei de encontrar as várias pessoas randômicas que iam e chegavam para/de Baltimore, Philladelphia e vizinhanças. Tomei suco de tomate com dois pescadores do Maine, ouvi as teorias de um paranóico destes que usa chapéu de papel alumínio, e bati altos papos com um marine aposentado nascido no Arkansas, casado com uma filipina, que serviu duas vezes no Vietnã (incluindo Da Nang), foi ferido por uma bala de M-14, e após se recuperar e ser aposentado por invalidez, entrou para a marinha voluntariamente como limpa-minas e voltou ao Vietnã pela 3a vez. O filho dele estava até a poucos meses atrás no Iraque. Casal muito simpático, prometeram mandar email.

Um casal peculiar: São os dois à minha direita. Os outros estavam com eles em uma excursão até DC


Apresentei meu poster hoje. Correu tudo muito bem, e fiquei feliz com o entusiasmo que os biologos demonstraram pelo trabalho. A conferencia é ridiculamente grande, com 30.000 participantes em um centro de convenções monstruoso. Em convenções de física em lugares como Caxambu ou Aguas de Lindoia, é comum ver a cidade a noite tomada por físico em vários estagios etílicos; mas estamos em *Washington*, e eu poderia muito bem ter achado o meu caminho até o evento simplesmente seguindo os nerds carregando tubos pela cidade. Assustador.

Andei pelo Mall hoje a noite (onde ficam os monumentos e o espelho d'água em frente ao obelisco de Washington, terminando no memorial Lincoln onde o Martin Luther King enunciou o seu sonho). Depois posto mais sobre isso, porque agora vou dormir finalmente. In bed at last! In Bed at last! Thank God almighty, we are in bed at last!


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sábado, 15 de novembro de 2008

Ap. do Alex, Nova York
Ferry tales


Hoje tive um dia mais turístico, que incluiu uma visita ao porta aviões Intrepid (um museu flutuante na 46W), Times Square, uma volta noturna no ferry para Staten Island (que recomendo fotemente; é de graça, passa ao lado da estua da liberdade e da ilha de Ellis, e tem uma vista espetacular de Manhattan a noite), andanças e comprar várias pela cidade, uma pizza dividada com um banqueiro do Chase Manhattan, ostras e um um show de jazz entusiasmante, em West Village, comandado por um pastor genuino. Mas estou com muito sono para postar algo inteligível a respeito. São 2:13 da manhã e tenho que estar na Penn Station para pegar o meu trem para Washington as 5. Realmente, sono está se mostrando um luxo que eu não disponho nesta viagem.

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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Ap. do Alex, Nova York
Historia natural



Estou em Nova York desde ontem, e decidi que dormir é algo que só farei quando voltar ao Brasil. Já cheguei transnoitado do Avião, e de passar a noite anterior refazendo minha apresentação devido à uma pane épica na *&#^*^$ do Power Point. Vim direto do aeroporto para a casa do Alex, um amigo-de-uma-amiga (a Mari) de quem consegui chorar uma hospedagem camarada. O cara é gente fina, em um nível igualmente épico. Fomos quase imediatamente ao City College, onde ele é professor, para meu seminário (que acabou ficando bem legal), e almoço logo em seguida. Surpreendentemente, considerando que má fama que tem a comida americana em geral e as cafeterias universitárias em particular, a comida estava excelente. Ficamos batendo papo com um velhinho, professor emérito de engenharia mecânica de ares antedeluvianos, com diversos casos interessantes a respeito da historia do City College. Mais tarde, após dormir algumas horas, fomos jantar em um restaurante Ucraniano. Lugar interessante, com boa comida e duas velhinhas ucranianas simpáticas que provavelmente são na verdade da Guatemala e foram contratadas pelos proprietários para darem uma cor local ao lugar.

Hoje acordei relativamente cedo, com planos de visitar alguns museus. No final das contas, o alguns se tornou um, mas não reclamo. Dei uma volta no Central Park, e entrei no museu de história natural. Em duas horas, pensei, vejo o que houver de mais interessante, e vou para o Metropolitan ou o Moma.

Seis horas depois, eu estava tirando fotos dos ossos pélvicos de dinossauros vários enquanto explicava para duas argentinas como a forma destes tais ossos caracterizam a principal diferença entre os dois grandes grupos de dinossauros. Eu tentava ir embora, mas o museu insidiosamente fazia surgir no meu caminho alas que eu não podia deixar de visitar. Da América pré-colombiana as viagens da Margareth Mead pelo Pacífico, da história da Asia ao efeito estufa, eu ia, qual um viciado, compulsivamente de uma coleção até a outra, me prometendo sempre que seria esta a derradeira.

E, é claro, havia os dinossauros.

Quando eu era criança, decorei os nomes de todos os dinossauros mais interessantes. Lembro deles até hoje. Antes de me decidir pela física (lá pelos 12 anos), pensei seriamente em virar paleontologo. Solto no que é provavelmente a mais completa exposição sobre o assunto no mundo, eu estava igual pinguço em fábrica de cachaça

O Físico e o Triceratops

Obviamente, quase todo mundo acha dinossauros interessantes; mas para mim, é algo muito além da mera curiosidade ver, ao vivo e pela primeira vez, os vários detalhes e sutilezas sobre os quais tenho lido a minha vida inteira.

Ossos pélvicos de um Hadrossauro. O ossos em questão são fundidos, e não articulados, e apontam para trás, caracterizando-o como um orniquistiano. Eram todos herbívoros.


Os ossos pélvicos de um tiranossauros. A articulação com dois ossos intra-articulados apontando cada um para uma direção caracteriza os saurisquitianos, que incluem todos os dinossauros carnívoros (T-rex et al.) e os sauropodes, comedores de planta com caudas e pescoços compridos (e.g., diplodocus, apatossauro).

De volta ao Ap. do Alex (depois de ser praticamente enxotado para fora do museu na hora de fechar), cozinhei com uma amiga dele um jantar, que incluiu tomates recheados com panceta, cogumelo e alho poró, Msakhana e pera ao vinho, acompanhando um cozido de carneiro com damasco e apricó sobre um cuzcus de legumes. Um evento essencialmente igual aos jantares que fazemos aí no Brasil, incluindo a boa companhia, a comilança desmedida, a cozinha como zona de guerra e a ausência de um horario para acabar. Como alguem que veio para NY pela primeira vez para passar somente três dias, talvez eu devesse estar lá fora, visitando diligentemente os cartões postais da cidade. Mas, sinceramente, encontrar gente interessante (da India, Grecia, Suriname e EUA, no caso de hoje) é uma parte da experiência de viajar tão ou mais importante que conhecer lugares interessantes.

Armadura de Kiribati (uma ilha no oceano Pacífico), feita de fibra de coco. Seguno a legenda, funciona surpreendentemente bem. As armão tem pontas formadas por ferrões de arraia.

Vou dormir agora (são 6 da manhã! Caraca!!, amanhã (hoje!) pretendo andar até gastar o sapato. É meu último dia aqui; domingo de manhã parto de trem para Washington.

Camadas sedimentares entre o cretaceo e o triássico (e entre o mesozoico e cenozoico). Uma camada suja de fuligem e rica em irídio separa os dois períodos. Antes, os dinossauros dominavam a Terra. Depois, eram uma lembrança de um terror distante na memoria racial dos mamíferos que afinal tomaram o seu lugar.

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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Voo 8078, 30.000 pés sobre o Atlântico Norte
NY bound


"Entõn, me fálee de súa thesis" - me disse a americana com cara de professora de literatura na entrevista de visto. Tem gente que não tem senso de perigo... Falei, obviamente. A copiosa documentação que havia trazido, justificando minha ida, provando a minha volta e explicando a minha estada, permaneceu inconsulta (exceto para prover um exemplo de como o cilindro, ao contrário do plano, possui caminhos fechados que não podem ser contraidos suavemente em um ponto). Não que eu esteja reclamando da confiança que aparentemente inspiro em agentes de imigração, mas é certamente um pouco anticlimático gastar mais tempo justificando minha entrada no CBPF do que minha viagem aos EUA.


Continuei falando, enquanto me animava com as explicações, e a agente consular me fitava, boquiaberta, com olhar meio antropológico. - "...então a existência de classes não-triviais de caminhos fechados implica, para buscas suficientemente profundas, na existência de um padrão detectável de imagens múltiplas de objetos cósmicos!"



Estou chegando em Nova York, de onde começo hoje uma turnê-relâmpago na costa leste americana do meu trabalho de estudar suco de cérebro. Em particular, vou ao congresso anual da Society for Neuroscience em Washington, e vou dar um seminário sobre nosso trabalho na NYU (e possivelmente outro na Filadelfia). Ao contrário da topologia, a neurociência é mais fácil de explicar (já que cérebros são mais presentes no cotidiano típico que energia escura); por outro lado, não há quem não pergunte o que diabos um cosmólogo está fazendo nesta área. Foi o que tal agente fez, interrompendo uma digressão sobre a radiação cósmica de fundo. Após uma breve explicação, ela então me disse algo genuinamente simpático: "Seja bem vindo! Porrquê demorrow tanto para voltarr?*". O visto ficaria pronto em uma semana.


No computo global, obter um visto nos EUA foi uma experiência tipicamente americana: algo a princípio simples é complicado desnecessariamente, muito além do razoável, e é então encaminhado da forma mais fanaticamente eficiente possível. Passei por seis filas (para entrar no consulado, no raio X, esperando chamarem o meu nome, para tirar as digitais, esperando a entrevista, pagando a taxa de visto B1 e no courier service) e paguei 5 taxas diferentes. E fiz tudo isso em menos de uma hora. Como canetas para astronautas.

PS: Escrevi no avião, mas postei no aeroporto. A TAM ainda não tem WiFi, infelizmente.

UPDATE: Estou na casa do Alex, em Nova York! Já dei meu seminário, e agora vou começar a tirar o atraso das ultimas 36 horas quase sem dormir.


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* Minha última, e até agora única, visita, foi aos 11 anos para ir à Disneyworld)

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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Casa, Rio de Janeiro
Obama lá

Considerado em retrospecto, John McCain era, provavelmente, o melhor candidato concorrendo à presidência dos EUA em 2000. Foi massacrado por uma campanha mentirosa e abertamente racista comandada pelo Karl Rove na primária da Carolina do Sul. Os republicanos, e no final das contas os EUA, ficaram com George W. Bush.

Já se tornou consenso que, em 2008, McCain parecia uma sombra do que outrora fora, oscilando entre obviedades semi-coerentes e a sisuda repetição da ortodoxia republicana. Não atribuo esta mudança à idade, mas sim ao fato de que ele aparentemente concluiu corretamente que jamais conseguiria ser nomeado sem o apoio daqueles que anteriormente havia chamado de 'agentes da intolerância'. Nem tampouco ele teria chances na eleição sem o seu apoio cerrado.

Esta era, na minha opinião, a sua grande fraqueza como candidato. Mesmo se o verdadeiro McCain milagrosamente acordasse de seu repouso heróico na ilha de Avalon e marchasse triunfante até a Casa Branca no dia da posse, pouco poderia fazer em face a um congresso hostil controlado pela oposição, e de um partido republicano igualmente hostil controlado por malucos.

Na derrota, porém, McCain fez muito. O seu discurso admitindo a derrota foi muito além do típico 'Eu congratulo o candidato fulano por sua vitória'. Tais discursos tendem a ser excruciantes de se assistir, onde o candidato, após superar a fase de negação, oscila entre justificativas mambembes de porquê sua derrota eleitoral na verdade é uma vitória moral, e a raiva mal contida pela injustiça de perder um disputa que acreditava que por direito deveria ganhar. Não havia sinal de nada disso no discurso de McCain. Ele admitiu a derrota serenamente, sem enrolações. Após calar algumas vaias estúpidas, ofereceu um generoso e claramente sincero parabéns para seu oponente, e expressou, melhor do que o próprio Obama em seu discurso, o simbolismo desta eleição. Depois de uma campanha decepcionante (considerando-se os candidatos acima da média e a conjuntura para lá de complicada), e ocasionalemente beirando a irracionalidade (sem falar de 8 anos de Bush, acompanhado pelo coro grego das Ann Coulters e Micheal Moores da vida), esta atitude é exatamente o que os EUA precisam.

Eu gosto do Obama, mas não há muito que eu possa escrever sobre ele que já não foi dito e redito. Eu votaria nele, se fosse americano. Admito que, em muitos aspectos, ele ainda é uma incógnita. Mas, ao longo da campanha, ele conseguiu me convencer que tem bom senso suficiente para evitar maiores maluquices no comercio ou no Iraque. Neste aspecto, dou mais crédito aos seus assessores e conselheiros atuais, em geral sensatos e inteligentes, do que a seus antigos associados do tempo de Chicago, muitos dos quais representam a contrapartida esquerdista dos alucinados republicanos. É uma aposta; mas cautela excessiva é trocar a possibilidade de uma morte rápida pela certeza de uma morte lenta. Agora que ele foi eleito, vamos ver no que dá.

Ao contrário da ultima eleição presidencial americana, não passei a noite grudado na internet/televisão vendo os resultados (preferi jogar Shadowrun, que alias nos dá uma perspectiva bastante interessante sobre o tema). Mas do que ví na televisão intermitentemente ligada, de longe a coisa mais bizarra foi o uso de repórteres holográficos pela CNN. A imagem abaixo dispensa maiores comentários; a piada de Star Wars quase se escreve sozinha.

Help me Wolf Blitzer Kenobi, you are my only hope!

PS: Uma boa cobertura eleitoral no blog do Pedro Dória.

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domingo, 2 de novembro de 2008

Casa, Rio de Janeiro
Plataforma eleitoral

É uma vergonha o tempo que fiquei sem postar. De qualquer maneira, a eleição americana é em poucos dias. Vale a pena conhecer os candidatos, seus programas e estilo de governo. No vídeo abaixo, Sarah Palin e Barack Obama apresentam suas propostas para a resolução pacífica de crises internacionais. Note as diferentes maneiras com que os dois abordam os complexos problemas apresentados pela conjuntura mundial


Abaixo, segue também um edificante trecho do debate entre Sarah Palin e Joe Biden. Um debate de idéias, sem ofensas pessoais e apelos vulgares. Um exemplo do certame retórico que ao mesmo tempo define e garante o que há de mais exaltado na democracia.

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